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Estado de Minas TECNOLOGIA

Microsc�pios cada vez mais avan�ados

Instrumentos t�m potencial para gerar imagens de alta resolu��o de atividades do corpo humano aparentemente inacess�veis


10/04/2023 04:00

Amanda Gon�alves*
 aparelhos vestíveis que registram atividades da medula em tempo real
(foto: Fotos: Chris Keeney/Salk Institute)

Microsc�pios de fluoresc�ncia inovaram a forma de fazer pesquisa cient�fica: possibilitaram enxergar micro-organismos e part�culas invis�veis a olho nu. At� hoje, eles s�o primordiais para o trabalho de cientistas. E seguem sendo aprimorados. Pesquisadores do Salk Institute, na Calif�rnia, Estados Unidos, desenvolveram dois instrumentos vest�veis capazes de gerar imagens de alta resolu��o, alto contraste e multicoloridas da atividade da medula espinhal. Esse registro detalhado de regi�es antes inacess�veis � feito em tempo real.

Axel Nimmerjahn, respons�vel por liderar a pesquisa, conta que estudos anteriores relacionados � medula espinhal demonstraram que os neur�nios s�o fundamentais no processamento da dor, mas esses trabalhos n�o conseguiram captar o processo em movimento. "As abordagens anteriores n�o tinham resolu��o espacial ou temporal para capturar os padr�es de atividade correspondentes em tempo real", explica.

Segundo o tamb�m diretor do Waitt Advanced Biophotonics Center, os microsc�pios vest�veis podem suprir essa necessidade. "Eles permitem essas medi��es, o que � crucial para uma melhor compreens�o da l�gica celular e do processamento de informa��es dentro da medula espinhal. Al�m disso, permitem registros simult�neos de c�lulas n�o neuronais", detalha.

Os instrumentos vest�veis t�m entre 7 e 14 mil�metros de largura — aproximadamente a largura de um dedo mindinho. Para a montagem deles, os cientistas personalizaram seis microlentes e as inclu�ram em dois min�sculos barris �pticos — parte do microsc�pio por onde a luz atravessa. A equipe tamb�m colocou um cubo de filtro fluorescente no espa�o entre as lentes para captar as imagens de fluoresc�ncia. O resultado atingido foi o esperado.

O maior microsc�pio consegue captar imagens de 12 a 13 vezes maiores de regi�es do tecido nervoso, em rela��o ao que era poss�vel anteriormente. De acordo com Nimmerjahn, esses registros mais detalhados podem ajudar cientistas a entenderem a comunica��o entre a medula espinhal e as percep��es sensoriais: "Eles nos ajudam a compreender melhor como a informa��o sensorial, incluindo sinais de dor, � processada pela medula espinhal."

O cientista lembra que a rela��o entre informa��o sensorial e medula espinhal n�o � apenas uma troca de dados entre o c�rebro e �rg�os perif�ricos, e o novo instrumento ajuda na percep��o desse fen�meno complexo. 

J� o microsc�pio menor pode obter informa��es dessas sensa��es em contextos saud�veis ou de doen�as, como dor cr�nica, coceira, esclerose lateral amiotr�fica (ELA) e esclerose m�ltipla (EM): "Isso nos permite entender melhor como as entradas sensoriais s�o convertidas em sa�das motoras em condi��es normais e de doen�a", explica o pesquisador.

Para testar a nova tecnologia, os pesquisadores implantaram os microsc�pios vest�veis em camundongos machos e f�meas com idades entre 6 e 11 semanas. Os resultados do experimento demonstraram que, ao apertar as caudas das cobaias, os astr�citos — c�lulas do sistema nervoso que sustentam e nutrem os neur�nios — eram ativados e enviavam sinais coordenados pelos segmentos da medula espinhal. 

A partir da alta capacidade de imagem proporcionada pela nova tecnologia, a equipe investiga, agora, como diferentes condi��es de dor inflamat�ria e neurop�tica e doen�as neurodegenerativas alteram a atividade normal de tipos de c�lulas neuronais e n�o neuronais, al�m de quais abordagens terap�uticas poderiam ajudar a controlar essas din�micas anormais. "Nosso objetivo final � identificar melhores estrat�gias de tratamento para as patologias. Primeiro, em camundongos, e, depois, com m�dicos e empresas farmac�uticas para ensaios cl�nicos em humanos", antecipa Nimmerjahn.

Na avalia��o do neurocirurgi�o Luiz Cl�udio Modesto, do Hospital Bras�lia, a nova tecnologia tem potencial para favorecer a visualiza��o e registro da atividade el�trica da medula espinhal: "� um m�todo pelo qual a gente poderia interagir nesses neur�nios, deix�-los especialmente sens�veis para alguns comprimentos de onda e, ent�o, ter uma janelinha de estudo e de intera��o para iluminar o tecido e fazer a c�lula de um tipo ou de outro tipo disparar".

equipe do Salk Institut
A equipe do Salk Institute criou dois aparelhos vest�veis que registram atividades da medula em tempo real

FLUORESC�NCIA 

Al�m de microsc�pios capazes de analisar simultaneamente atividades das c�lulas nervosas, h� avan�os na microscopia quanto � an�lise de prote�nas. Cientistas do Max Planck Institute for Medical, na Alemanha, liderados pelo ganhador do Pr�mio Nobel de F�sica Stefan Hell, desenvolveram uma vers�o aprimorada de um avan�ado microsc�pio de fluoresc�ncia de alta resolu��o criado por eles, o Minflux. O novo instrumento consegue observar, em prote�nas, movimentos e altera��es de forma e tamanho nanom�tricos.

