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Estado de Minas

De volta a BH, Mano Brown diz que Racionais � 'soldado da liberdade'

Rapper v� 'retrocesso' no Brasil, afirma que o povo 'quis assim' e defende a import�ncia do rap neste momento hist�rico. O veterano elogia Djonga: 'Ele � mais �til do que partido pol�tico, padre e pastor'


13/09/2019 04:00 - atualizado 12/09/2019 19:12

O rapper Mano Brown se apresenta como convidado de Djonga no Festival Sarará, em Belo Horizonte
O rapper Mano Brown se apresenta como convidado de Djonga no Festival Sarar�, em Belo Horizonte (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Em fevereiro de 2018, Mano Brown declarou que nada havia a comemorar no anivers�rio de 30 anos do Racionais, o mais importante grupo de rap brasileiro.“S� h� luto”, desabafou, referindo-se � guinada conservadora da periferia – cen�rio e inspira��o das contundentes letras da banda.
 
“Por mim, n�o gravava nunca mais. Minha m�sica foi sempre ligada �s lutas, ao povo, aos becos e �s vielas. Aquele povo para quem a gente cantava n�o � o mesmo de hoje”, lamentou.

Jair Bolsonaro derrotou o PT, o Brasil mudou. E a f�ria negra ressuscita outra vez, como diz o rap. Neste s�bado (14), a banda desembarca em BH para fazer o quinto dos nove shows da turn� 3 D�cadas, que ser� encerrada em outubro, em S�o Paulo. “Baixo-astral, eu? N�o h� baixo-astral”, garante Brown. O Racionais – um “soldado”, “uma formiga at�mica”, segundo ele – prossegue engajado em sua luta pela liberdade. “Nossa utilidade � maior ainda”, avisa.

Em 30 anos de estrada, Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue fizeram de seu rap o porta-voz dos exclu�dos, denunciando feroz e poeticamente a desigualdade social, o racismo e a viol�ncia estrutural do Brasil. Foi assim que o quarteto – “voz anticordial na cultura brasileira”, como definiu o ensa�sta Francisco Bosco – cavou sua trincheira na por vezes bem-comportada cena musical do pa�s.

"Se quiser xingar, xinga. Mas vai tomar orelhada (serm�o) do Brown. V� zoar o show de quem voc� quiser, n�o o meu"

Mano Brown, rapper

O “soldado” Brown diz que n�o est� em guerra, mas lembra os tiros que v�m eliminando �ndios, a crescente viol�ncia contra as mulheres, o recrudescimento do racismo e do machismo, al�m das queimadas na Amaz�nia que revoltam o mundo.
 
“O povo quis assim, pagou pra ver”, afirma. “Quem votou nisso que est� a� entrou porque quis. Queriam o conflito, n�o o di�logo. Queriam cadeado e cerca el�trica, n�o a justi�a. Quem agiu assim ignorou o semelhante”, diz. E adverte quem planeja gritar palavr�es contra o presidente da Rep�blica em seus shows: “Se quiser xingar, xinga. Mas vai tomar orelhada (serm�o) do Brown. V� zoar o show de quem voc� quiser, n�o o meu”.
 
Para ele, o brasileiro deve assumir o caminho pol�tico que escolheu, no voto. “Vou cobrar”, avisa. “A nova onda � xingar Bolsonaro. No Brasil, derrubar presidente � divertido...”, ironiza.

O rapper diz que, durante a campanha, foi ridicularizado por memes, stalkers e piadas ao defender suas convic��es pol�ticas e questionar a forma como se  deu a condena��o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva. “Agora, o pessoal vem dizer que n�o apoiou o que est� a�?”, dispara.

Mano Brown jura: est� longe da pol�tica e n�o quer falar de PT. Ano passado, em pleno com�cio carioca do candidato petista Fernando Haddad, advertiu que o partido j� havia perdido a elei��o por ter se afastado do povo. A sinceridade teve seu pre�o.
 
“Vi a direita usar a minha fala”, comenta, esclarecendo que n�o recuou em rela��o �quela atitude. “Pela minha mente passou um pouco de arrependimento, mas um ano depois, com a poeira assentada, acho que acertei”.
 
Brown considera erro estrat�gico o Partido dos Trabalhadores “n�o ter passado o bast�o”, insistindo em candidatura pr�pria ao Planalto. Critica a “tirania democr�tica”, a “luta para permanecer no poder”.
 
Conta ter comentado com o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP) que n�o achava inteligente “tentar um presidente petista de novo”. Para ele, o “radicalismo dos dois lados” p�s o Brasil num caminho perigoso.

