
Os est�dios Bemol e Ac�stico, a boate do PIC, a Casa Cultural Matriz, um casar�o no Mangabeiras, uma resid�ncia na Serra, um s�tio em Rio Acima e a TV Alterosa. Todos esses lugares de Belo Horizonte e regi�o metropolitana se transformaram em cen�rios de Hit parade, s�rie escrita pelo jornalista e roteirista Andr� Barcinski e produzida pelo Canal Brasil, em parceria com a empresa paulista Kuarup. Autor de Pav�es misteriosos, livro sobre a explos�o da m�sica pop entre 1974 e 1983, Barcinski foca a trama nesse universo.
As filmagens come�aram no fim de julho e v�o at� o final deste m�s. “Trazer um trabalho grande como esse para a nossa cidade � um est�mulo, um fomento e um respiro, ainda mais num ano sem muitas expectativas para o audiovisual brasileiro”, diz a produtora-executiva Marcella Jacques.
Com carta branca para selecionar os profissionais, Marcella privilegiou gente daqui. “A grande maioria, n�o s� do elenco, como tamb�m os t�cnicos, � de BH. Tem uma ou outra pessoa de fora”, conta.
Mineiro radicado em S�o Paulo desde 2002, foi o diretor Marcelo Caetano (Corpo el�trico) quem teve a ideia de trazer as filmagens para a capital mineira. Inicialmente, o roteiro era ambientado no Rio e, posteriormente, em S�o Paulo. Foi ent�o que o cineasta sugeriu que a hist�ria se passasse numa metr�pole n�o definida nos anos 1980.
“Por que n�o BH? E eles toparam. N�o estou trabalhando a neutraliza��o do sotaque, n�o vou esconder que � Belo Horizonte, mas n�o tem por qu� a cidade em si ser uma quest�o”, comenta.''Comprovei uma intui��o que tinha. Aqui s�o pessoas com um ritmo muito mais interessante. Um trabalho mais respeitoso, um clima bom. A gente consegue ao mesmo tempo se divertir e trabalha'r''
Marcelo Caetano, diretor de 'Hit parade'
At� aqui, a carreira de Marcelo Caetano se deu em S�o Paulo e no Recife, mas ele sempre quis trabalhar em sua terra natal. “Morei aqui desde que nasci (em 1982) at� 2002. Rodar na minha cidade tem muito a ver com uma quest�o afetiva, de estar pr�ximo da minha fam�lia, e tamb�m com o interesse grande de trabalhar com atores mineiros.
Tamb�m fa�o produ��o de elenco e, sempre que posso, incluo algum ator mineiro nos filmes, como foi o caso da B�rbara Colen (Aquarius e Bacurau) e de Carlos Francisco (Bacurau)”, afirma. Nesse primeiro m�s de filmagens em BH, o diretor tem percebido as diferen�as de estilo de trabalho entre os mineiros e os paulistas.
“Comprovei uma intui��o que tinha. Aqui s�o pessoas com um ritmo muito mais interessante. Um trabalho mais respeitoso, um clima bom. A gente consegue ao mesmo tempo se divertir e trabalhar. Muitas vezes, quando se est� trabalhando em S�o Paulo, o envolvimento de uma parte da equipe t�cnica vai at� um determinado ponto. Aqui, as pessoas s�o formadas dentro de uma estrutura de cinema muito horizontal, colaborativa. Todo mundo quer saber o que est� sendo feito, quer criar, participar”, diz.

Ele � convidado por Missi� para criar uma composi��o para um cantor kitsch e v� sua cria��o estourar nas paradas musicais. Missi� ganha muito dinheiro com o sucesso, mas Sim�o n�o recebe nem os cr�ditos. Humilhado, ele cria sua pr�pria gravadora junto com sua companheira, L�dia (B�rbara Colen) para enfrentar o ex-colega e seus m�todos anti�ticos.
Entre personagens fixos e participa��es, a s�rie ter� 80 atores. Marcelo Caetano conta que convidou alguns profissionais, como os int�rpretes dos protagonistas, mas coube ao diretor Ricardo Alves Jr. fazer todo o processo de sele��o de elenco.
“Ele testou muita gente, fez um mapeamento da galera jovem de BH e por isso contamos com atores iniciantes, mas tamb�m com gente experiente que veio do teatro, como Odilon Esteves, Rodolfo Vaz e Eduardo Moreira.”

