
O surgimento de surtos de var�ola dos macacos tem despertado preocupa��o entre os brasileiros sobre a possibilidade de casos da doen�a serem identificados no pa�s.
At� o momento, j� foram confirmados mais de 100 casos em pelo menos 16 pa�ses fora da �frica.
- Qual a diferen�a da var�ola dos macacos para a humana, erradicada h� 40 anos
- Como se transmite a var�ola dos macacos, que tem 90 casos confirmados em 12 pa�ses
Na Am�rica do Sul, a primeira suspeita foi registrada no domingo (23/5) na Argentina. Segundo o Minist�rio da Sa�de local, o paciente � um morador da prov�ncia de Buenos Aires, que se encontra em um bom estado, est� em isolamento e recebendo tratamento para os sintomas.
O Brasil n�o tem registro da doen�a ainda, mas o v�rus foi identificado em um brasileiro de 26 anos na Alemanha, vindo de Portugal, ap�s passar pela Espanha.
Para epidemiologistas ouvidos pela BBC News Brasil, casos podem ser identificados por aqui em breve.
"A var�ola de macacos pode chegar ao Brasil em pouco tempo", afirma a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Esp�rito Santo (Ufes). "� poss�vel at� mesmo que alguma pessoa infectada j� tenha entrado no pa�s, vinda dos locais onde h� casos."
"Costumamos dizer em epidemiologia de doen�as infecciosas que uma doen�a transmitida por contato e got�culas respirat�rias pode demorar o tempo de um voo para se espalhar", diz.
"Ou seja, se algu�m contaminado desembarca no Brasil, n�o � diagnosticado e n�o faz isolamento em tempo oportuno, a doen�a pode, sim, come�ar a ser transmitida."

O epidemiologista Eliseu Waldman, da Faculdade de Sa�de P�blica da Universidade de S�o Paulo (FSP-USP), concorda com o diagn�stico.
"Mesmo que tenhamos um patamar inferior de interc�mbio de pessoas e viagens ap�s a pandemia de covid-19, a possibilidade desse v�rus chegar ao Brasil � grande", diz.
Por esse motivo, o especialista alerta para a necessidade da identifica��o de casos suspeitos o mais r�pido poss�vel.
"A popula��o e os profissionais de sa�de precisam ser alertados para notificar casos suspeitos. O sintoma mais marcante s�o les�es vesiculares, do tipo que se verifica na catapora, mas muito mais intensas", diz.
Al�m das les�es, os sintomas da var�ola dos macacos incluem febre, dor de cabe�a, dor nas costas ou musculares, inflama��es nos n�dulos linf�ticos, calafrio e exaust�o.
E, nesse processo, pode surgir a coceira, geralmente come�ando no rosto e depois se espalhando por outras partes do corpo, principalmente nas m�os e sola do p�.
No entanto, para o epidemiologista Ant�nio Augusto Moura Silva, professor do Departamento de Sa�de P�blica da Universidade Federal do Maranh�o (UFMA), ainda � cedo para fazer previs�es sobre a extens�o do surto.
"Pode ser que a Europa consiga bloquear a transmiss�o rapidamente, antes que ela chegue ao Brasil", diz.
"Seria muito mais f�cil fazer isso com essa doen�a do que no caso da covid-19, por exemplo, porque � preciso um contato muito mais �ntimo para a transmiss�o no caso da var�ola."

De qualquer maneira, o especialista tamb�m alerta para a necessidade do pa�s estar preparado.
"� altamente recomend�vel ficar em alerta m�ximo de vigil�ncia para que, caso haja identifica��o de caso, o isolamento do paciente possa ser feito o mais r�pido poss�vel", diz.
"Ou seja, fazer o que a sa�de p�blica brasileira j� sabe fazer."
O Minist�rio da Ci�ncia, Tecnologia e Inova��es (MCTI) j� estabeleceu uma comiss�o de car�ter consultivo para acompanhar os casos de var�ola de macacos.
Integram o grupo, at� o momento, sete especialistas brasileiros da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade Feevale.
Os pesquisadores produziram dois informes t�cnicos sobre a doen�a, com as principais formas de cont�gio e as informa��es dispon�veis sobre os casos registrados em outros pa�ses.
'Estamos em estado de alerta'
Ao contr�rio do novo coronav�rus ou at� mesmo da var�ola humana, em que o pat�geno � altamente transmiss�vel, a var�ola dos macacos � menos contagiosa.
"At� onde sabemos, a var�ola de macacos n�o � o tipo de doen�a que se pega de algu�m contaminado no elevador, por exemplo. Diferentemente da covid-19, isso n�o acontece t�o facilmente", explica Silva.
Existem duas vers�es da var�ola dos macacos: uma da �frica Ocidental e outra da �frica Central. Segundo especialistas, a primeira � mais branda e parece ser a que est� causando o surto na Europa.
As autoridades m�dicas observam que ainda n�o h� muita informa��o sobre as poss�veis rotas de transmiss�o entre humanos nos surtos atuais.
At� onde se sabe, o v�rus � transmitido principalmente por meio de contatos pr�ximos e trocas de fluidos corporais. Muitos dos casos na Europa parecem estar ligados � transmiss�o sexual.
Mas todas as vias poss�veis est�o sendo estudadas, como a transmiss�o indireta por meio de objetos contaminados e at� aeross�is.
"Mas a doen�a n�o � sexualmente transmiss�vel. Na rela��o sexual, h� um contato pr�ximo, mas esse � o �nico fator de risco conhecido at� o momento", explica Eliseu Waldman.

