
O impacto do que foi visto na estreia da turn� Clube da esquina “em casa”, no �ltimo dia 16, no Cine-Theatro Central, em Juiz de Fora, s� se amplificou com a homenagem do s�bado passado (23), no programa Altas horas, da Globo. Milton Nascimento cantou e teve sua obra cantada por antigos e novos parceiros – L� Borges, Samuel Rosa e Criolo –, contempor�neos de estrada – Gal Costa e Ney Matogrosso, – e nomes que n�o necessariamente dialogam com sua produ��o – Chit�ozinho & Xoror� e Maria Gad�.
Independentemente de caminhos musicais, o que fica claro � que a m�sica de Milton Nascimento ressoa em todos. E o Clube da esquina (1972), o �lbum duplo coletivo assinado com L� Borges, � o ponto de converg�ncia. A turn�, que tem previstos 17 shows no Brasil at� agosto – mais seis, em junho, na Europa – coloca o p� na estrada a partir de amanh�, em Belo Horizonte.
Com ingressos esgotados para os tr�s dias de apresenta��o no Pal�cio das Artes – quinta (28), s�bado (30) e domingo (31) –, os shows de Milton dever�o ser muito semelhantes ao inaugural, em Juiz de Fora, segundo diz o cantor. Do repert�rio de 26 can��es, 14 delas s�o do Clube 1, cinco do Clube 2 (1978) e o restante tamb�m da produ��o setentista, a fase mais experimental de sua carreira – h� poucas exce��es, caso de Estrelas (1981), de L� e M�rcio Borges, interpretada por Z� Ibarra. O vocalista da banda D�nica � a novidade da turn�, que tem dire��o art�stica de Augusto Nascimento, filho e empres�rio de Milton, e dire��o musical de Wilson Lopes.
M�SICOS
A banda do novo show traz m�sicos que tocaram na turn� anterior, Semente da terra: Wilson Lopes (guitarra e viol�o), Alexandre Ito (baixo), Widor Santiago (metais) e Lincoln Cheib (bateria). O pianista Ademir Fox havia feito shows eventuais com Milton e o percussonista Ronaldo Silva (filho de Robertinho Silva, que trabalhou com Milton por quase 30 anos e gravou, entre outros, o Clube 1), volta agora a tocar com o cantor, 25 anos depois da temporada de Angelus.
No show em Juiz de Fora, Samuel Rosa cantou O trem azul e Paula e Bebeto. “Ter sido chamado me mobilizou emocionalmente, ainda mais para a estreia de uma turn� t�o importante, que joga luz num ponto t�o primordial da carreira do Milton. Foi cat�rtico, um dos principais momentos da minha carreira”, diz o vocalista e guitarrista do Skank.
Para a temporada belo-horizontina, ainda n�o se sabe se haver� participa��o de algum parceiro do Clube. Parte deles, vale dizer, foi lembrada no primeiro show, com men��es a Fernando Brant, L� (a quem a estreia foi dedicada), M�rcio Borges e Ronaldo Bastos
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Milton, sempre com poucas palavras, fala do prazer que este in�cio de temporada est� lhe trazendo. “Nunca tinha me sentido t�o bem logo no come�o de uma turn�. E a estreia foi uma coisa que me deixou muito feliz, pois estava todo mundo ali com o mesmo sentimento.”
ENTREVISTA
Como voc� se sentiu ap�s a estreia da turn� em Juiz de Fora? Haver� mudan�as para a temporada em Belo Horizonte?
Come�ar um show novo nunca � uma coisa t�o simples. Mas confesso que nunca me senti t�o bem num in�cio de turn� como estou me sentindo agora. Todo mundo estava na mesma sintonia, e a coisa funcionou t�o bem que n�o vamos mudar praticamente nada. Outro lance muito importante neste in�cio foi a presen�a do Samuel Rosa no primeiro show. Al�m de ter feito uma participa��o surpresa, ele deu o maior apoio para a gente. O Samuel n�o existe, � um cara muito especial.
