
A descoberta de planetas fora do Sistema Solar – algo que rendeu o Nobel de F�sica deste ano aos cientistas James Peebles, Michel Meyor e Didier Queloz – abriu uma nova perspectiva na busca por vida al�m da Terra. Por�m, para abrig�-la, � preciso uma combina��o de caracter�sticas geoqu�micas at� ent�o n�o detectadas em nenhum outro mundo. Agora, pesquisadores da Universidade da Calif�rnia em Los Angeles (Ucla) afirmam, na revista Science, que exoplanetas com composi��o semelhante � terrestre podem ser bem mais comuns que o imaginado.
Para buscar algo que se pare�a com a vida como se conhece, os cientistas precisam voltar suas aten��es a planetas rochosos, como a Terra. “No Universo, h� uma quantidade enorme deles”, lembra o coautor do artigo Edward Young, professor de geoqu�mica e cosmoqu�mica da Ucla. A avalia��o da composi��o de alguns desses mundos foi poss�vel gra�as a um m�todo desenvolvido por uma aluna da universidade, Alexandra Doyle, que se valeu de fragmentos de rochosos que orbitavam seis estrelas an�s brancas que colidiram com elas em algum momento.
An�s brancas s�o estrelas com massa semelhante � do Sol, embora sejam pouco maiores que a Terra. Esse tipo de “sol” � remanescente de gigantes que explodiram em supernovas e tem um campo gravitacional muito forte, fazendo com que elementos pesados, como carbono, nitrog�nio e oxig�nio, sejam “sugados” para seu interior, impedindo que telesc�pios os detectem. A mais pr�xima da Terra estudada por Alexandra Doyle fica a cerca de 200 anos-luz, e a mais distante, a 665 anos-luz de dist�ncia.
A estudante explica que a maioria dos materiais rochosos no Sistema Solar t�m um alto grau de oxida��o, algo chamado de fugacidade de oxig�nio (fO2), que reflete condi��es dos primeiros est�gios da forma��o protoplanet�ria dos rochosos ao redor do Sol. As propriedades qu�micas e geof�sicas de um planeta, incluindo a composi��o de qualquer atmosfera produzida por ele, s�o influenciadas pelo fen�meno. Ela diz que, quando o ferro � oxidado, ele compartilha seus el�trons com o oxig�nio, formando uma liga��o qu�mica entre eles. A oxida��o � o que se v� quando um metal fica enferrujado.
SINAIS ENTERRADOS
Como, at� agora, n�o � poss�vel analisar a geoqu�mica de exoplanetas – o que dever� ser feito em breve pelo supertelesc�pio James Webber, com lan�amento previsto para 2021 –, a equipe da Ucla se valeu de observa��es com espectr�metro, equipamento que mede a composi��o qu�mica de corpos celestes, das an�s brancas. N�o era nelas que os cientistas estavam interessados, mas, sim, nos remanescentes dos rochosos que se chocaram com elas, deixando as pr�prias propriedades “enterradas” nas estrelas, incluindo elementos pesados, como magn�sio, ferro e oxig�nio. “O oxig�nio rouba el�trons do ferro, produzindo �xido de ferro em vez de ferro. Medimos a quantidade de ferro oxidado nessas rochas que atingem a an� branca”, explica a l�der do estudo.
Os resultados indicaram a composi��o dos exoplanetas – n�o s� das atmosferas, mas dos interiores. Os corpos rochosos que orbitaram as an�s brancas antes de se chocarem contra elas apresentavam fugacidade de oxig�nio alta, semelhante ao que ocorre na Terra, em Marte e em asteroides do Sistema Solar. “Observando essas an�s brancas e os elementos presentes em sua atmosfera, observamos os elementos que est�o nos corpos que orbitam essas estrelas”, diz Alexandra Doyle. “Observar uma an� branca � como fazer uma aut�psia no conte�do do que ela devorou em seu sistema estelar”, compara.
Os dados analisados por Doyle foram coletados por telesc�pios, principalmente do W.M. Observat�rio Keck, no Hava�. “Se eu olhasse apenas para uma estrela an� branca, esperaria ver hidrog�nio e h�lio. Mas, nesses dados, tamb�m vejo outros elementos, como sil�cio, magn�sio, carbono e oxig�nio, materiais que se acumularam nas an�s brancas de corpos que estavam em sua �rbita”, diz.
Desvendar a geoqu�mica de um exoplaneta conta muito sobre ele, observa a professora de ci�ncias planet�rias Hilke Schlichting, coautora do artigo. “Se as rochas extraterrestres t�m uma quantidade semelhante de oxida��o que a Terra, ent�o voc� pode concluir que o planeta tem placas tect�nicas e potencial semelhante para abrigar campos magn�ticos como os da Terra, que se acredita serem os principais ingredientes para a vida”, diz. “Esse estudo d� um salto, ao nos permitir fazer tantas infer�ncias sobre corpos fora do nosso Sistema Solar, e indica que � muito prov�vel que haja realmente an�logos da Terra no Universo.”