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Estado de Minas Eletrossens�veis

As pessoas que se sentem doentes quando est�o perto de celulares e torres de transmiss�o

Com a chegada da tecnologia 5G, cresce a preocupa��o das pessoas que afirmam ter sensibilidade a campos eletromagn�ticos


11/10/2020 19:36 - atualizado 11/10/2020 20:35

Com a incorporação da tecnologia 5G, haverá cada vez mais torres de transmissão(foto: Getty Images)
Com a incorpora��o da tecnologia 5G, haver� cada vez mais torres de transmiss�o (foto: Getty Images)

Cansa�o, dor de cabe�a, tontura, sensa��o de queima��o, espasmos, n�usea e palpita��es. Esses s�o apenas alguns dos sintomas apresentados por quem afirma sofrer de eletrossensibilidade.

Pessoas que se dizem eletrossens�veis - em sua maioria a partir de um autodiagn�stico - afirmam que os campos magn�ticos gerados por telefones celulares, wi-fi e outras tecnologias modernas as est�o deixando gravemente doentes.

Ap�s anos de estudos controlados e duplo-cegos - m�todo cient�fico para evitar que os resultados da pesquisa sejam influenciados pelo efeito placebo ou pelo vi�s do observador -, n�o foi encontrada nenhuma evid�ncia de que os campos eletromagn�ticos causem esses sintomas.

A Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS) afirma que a eletrosensibilidade, tamb�m conhecida como hipersensibilidade eletromagn�tica, n�o � um diagn�stico m�dico.

No entanto, com a chegada da tecnologia 5G, a quinta gera��o de internet m�vel, a preocupa��o das pessoas que se identificam como tal est� crescendo.

Voc� vai conhecer agora a hist�ria de tr�s pessoas consideradas eltrosens�veis que moram no Reino Unido, onde a conex�o 5G j� come�ou a ser difundida pelo pa�s.

'Um liquidificador muito perto da cabe�a'

Velma conta que sofre de eletrosensibilidade h� 15 anos.


Velma diz sentir como se tivesse um liquidificador sacudindo a sua cabeça(foto: BBC)
Velma diz sentir como se tivesse um liquidificador sacudindo a sua cabe�a (foto: BBC)

H� dois anos, deixou sua casa em Londres para viver no campo, numa tentativa de escapar dos sinais das torres de transmiss�o.

Na primeira vez que notou que havia algo errado, ela estava em uma esta��o de trem lotada em Londres.

Come�ou a sentir dor de cabe�a e teve receio que fosse um caso de agorafobia (medo de locais p�blicos ou de multid�es).

Quando contou para outras pessoas, ouviu falar que poderia ser eletrosensibilidade.


Os campos eletromagnéticos gerados por celulares, Wi-Fi e outras tecnologias a deixam doente(foto: BBC)
Os campos eletromagn�ticos gerados por celulares, Wi-Fi e outras tecnologias a deixam doente (foto: BBC)

N�o h� base cient�fica para associar a eletrosensibilidade � exposi��o a campos eletromagn�ticos. Mas os sintomas s�o muito reais e, quaisquer que sejam as causas, a sa�de de quem sofre com eles parece muito abalada.

Velma insiste, no entanto, que s�o os campos eletromagn�ticos gerados por telefones celulares, wi-fi e outras tecnologias que a deixam doente.

"Sinto dores dilacerantes na cabe�a e que param meu cora��o."

Ela tamb�m sente tinido - um zumbido constante nos ouvidos.

"� como ter um liquidificador muito perto da sua cabe�a."


A gaiola de Faraday isola Velma do campo eletromagnético(foto: BBC)
A gaiola de Faraday isola Velma do campo eletromagn�tico (foto: BBC)

No fim das contas, ela decidiu sair da cidade.

A gota d'�gua foram as 13 antenas que come�aram a ser instaladas na igreja do seu bairro, al�m de todos os postes que estavam sendo equipados para o sistema 5G, explica.

"'Chega, vou embora!', disse para mim mesma."

No Reino Unido, h� aproximadamente 35 mil torres de telefonia. Elas podem ser encontradas n�o s� nas igrejas, mas no topo de edif�cios residenciais e de escrit�rios.

A Public Health England, ag�ncia governamental de sa�de p�blica do Reino Unido, afirma ter medido a exposi��o eletromagn�tica e diz que as diretrizes foram atendidas.

Mas, para Velma, isso n�o � suficiente.

"Isso pode te deixar louco. Voc� consegue imaginar como � ter um liquidificador perto da sua cabe�a o tempo todo? � uma tortura."


Por causa das roupas, ela acaba sendo confundida com uma muçulmana, diz(foto: BBC)
Por causa das roupas, ela acaba sendo confundida com uma mu�ulmana, diz (foto: BBC)

Em sua nova casa, no campo, ela dorme no que � conhecido como "gaiola de Faraday", um espa�o fechado - no caso uma esp�cie de barraca - que bloqueia os campos eletromagn�ticos.

"� meu santu�rio e minha pris�o", diz.

Velma tamb�m usa roupas especiais que, segundo ela, a protegem contra os campos eletromagn�ticos.

