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Estado de Minas PRIMATAS

Como os primatas se multiplicaram e ganharam o mundo com a ajuda de 'balsas' acidentais

Milh�es de anos atr�s, nossos parentes teriam pegado carona em 'jangadas' de vegeta��o para atravessar os oceanos e assim se espalhar pelo planeta.


10/07/2021 21:45 - atualizado 11/07/2021 18:24

(foto: URS FLUEELER/EYEEM/GETTY IMAGES)
(foto: URS FLUEELER/EYEEM/GETTY IMAGES)
Os humanos evolu�ram na �frica, junto com os chimpanz�s, gorilas e macacos. Mas os primatas em si parecem ter evolu�do em outro lugar — provavelmente na �sia — antes de colonizar a �frica.

Na �poca, h� cerca de 50 milh�es de anos, a �frica era uma ilha isolada do resto do mundo pelo oceano. Ent�o como os primatas chegaram l�?

Uma ponte terrestre � a explica��o �bvia, mas as evid�ncias geol�gicas atualmente refutam essa hip�tese.

Em vez disso, nos resta um cen�rio muito mais improv�vel: os primeiros primatas podem ter feito a travessia de rafting para a �frica, ou seja, boiando por centenas de quil�metros em "balsas" formadas por vegeta��o e detritos no oceano.

Essa dispers�o oce�nica j� foi vista como absurda e altamente especulativa por muitos cientistas.

Alguns ainda defendem a teoria da ponte terrestre, seja contestando as evid�ncias geol�gicas ou argumentando que os ancestrais dos primatas atravessaram para a �frica muito antes do que os registros f�sseis atuais sugerem, antes da separa��o dos continentes.

Mas h� um consenso emergente de que a dispers�o oce�nica � muito mais comum do que se sup�s.

Foi descoberto que plantas, insetos, r�pteis, roedores e primatas colonizam continentes insulares dessa maneira — incluindo a not�vel travessia do Atl�ntico que levou macacos da �frica para a Am�rica do Sul h� 35 milh�es de anos.

Esses eventos s�o incrivelmente raros, mas, dado os enormes espa�os de tempo, eles inevitavelmente influenciam a evolu��o — incluindo nossas pr�prias origens.

Origens dos primatas

Os humanos apareceram no sul da �frica entre 200 mil e 350 mil anos atr�s. Sabemos que viemos da �frica porque nossa diversidade gen�tica � maior l�, e h� muitos f�sseis de humanos primitivos no continente.

Nossos parentes mais pr�ximos, chimpanz�s e gorilas, tamb�m s�o nativos da �frica, assim como babu�nos e macacos.

Mas os parentes vivos mais pr�ximos dos primatas — l�mures-voadores, musaranhos e roedores — todos vivem na �sia ou, no caso dos roedores, evolu�ram l�.

Os f�sseis fornecem evid�ncias um tanto conflitantes, mas tamb�m sugerem que os primatas surgiram fora da �frica.

O parente mais velho dos primatas, o Purgatorius, viveu h� 65 milh�es de anos, logo ap�s o desaparecimento dos dinossauros. � de Montana, nos Estados Unidos.

Os primatas de fato mais antigos tamb�m surgiram fora da �frica.

O Teilhardina, parente de macacos e s�mios, viveu h� 55 milh�es de anos em toda a �sia, Am�rica do Norte e Europa. Os primatas chegaram � �frica mais tarde.

F�sseis semelhantes a l�mures apareceram h� 50 milh�es de anos, e f�sseis semelhantes a macacos, h� cerca de 40 milh�es de anos.

Mas a �frica se separou da Am�rica do Sul e se tornou uma ilha h� 100 milh�es de anos, e s� se conectou com a �sia h� 20 milh�es de anos.

Se os primatas colonizaram a �frica durante os 80 milh�es de anos em que o continente passou isolado, eles precisaram ent�o atravessar o oceano.

(foto: ANUP SHAH/GETTY IMAGES )
(foto: ANUP SHAH/GETTY IMAGES )

Travessias oce�nicas

A ideia de dispers�o oce�nica � central para a teoria da evolu��o. Estudando as Ilhas Gal�pagos, Charles Darwin viu apenas algumas tartarugas, iguanas, cobras e um pequeno mam�fero roedor.

Mais longe no mar, em ilhas como o Taiti, havia apenas pequenos lagartos.

Darwin argumentou que era dif�cil explicar esses padr�es com base no criacionismo — nesse caso, esp�cies semelhantes deveriam existir em todos os lugares —, mas faziam sentido se as esp�cies atravessassem a �gua para colonizar ilhas, com menos esp�cies sobrevivendo para colonizar ilhas mais distantes.

Ele estava certo. Estudos mostram que as tartarugas s�o capazes de sobreviver semanas flutuando sem comida ou �gua — elas provavelmente boiaram at� chegar a Gal�pagos.

E em 1995, iguanas varridas da costa por furac�es foram levadas para 300 km de dist�ncia, com vida, ap�s pegarem carona sobre os destro�os. As iguanas de Gal�pagos provavelmente viajaram dessa maneira.