H� uma informa��o extraoficial de que a turn� terminar� com um show aberto ao p�blico em Juiz de Fora. Existe mesmo essa ideia?
Olha, confesso que seria muito bacana fazer um show aberto para as pessoas da cidade onde moro. Sabe que a minha chegada a Juiz de Fora trouxe muita felicidade, e eu n�o penso em ir embora t�o cedo. Essa cidade me fez muito bem.
Uma das novidades da turn� � a participa��o do cantor Z� Ibarra, da D�nica. A banda sempre falou da influ�ncia do Clube da Esquina. Isso foi determinante para a escolha?
A hist�ria na verdade � a seguinte: conhe�o a D�nica desde praticamente o come�o. Foi por causa do Tom Veloso, que foi quem me apresentou o resto da banda. Ent�o, teve um dia em que eles me chamaram para ser o padrinho da banda. O que, para mim, foi uma honra, e a partir disso n�s gravamos juntos e sempre que posso vou aos shows deles. Mas a ideia de chamar o Z� Ibarra foi do meu filho, Augusto, que � tamb�m o diretor art�stico deste novo show. E, logo no primeiro ensaio que teve l� em casa com a banda, toda a gente viu que o lance ia dar muito certo.
O Clube da esquina 1 sofreu muito com a censura. Como � voltar a esse repert�rio precisamente no momento em que o Brasil experimenta a amea�a de retrocesso em v�rios setores, inclusive nos direitos humanos?
Olha, a coisa anda t�o esquisita que eu nem sei...
Que lembran�as voc� considera mais importantes durante o processo de confec��o e grava��o do Clube da esquina 1?
Tem uma hist�ria que eu at� contei inteira l� no show em Juiz de Fora, que foi quando percebi que o L� tinha crescido. A gente chegou num bar em BH, e eu pedi uma batida de lim�o para mim e ele pediu outra para ele. E eu achando que ele ainda bebia refrigerante. Sa�mos dali, encontramos Marcinho e fizemos Clube da esquina 1. Foi m�gico.
Gostaria que voc� falasse sobre Primeiro de maio (1977), can��o em parceria com Chico Buarque que n�o est� no show, mas que remete � reorganiza��o do movimento sindical no ABC paulista, na �poca sob a dire��o do ent�o jovem sindicalista Lula. Acredita que ainda h� como recuperar o Brasil daquela �poca?
Sempre tive vontade de fazer alguma coisa com o Chico, mas, por conta desse neg�cio de agenda e tal, nunca deu muito certo. E a coisa s� foi acontecer mesmo por causa da Marieta Severo, que foi quem aproximou Chico e eu. A� apareceram nossas primeiras can��es, Cio da terra e Primeiro de Maio. Mas, para ser sincero, tem uma coisa a�, esse lance que voc� falou de remeter “� reorganiza��o do movimento sindical no ABC paulista”, n�o sei se foi bem dessa forma. Eu me lembro de que a parceria entre n�s foi bem natural. Al�m disso, n�s ter�amos tamb�m que ouvir o Chico, que � o autor da letra, n�?
AO VIVO
Confira o repert�rio do show
>> Tudo o que voc� podia ser
>> Nada ser� como antes
>> Clube da esquina 1
>> Cais
>> Nascente
>> Mist�rios
>> Cravo e canela
>> Casamiento de negros
>> Um girassol da cor do seu cabelo
>> Os povos
>> Dos cruces
>> Para Lennon e McCartney
>> San Vicente
>> Estrelas
>> Clube da esquina 2
>> Nuvem cigana
>> Lilia
>> Paix�o e f�
>> Um gosto de sol
>> Paisagem da janela
>> Maria, Maria
>> O que foi feito dever�
>> O trem azul
>> Francisco
>> Ponta de Areia
>> Paula e Bebeto
MILTON NASCIMENTO – TURN� CLUBE DA ESQUINA
Shows quinta (28) e s�bado (30), �s 21h, e domingo (31), �s 19h, no Pal�cio das Artes, Avenida Afonso Pena, 1.537, Centro, (31) 3236-7400. Ingressos esgotados.