Trata-se de um gorro "especial" que ela cobre com uma manta, com a qual se protege quando anda de carro. Ela coloca ainda um cachecol em volta do pesco�o, "para cobrir o cora��o".

"Muita gente acha que sou mu�ulmana", acrescenta ela com um sorriso.

Velma garante que � tratada com respeito, embora �s vezes, quando pede para n�o se aproximarem dela com o celular, ouve coisas do tipo: "Nossa, tem uma maluca aqui, uma louca!"

Essa � sua vida "normal", diz ela � BBC.

"Me sinto um pouco sozinha, mas posso fazer o qu�?", se pergunta. "N�o posso voltar para Londres, embora gostaria de fazer o que os outros fazem e n�o ter que dar explica��es para onde vou."

'Apenas cinco minutos por dia nas redes'

Emma se formou na universidade em m�dia social, marketing e moda.


Emma diz que precisará tomar cuidado ao se aproximar das torres de transmissão 5G(foto: BBC)
Emma diz que precisar� tomar cuidado ao se aproximar das torres de transmiss�o 5G (foto: BBC)

Depois disso, passou a atuar no setor, participando da badalada London Fashion Week.

At� que, em 2017, ela come�ou a apresentar sintomas que costumam ser associados � eletrosensibilidade.

"Comecei a ter ins�nia, cansa�o, zumbido nos ouvidos, n�usea, queima��o e espasmos musculares", descreve.

Naquela �poca, ela diz que era muito relutante em aceitar o que estava acontecendo.


Emma programa minuciosamente suas atividades nas redes sociais(foto: BBC)
Emma programa minuciosamente suas atividades nas redes sociais (foto: BBC)

"� muito dif�cil viver assim quando voc� � jovem e sua vida depende da tecnologia. Como era meu caso, antes de ficar doente", diz ela � BBC.

"� algo muito solit�rio, que te deixa muito isolado. Todos os meus amigos t�m contas no Instagram, eles compartilham publica��es, e � assim que se comunicam entre si."

Mas Emma encontrou uma solu��o capaz de limitar, segundo ela, os efeitos do problema.

A primeira coisa � escrever em um caderno tudo o que tem programado para o dia. Por exemplo, quando tem que trabalhar em redes sociais, ela faz de tal forma que s� use o celular cinco minutos por dia.

Ainda assim, quando escreve nas redes sociais, diz que se sente mal. Sente ard�ncia nas m�os e dor de cabe�a. Ela tampouco consegue dormir bem.

"Come�o a sentir zumbido no ouvido."


Emma toma uma variedade de produtos para 'tratar' seus sintomas(foto: BBC)
Emma toma uma variedade de produtos para 'tratar' seus sintomas (foto: BBC)

A Public Health England reconhece que algumas pessoas relatam sintomas de exposi��o a campos eletromagn�ticos gerados por dispositivos de uso di�rio, mas afirma que as evid�ncias cient�ficas n�o respaldam a tese de que tal exposi��o cause sintomas agudos.

Para aqueles que sofrem com o problema, isso significa que n�o recebem aten��o especial do sistema p�blico de sa�de.

Mas Emma diz que encontrou uma cl�nica particular que oferece tratamento para seus sintomas.

Ela toma v�rios produtos para diferentes problemas de sa�de, desde algumas gotas a base de ervas at� um l�quido que cont�m o que ela chama de "o tratamento" para sua eletrosensibilidade. Ela tira o l�quido de um frasco com uma seringa hipod�rmica e aplica sob a l�ngua.

A OMS n�o recomenda nenhum tratamento espec�fico para esses casos: "O tratamento deveria focar nos sintomas e no quadro cl�nico, e n�o nas necessidades percebidas pela pessoa para reduzir ou eliminar as for�as eletromagn�ticas", diz o site da entidade.

Mas, para Emma, a eletrosensibilidade � algo muito real que afeta sua vida como um todo, incluindo seu relacionamento.

"� dif�cil, principalmente na rela��o com meu namorado. Ele chega e diz: 'Vamos assistir a isso no streaming'. Mas eu n�o posso", lamenta.

"Vou ter que tomar cuidado sempre, mas acho que posso levar uma vida normal."

'Se tem Wi-Fi, meu cora��o dispara'

Para algu�m que sofre de eletrosensibilidade, a profiss�o de Dean parece muito peculiar.


Dean teve que convencer os pais a se mudarem com ele para outra casa(foto: BBC)
Dean teve que convencer os pais a se mudarem com ele para outra casa (foto: BBC)

Ele � um eletricista especializado em for�a eletromagn�tica, que � a energia produzida por uma fonte n�o el�trica, justamente aquela que, segundo ele, provoca sintomas adversos nele.

Os clientes o procuram para que v� at� suas casas e os ajude a reduzir a exposi��o a campos eletromagn�ticos.

Ele garante, no entanto, que sua profiss�o o ajudou a lidar com o problema. Ningu�m questiona quando ele come�a a desligar os interruptores.

"Voc� precisa de um eletricista. O eletricista tem que desligar a energia", explica � BBC.