Tais travessias s�o improv�veis de dar certo. Uma feliz combina��o de condi��es — uma grande jangada de vegeta��o, correntes e ventos certos, uma popula��o vi�vel, um desembarque na hora certa — � necess�ria para uma coloniza��o bem-sucedida.

Muitos animais levados pelo mar simplesmente morrem de sede ou fome antes de chegar �s ilhas. A maioria nunca desembarca em terra firme — desaparece no mar e vira comida de tubar�o. � por isso que as ilhas oce�nicas, especialmente as mais distantes, t�m poucas esp�cies.

O rafting j� foi tratado como uma novidade evolutiva: algo curioso que acontecia em lugares obscuros como Gal�pagos, mas irrelevante para a evolu��o nos continentes.

Mas, desde ent�o, verificou-se que jangadas de vegeta��o ou ilhas flutuantes — grupos de �rvores arrastadas para o mar — podem na verdade explicar muitas distribui��es de animais em todo o mundo.

(foto: PABLO COZZAGLIO/GETTY IMAGES )
(foto: PABLO COZZAGLIO/GETTY IMAGES )

'Rafting'

V�rios raftings de primatas s�o bem estabelecidos. Hoje, Madagascar tem uma fauna diversificada de l�mures. Os l�mures chegaram da �frica h� cerca de 20 milh�es de anos.

Como Madagascar � uma ilha desde a era dos dinossauros, eles aparentemente fizeram rafting no Canal de Mo�ambique, com 400 km de largura.

Curiosamente, os f�sseis sugerem que o estranho aie-aie atravessou para Madagascar separadamente dos outros l�mures.

Ainda mais extraordin�rio � a exist�ncia de macacos na Am�rica do Sul: bugios, macacos-aranha e saguis.

Eles chegaram h� 35 milh�es de anos, novamente da �frica. Tiveram que cruzar o Atl�ntico — que era mais estreito na �poca, mas ainda tinha 1.500 km de largura.

Da Am�rica do Sul, os macacos fizeram rafting novamente: para a Am�rica do Norte, depois duas vezes para o Caribe.

Mas para que isso pudesse acontecer, a dispers�o oce�nica por rafting precisou levar primeiro os primatas para a �frica: uma delas levou o ancestral dos l�mures, e outra transportou o ancestral dos macacos, s�mios e de n�s mesmos.

Pode parecer implaus�vel — e ainda n�o est� totalmente claro de onde eles vieram — mas nenhum outro cen�rio se encaixa nas evid�ncias.

O rafting explica como os roedores colonizaram a �frica, depois a Am�rica do Sul. Provavelmente tamb�m explica como animais do clado Afrotheria, que inclui elefantes e porcos-da-terra, chegaram � �frica.

Os marsupiais, que evolu�am na Am�rica do Norte, possivelmente foram transportados por rafting para a Am�rica do Sul, depois para a Ant�rtida e, finalmente, para a Austr�lia.

Outras travessias oce�nicas incluem a viagem de ratos para a Austr�lia e a jornada de tenreques, mangustos e hipop�tamos para Madagascar.

As travessias oce�nicas n�o s�o uma trama evolutiva secund�ria, s�o centrais para a hist�ria. Elas explicam a evolu��o dos macacos, elefantes, cangurus, roedores, l�mures — e a nossa.

E mostram que a evolu��o nem sempre � impulsionada por processos comuns do dia a dia, mas tamb�m por eventos bizarramente improv�veis.

(foto: ALEXIS ROSENFELD/GETTY IMAGES )
(foto: ALEXIS ROSENFELD/GETTY IMAGES )

Macroevolu��o

Uma das grandes sacadas de Darwin foi a ideia de que eventos cotidianos — pequenas muta��es, preda��o, competi��o — poderiam mudar esp�cies lentamente, com o tempo.

Mas, ao longo de milh�es ou bilh�es de anos, eventos raros, de baixa probabilidade e alto impacto tamb�m acontecem.

Alguns s�o extremamente destrutivos, como impactos de asteroides, erup��es vulc�nicas e eras glaciais — ou v�rus que saltam de hospedeiros.

Mas outros s�o criativos, como duplica��es de genoma, transfer�ncia de genes entre esp�cies multicelulares — e rafting.

O papel que o rafting desempenhou na nossa hist�ria mostra o quanto a evolu��o se resume ao acaso.

Se algo tivesse acontecido de forma diferente — o tempo estivesse ruim, o mar agitado, a jangada chegasse a uma ilha deserta, houvesse predadores famintos � espera na praia, nenhum macho a bordo — a coloniza��o teria fracassado.

Nada de macacos, s�mios — ou humanos.

Parece que nossos ancestrais contrariaram todas as probabilidades, fazendo a Mega-Sena parecer uma aposta segura.

Se tudo tivesse acontecido de maneira diferente, a evolu��o da vida poderia parecer bem diferente. No m�nimo, n�o estar�amos aqui para nos perguntar sobre isso.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

* Nicholas R. Longrich � professor s�nior de Biologia Evolutiva e Paleontologia da Universidade de Bath, no Reino Unido.

Este artigo foi publicado originalmente no site de not�cias acad�micas The Conversation e republicado aqui sob uma licen�a Creative Commons. Leia aqui a vers�o original (em ingl�s).

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