“Escolheram o retrocesso em vez do progresso. A maioria n�o sabe nem o que foi a ditadura, o que � uma ditadura. � f�cil misturar macarr�o e areia e jogar na goela do povo. Sempre foi assim, desde a �poca do descobrimento.”

Citando o recuo de avan�os sociais registrados nos �ltimos anos, o rapper diz que a mentalidade individualista da classe m�dia contaminou o Brasil. “Agora, o cidad�o s� pensa em sua seguran�a. Se o filho do vizinho morrer, azar o dele, porque o meu est� trancado dentro de casa, na igreja, sei l� onde. A mentalidade do medo � o que mais vende. Voc� se tranca em casa, pede pizza, paga a TV a cabo, come essa comida lixo que te faz ficar doente, acima do peso, tomando rem�dio. Isso acontece na favela tamb�m.”

Na opini�o de Brown, questionar a cultura do medo – alimentada pela intoler�ncia pol�tica – � a “nova guerra” a ser enfrentada. Letras do disco Sobrevivendo no inferno (1997), base do repert�rio deste s�bado (14), v�o “cair” no vestibular da Unicamp ao lado de poemas de Cam�es e de Ana Cristina C�sar.
 
Brown comemora o fato de o hip-hop conquistar, a duras penas, seu espa�o na m�sica brasileira. “Estamos vivendo o melhor momento da hist�ria do rap brasileiro”, diz. “Hoje, ele � mais do que �til para conduzir, como Mois�s, o nosso povo � liberdade espiritual, mental e econ�mica tamb�m.”

Show da turnê 'Racionais: 3 décadas' chega a BH neste sábado (14)
Show da turn� 'Racionais: 3 d�cadas' chega a BH neste s�bado (14) (foto: Jeferson Delgado/Divulga��o)
Na opini�o de Brown, a nova gera��o de rappers – o mineiro Djonga, o baiano Baco Exu do Blues, o pernambucano Diomedes Chinaski e o brasiliense Hungria, entre outros – tem grandeza para assumir essa miss�o. Muito se diz que o Racionais salvou vidas, inspirando jovens a driblar o caminho do crime. “Esses novos rappers v�m de baixo, conhecem a vida dif�cil do brasileiro, v�o resgatar muita gente”, aposta o veterano.

No final de agosto, Brown participou ao lado de Djonga do Festival Sarar�, na Esplanada do Mineir�o. A dupla foi ovacionada. O veterano se orgulha do amigo mineiro, de 25 anos. “� um negro retinto de Minas Gerais. Ele tem a ideia, a ra�a, a raiz. Autor aut�ntico, talentoso. Djonga vai conduzir a multid�o de negros para buscar a liberdade. Ele � mais �til do que partido pol�tico, padre e pastor. Um instrumento de Deus e do orix� dele, Xang�”, afirma.

A vigorosa cena do hip-hop, em que depontam Djonga, Criolo, Emicida, Rael, Baco Exu do Blues e Karol Conk�, entre muitos outros, n�o deixa de ser fruto das sementes que o Racionais plantou, h� 30 anos. Mas Brown avisa: “Nunca fui latifundi�rio do rap. Essas sementes vieram tamb�m do Sabotage, Thayde, MV Bill, Dexter... De muita gente.”

RACIONAIS 3 D�CADAS
KM de Vantagens Hall. Av. Nossa Senhora do Carmo, 230, Savassi, (31) 3209-8989. Abertura: DJ Pat Manoese e Fabr�cio FBC. Neste s�bado (14), a partir das 22h. 6º lote: R$ 200 (inteira) e R$ 100 (meia-entrada). Recomenda-se verificar previamente a disponibilidade de ingressos. Vendas on-line no site Tickets for Fun.

T�NEL DO TEMPO
Mano Brown define o repert�rio da turn� Racionais 3 d�cadas como “t�nel do tempo”. Cap�tulo 4, Vers�culo 3, Homem na estrada, Di�rio de um detento, Negro drama e Vida loka (Parte 2) s�o alguns dos hits.
 
Pela primeira vez, o grupo se apresenta com banda – metais, teclados, percuss�o, bateria, baixo e guitarras. “A banda vem refor�ar a batida, mas sem perder a press�o. A ideia n�o � ficar ac�stico, leve e sofisticado”, garante. Um dos destaques � Marighella, rap dedicado ao l�der esquerdista morto em 1969 por agentes da ditadura militar.
 
Marighella � a cara do Racionais”, diz Brown, classificando como “jogada genial”  Wagner Moura convocar Seu Jorge para interpretar o comunista em seu filme, cuja estreia est� prevista para 20 de novembro.


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