Ser eletricista permite que Dean desligue as fontes eletromagnéticas enquanto trabalha(foto: BBC)
Ser eletricista permite que Dean desligue as fontes eletromagn�ticas enquanto trabalha (foto: BBC)

Isso cria um ambiente de trabalho seguro para ele - algo que funciona muito bem, diz.

A primeira vez que ouviu falar de eletrosensibilidade foi em um hospital privado, onde ele estava fazendo um tratamento para alergia. E foi submetido a v�rios testes e exames.

"Eu podia estar sentado em algum lugar, tranquilo, mas se algu�m estivesse com o telefone ligado ou o wi-fi conectado, meu cora��o disparava", conta.

"Ficava ansioso, tinha problemas intestinais, c�licas muito fortes."

Ele resolveu ent�o pesquisar na internet e comprar medidores de radia��o para usar em casa.


Dean ficou obcecado por medidores de campo eletromagnético(foto: BBC)
Dean ficou obcecado por medidores de campo eletromagn�tico (foto: BBC)

"Quando liguei o medidor, os n�veis de radia��o deram um salto. N�o importava onde eu estivesse na casa, os n�veis eram alt�ssimos."

Os pais n�o entendiam a obsess�o dele pelos medidores, mas Dean estava desesperado para encontrar uma solu��o para sua situa��o.

Ele foi ent�o com o medidor at� a casa da irm�, que mora na zona rural, onde h� poucas torres de telefonia.

"Ela me deixou ficar l� e, em uma semana, j� estava dormindo melhor, me sentindo mais calmo", lembra.

"E em oito meses, era uma pessoa completamente diferente."


A prova: o medidor registra níveis altos de radiação perto do celular de Dean conectado ao Wi-Fi e Bluetooth(foto: BBC)
A prova: o medidor registra n�veis altos de radia��o perto do celular de Dean conectado ao Wi-Fi e Bluetooth (foto: BBC)

Depois disso, Dean se mudou com os pais para outra casa, cujas paredes cobriu com uma tinta � base de carbono que reflete a radia��o.

"Ainda uso meu celular, mas n�o conecto ao bluetooth, 4G ou wi-fi. Est� tudo desativado", afirma.

"S� com isso, desaparecem os sinais produzidos pelo meu telefone."

Para mostrar que diferen�a isso faz, ele liga um dos medidores que indica baixos n�veis de radia��o na sala, mas, assim que conecta o 4G, Bluetooth e os sistemas que a maioria das pessoas tem ativos em seus celulares, o medidor d� um salto.

"Pode n�o parecer normal usar tinta (� base de carbono) e medidores. Mas, no meu caso, � o meu modo de vida", afirma.

As implica��es da tecnologia 5G

Desde 2019, a nova gera��o de internet m�vel 5G come�ou a ser instalada em todo o Reino Unido. � superpotente e veloz.

Em algumas das principais cidades do pa�s, j� est� ativa - e seu alcance ser� ampliado neste ano.

Mas j� aconteceram v�rios protestos contra o lan�amento do 5G.


As grandes cidades estão adotando rapidamente a tecnologia 5G(foto: Getty Images)
As grandes cidades est�o adotando rapidamente a tecnologia 5G (foto: Getty Images)

A Public Health England diz que pode haver um pequeno aumento na exposi��o �s ondas de r�dio quando o 5G estiver dispon�vel, mas que n�o deve haver consequ�ncias para a sa�de p�blica.

Para Velma, ser� um momento decisivo: "Se introduzirem o 5G, terei que ir embora. N�o h� outra alternativa. Tenho esperan�a de melhorar, mas acredito que serei sempre eletrosens�vel."

Dean, por sua vez, mora em uma casa nova com os pais, embora eles ainda n�o entendam por que ele cobriu as paredes com tinta � base de carbono.

"Tenho uma fam�lia muito compreensiva. Minha irm� me abrigou, minha m�e e meu pai se mudaram por minha causa. Mesmo sem entender o que estava acontecendo, eles acreditaram em mim."

J� Emma diz que vai precisar ter muito cuidado ao se aproximar de uma torre de 5G.

"Acho que todos n�s vamos ter que nos proteger, n�o apenas pessoas como eu, que s�o eletrosens�veis".

H� governos que reconhecem os sintomas da exposi��o aos campos eletromagn�ticos ao nosso redor.


Em várias partes do mundo, houve protestos contra o 5G(foto: Getty Images)
Em v�rias partes do mundo, houve protestos contra o 5G (foto: Getty Images)

O governo sueco tem dado ajuda financeira para as pessoas com eletrosensibilidade desde a d�cada de 1990.

Em 2015, um tribunal na Fran�a concedeu uma pens�o por invalidez a uma mulher devido a seus sintomas.

No Reino Unido, h� dois anos, Velma recebeu um benef�cio social, conhecido como PIP, equivalente a uma pens�o por invalidez.

Ela teve que passar pelo calv�rio de renovar a pens�o, mas o benef�cio foi concedido por mais cinco anos, especificamente por ela sofrer de eletrosensibilidade.

"� muito importante que eles reconhe�am. N�o apenas por mim, mas por causa de muitas outras pessoas eletrosens�veis."


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