As ferramentas anteriores n�o eram suficientes para explorar movimentos e altera��es desse tipo. A primeira vers�o do microsc�pio, apresentada em 2016, foi usada para rastrear, em c�lulas, prote�nas marcadas com fluoresc�ncia. Entretanto, os movimentos captados eram aleat�rios, e o rastreamento de fluoresc�ncia tinha precis�es da ordem de dezenas de nan�metros.

O diferencial do novo sistema � a capacidade de poder registrar movimentos de prote�nas com uma precis�o espa�o-temporal de at� 1,7 nan�metro por milissegundo. Implementado em um microsc�pio padr�o, o novo Minflux influencia no direcionamento dos feixes de luz que atravessam as lentes para garantir precis�o nanom�trica e localiza��o em tempo real de mol�culas fluorescentes que foram ativadas individualmente.

O objetivo dos pesquisadores do instituto alem�o �, com o microsc�pio aprimorado, rastrear mol�culas fluorescentes individuais. Dessa forma, acreditam, ser� poss�vel estudar altera��es em prote�nas, especificamente a cinesina-1 — prote�na motora com capacidade para converter energia qu�mica (ATP) em locomo��o das c�lulas, considerada uma estrutura-chave para ajudar a entender a causa de atrofias musculares e algumas doen�as renais.

Nova versão do Minflux
Nova vers�o do Minflux, desenvolvido pelo Max Planck Institute Medical, tem precis�o de 1,7 nan�metro por milissegundo


"A nova vers�o do Minflux permite, pela primeira vez, uma resolu��o espacial em microscopia de luz que � da ordem do tamanho de mol�culas biol�gicas (de 1 a 3 nan�metros)", assinala Hell. "Al�m disso, permite ver movimentos pequenos, mas muito r�pidos, de prote�nas e outras biomol�culas nas c�lulas, como as chamadas prote�nas motoras que transportam todo o tipo de carga."

O pesquisador, por�m, indica algumas limita��es do novo instrumento. Uma delas � que, para fazer as imagens detalhadas, ele precisa de mol�culas fluorescentes como marcadores. "Ele n�o captura a imagem das prote�nas e das biomol�culas em si, mas das pequenas mol�culas fluorescentes que s�o anexadas especificamente �s estruturas de interesse de an�lise", observa.

A equipe de cientistas considera que a nova tecnologia poder� contribuir para ampliar o entendimento de como as prote�nas funcionam e para decifrar os processos de origem de determinadas doen�as — informa��es estrat�gicas para a formula��o de tratamentos e interven��es eficazes. "Seremos capazes de medir movimentos mais r�pidos, como a curvatura das prote�nas � medida que se dobram e muitos outros movimentos parecidos de biomol�culas nas c�lulas", aposta Hell.

aparelho com 54 lentes faz frames de diferentes perspectivas
Com 54 lentes, aparelho faz frames de diferentes perspectivas

Captura em 3D

Cientistas da Duke University, nos Estados Unidos, desenvolveram um microsc�pio, chamado Multi Camera Array Microscope (MCAM), composto por dezenas de c�meras que podem capturar imagens tridimensionais em tempo real e com maior velocidade e resolu��o.

A primeira vers�o do instrumento era formada pela jun��o de 24 c�meras de smartphones em uma �nica plataforma, o que garantia a produ��o de imagens em alta resolu��o. A vers�o aprimorada conta com 54 lentes e, al�m de capturar imagens em alta qualidade, faz medi��es em tr�s dimens�es. Para isso, as dezenas de c�meras reunidas capturam frame por frame das amostras ou objetos, incluindo seres vivos, em diferentes perspectivas.
"Os recursos de imagem 3D v�m da redund�ncia de sobreposi��o das c�meras vizinhas que visualizam regi�es sobrepostas de diferentes perspectivas. Isso nos d� acesso a informa��es de altura de maneira semelhante a como os humanos percebem a profundidade com dois olhos", ressalta Roarke Horstmeyer, professor-assistente de engenharia biom�dica na Duke University e l�der do projeto.

De acordo com os criadores, a tecnologia MCAM pode ajudar pesquisadores a observar de forma simult�nea, em v�rios organismos vivos, as intera��es comportamentais macrosc�picas ocorrendo em �reas grandes e irrestritas. "Al�m disso, devido ao alto rendimento de nosso sistema, podemos acelerar a descoberta de medicamentos monitorando v�rios experimentos em paralelo", complementa Horstmeyer.

O pr�ximo passo do projeto � aprimorar o sistema de processamento de dados do microsc�pio, pois alguns minutos de grava��o podem produzir mais de um terabyte de dados. Al�m disso, os cientistas querem incorporar recursos de fluoresc�ncia para evitar poss�veis problemas de an�lise. "Estamos colaborando com v�rios cientistas para entender quais s�o suas necessidades e adaptar nosso sistema a elas", diz Horstmeyer.

* Estagi�ria sob a supervis�o de  Carmen Souza. 


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