B�rbara comemora a possibilidade de atuar em uma produ��o de alcance nacional feita no “quintal de casa” e, sobretudo, abordando uma �poca de tanta efervesc�ncia e liberdade. “Estranhamente, estamos numa onda muito conservadora em pleno 2019. E os anos 1980 foram um momento de muita liberta��o. Est�vamos saindo da ditadura, e as pessoas tinham essa vontade de vida, de explodir.Trazer uma s�rie agora com essa vitalidade e irrever�ncia dos anos 1980 � important�ssimo”, avalia.
Odilon Esteves interpreta Lobinho, um apresentador de programa de audit�rio inspirado em figuras como Gugu, Bolinha e Chacrinha. O personagem fica t�o imerso no trabalho que deixa de lado a vida pessoal. “Ele est� muito envolvido com a ind�stria da m�sica dos anos 1980 e ama a profiss�o. Tem uma sexualidade n�o muito bem resolvida e por ser bem popular em todo o Brasil, acaba n�o expondo realmente o que �. � o pre�o que paga para ser famoso, mas Lobinho acha que vale a pena”, afirma o ator.
Odilon j� atuou em outras produ��es de proje��o nacional rodadas em BH, como o longa Batismo de sangue, de Helv�cio Ratton, e estima que a capital mineira tem todas as condi��es para abrigar esse tipo de iniciativa.''Estranhamente, estamos numa onda muito conservadora em pleno 2019. E os anos 1980 foram um momento de muita liberta��o. Est�vamos saindo da ditadura, e as pessoas tinham essa vontade de vida, de explodir. Trazer uma s�rie agora com essa vitalidade e irrever�ncia dos anos 1980 � important�ssimo''
B�rbara Colen, atriz de 'Hit parade'
“A gente tem uma diversidade imensa de loca��es e, pelo fato de ser menor que Rio e S�o Paulo, os deslocamentos s�o mais f�ceis. � muito importante essa decentraliza��o. Isso gera movimento e prova que � poss�vel produzir com qualidade usando os recursos que BH oferece.”
Int�rprete de Missi� Jack, o antagonista da hist�ria, o ator Robert Frank se interessou pela trama e pela complexidade de seu papel, sobretudo porque tamb�m � m�sico. Robert � vocalista da Diplomattas, banda que surgiu durante o processo de cria��o da trilha sonora do filme No cora��o do mundo, dirigido por Gabriel Martins e Maur�lio Martins.''De uma forma simplista, ele poderia ser classificado como um vil�o. Mas � um personagem bem mais complexo. Com defeitos e qualidades, assim como todo ser humano. Esse universo tem essas figuras um pouco controversas, que n�o medem muito as atitudes para conseguir o que querem''
Robert Frank, atriz de 'Hit parade'
“De uma forma simplista, ele poderia ser classificado como um vil�o. Mas � um personagem bem mais complexo. Com defeitos e qualidades, assim como todo ser humano. Esse universo tem essas figuras um pouco controversas, que n�o medem muito as atitudes para conseguir o que querem. Construir esse personagem tem sido um desafio, mas muito enriquecedor tamb�m”, diz o ator, que faz com esse personagem seu primeiro trabalho para a TV.

Natural de Belo Horizonte, mas desde os 15 morando fora (em Bras�lia ou S�o Paulo, onde reside atualmente), Tulio est� de volta � sua terra natal desde julho, na pele de Sim�o, um dos protagonistas da s�rie Hit parade. “Est� sendo muito bacana esse resgate com minha cidade. A s�rie dialoga com o passado, com as mem�rias, e eu tamb�m dialogando com as minhas mem�rias por meio desse trabalho”, diz.
Tulio tem gostado da experi�ncia de trabalhar com Marcelo Caetano, um diretor que, segundo ele, preza mito pela criatividade e foca no ator. “Em BH eu fiz teatro s� na escola. Minha forma��o teatral se deu principalmente em Bras�lia, onde me formei na UnB e trabalhei com diretores importantes, como Hugo Rodas. Esse retorno � uma oportunidade de viv�ncia teatral nas minhas origens”, diz ele, que h� dois anos e meio integra o Teatro Oficina, de S�o Paulo, onde participou das novas montagens de Roda viva e O rei da vela sob a dire��o de Jos� Celso Martinez Corr�a.
Como parte do elenco do longa Faroeste caboclo (2013), o ator foi aos anos 1980 na fic��o. A nova imers�o nessa �poca e em seu personagem tem sido uma experi�ncia rica para T�lio. “Ele � um m�sico idealista, que n�o tem muito �xito e decide enveredar para um caminho, o dos bastidores, e abre uma gravadora. � interessante olhar para aquele momento da hist�ria sob a perspectiva de hoje, com o distanciamento que o tempo permite.”
A rotina de trabalho est� puxada. Grava��es de 12 horas durante 5 dias da semana. Nas folgas, Tulio Starling tem aproveitado para descansar, estudar o texto e encontrar a fam�lia. “Tenho muitos amigos aqui, mas, infelizmente n�o consegui rev�-los ainda. Mas vamos tentar achar uma brecha.”

“Sempre que venho � corrido. � evento, festival. Conhe�o e me afino muito com os filmes daqui, com os diretores. Estou adorando a experi�ncia dessa imers�o mineira”, diz a atriz, que, na conversa com o Estado de Minas at� soltou alguns “uai”.
Na s�rie, ela interpreta a cantora e dan�arina Natasha, nome art�stico da sonhadora Ludmila. Nash Laila, que estreou no cinema como a protagonista do longa Deserto feliz (2007), de Paulo Caldas, canta na vida real.
“� uma personagem que exige muito de mim. Fiz muita pesquisa, porque n�o queria criar algo clich�. E h� tamb�m uma diferen�a entre a Ludmila e a Natasha. E isso � bem interessante.”