O epidemiologista chama a aten��o, por�m, para o fato de que a origem dos casos identificados at� o momento n�o foi esclarecida formalmente.
"A var�ola do macaco � end�mica em v�rios pa�ses da �frica, j� houve v�rias epidemias, principalmente no Congo, na Nig�ria e em outros pa�ses da �frica Ocidental. Fora dali, houve alguns surtos nos Estados Unidos e na Europa, mas a introdu��o do v�rus se deu por meios conhecidos, como viajantes ou animais de laborat�rio da �frica", diz.
"Nesse caso, n�o sabemos ainda com certeza qual foi o introdutor e nem em qual pa�s", afirma. "Mas um novo surto era um evento esperado, porque esse v�rus est� causando epidemias em humanos com cada vez mais frequ�ncia."
O v�rus foi identificado inicialmente em um macaco em cativeiro nos anos 1970, e desde ent�o houve surtos espor�dicos em pa�ses centro e oeste-africanos.
J� houve um surto nos EUA em 2003 - a primeira vez que o v�rus foi visto fora da �frica -, com 81 casos registrados, mas nenhuma morte.
O maior surto j� registrado foi em 2017, na Nig�ria: 172 casos suspeitos.
A epidemiologista Ethel Maciel afirma que ainda que o fato do v�rus estar demonstrado transmiss�o r�pida (embora menor que a de sua vers�o humana ou do coronav�rus) pode indicar que ele esteja se adaptando melhor aos seres humanos.
"Em geral, a var�ola do macaco � o que chamamos de zoonose, uma doen�a que passa de animais para humanos. Mas, com as taxas maiores de transmiss�o de humano para humano, especialmente entre pessoas que n�o estiveram em �reas onde a doen�a � mais comum, � poss�vel que o v�rus tenha se adaptado", diz.
"Se h� um risco de uma grande epidemia ou mesmo uma pandemia? N�s n�o sabemos, mas estamos em estado de alerta."
A OMS realizou na sexta-feira (20/5) uma reuni�o de emerg�ncia para tratar do assunto. Em comunicado, a organiza��o afirmou que o quadro atual � "at�pico, porque (a doen�a) est� ocorrendo em pa�ses onde ela n�o � end�mica", e que vai ajudar os pa�ses afetados no monitoramento dos casos.
Maria van Kerkhove, l�der t�cnica em doen�as e zoonoses emergentes da OMS, afirmou que a propaga��o da var�ola dos macacos � "uma situa��o que pode ser contida", mas alertou que "n�o podemos tirar os olhos da bola".
Vacina��o

A var�ola humana foi a primeira doen�a erradicada da hist�ria h� mais de 40 anos, quando a OMS certificou seu fim em 1980, ap�s uma bem-sucedida campanha de vacina��o global.
Como o v�rus da var�ola do macaco tem rela��o com a var�ola humana, o imunizante contra a var�ola humana tem alta efic�cia, de 85%, contra a segunda vers�o.
Nesse caso, as pessoas com mais de 55 anos que foram vacinadas contra a var�ola humana antes de sua erradica��o podem ter uma imunidade consider�vel contra a var�ola dos macacos.
Alguns pa�ses ainda t�m grandes estoques da vacina, incluindo os Estados Unidos.
No Reino Unido, o secret�rio de Sa�de, Sajid Javid, disse que o pa�s est� estocando vacinas. "Posso confirmar que adquirimos mais doses", disse ele.
Mas vale lembrar que, no Brasil, somente as pessoas nascidas antes de 1979 foram vacinadas.
"Apesar de ela j� estar aprovada, a vacina n�o est� dispon�vel em larga escala no Brasil e n�o sabemos em quanto tempo isso pode acontecer. � uma dificuldade e uma preocupa��o", diz Ethel Maciel.
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