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Estado de Minas

Ap�s conflito com padre, organista se retira da Matriz de Tiradentes

�lison Andr� Sacramento assumiu em julho a par�quia e decidiu ampliar o acesso ao �rg�o hist�rico para outros m�sicos. Elisa Freixo se op�s � ideia, suspendeu seus concertos e resolveu deixar a cidade


postado em 19/09/2019 04:00 / atualizado em 18/09/2019 22:00

Elisa Freixo, que morava havia 10 anos em Tiradentes, diz que está de mudança para São Paulo, após o desentendimento(foto: Converso comunicação/Divulgação )
Elisa Freixo, que morava havia 10 anos em Tiradentes, diz que est� de mudan�a para S�o Paulo, ap�s o desentendimento (foto: Converso comunica��o/Divulga��o )
Uma diverg�ncia de opini�o entre a organista Elisa Freixo e o padre �lison Andr� Sacramento levou � decis�o da musicista de encerrar seu trabalho com o �rg�o hist�rico constru�do pelo portugu�s Sim�o Fernandes Coutinho, instalado na Matriz de Santo Ant�nio, na cidade hist�rica mineira. Residindo em Tiradentes h� mais de 10 anos, Elisa Freixo coordenou o restauro da parte t�cnica do instrumento, em 2009. Datado de 1785, o �rg�o est� instalado na Matriz desde 1788. 

Nascido em S�o Jo�o del-Rei, o padre assumiu a par�quia em julho deste ano. Na semana passada, Elisa comunicou sua sa�da “devido a uma mudan�a de orienta��o na Matriz de Santo Ant�nio de Tiradentes”. O texto distribu�do por ela afirma: “Com a chegada do novo p�roco, n�o podemos continuar com o formato de concertos semanais. Assim, nosso desligamento � necess�rio e nos leva a buscar outros locais para a sequ�ncia do projeto de concertos de �rg�o”.

Elisa diz que n�o h� chance de voltar atr�s em sua decis�o. “Estou em paz, por�m, n�o concordo com o fato de o p�roco querer popularizar ou democratizar o acesso ao �rg�o. N�o acho que � por a�. Assim, decidi sair para que as coisas sejam feitas de acordo com a vontade dele”, afirma. “Ainda n�o sei qual o caminho a tomar, por�m, darei not�cia do rumo de nossos projetos, j� com a certeza do apoio que sempre tivemos.” Juntamente com Elisa, o organista Thiago Tavares tamb�m se desligou. “Nesses 10 anos, recebemos alguns dos mais importantes organistas internacionais e nacionais, assim como diversos m�sicos fabulosos, instrumentistas e cantores”, diz, ressaltando que encerra sua participa��o com muito orgulho do trabalho que realizou.

Ao conversar com a reportagem, Elisa Freixo disse que n�o deseja alimentar animosidades nem com o p�roco nem com a popula��o de Tiradentes, mas deixa claro que tem um pensamento diferente. “N�o quero nem levar isso para a frente, pois j� estou procurando outros lugares, emprego, enfim, estou me mexendo. Acredito que se criou um ambiente dif�cil na cidade, pois algumas pessoas falavam mal de mim e isso acabou sendo um problema tamb�m. Agora, se essas pessoas n�o gostam de mim, ent�o chega, n�o vou mais ficar brigando para voltar. Alguns falam 'o trabalho dela � �timo, mas ela � muito dif�cil'. Ent�o, n�o quero dar volume para isso, pois acho tudo isso muito subjetivo.”
 

''Acredito que se criou um ambiente dif�cil na cidade, pois algumas pessoas falavam mal de mim e isso acabou sendo um problema tamb�m. Agora, se essas pessoas n�o gostam de mim, ent�o chega, n�o vou mais ficar brigando para voltar''

Elisa Freixo, organista

 
Ela conta que eram oferecidos cerca de 20 cursos, sempre com um ou dois alunos regulares. “Tamb�m abrimos para outros m�sicos tocarem todos os meses, isso h� 10 anos e sempre trouxemos convidados. Toc�vamos uma vez por m�s na missa e tudo isso agora foi como se eu estivesse dando aula e n�o avisasse �s pessoas que o curso est� acontecendo. � complicado, simplesmente n�o concordei com o ocorrido. N�o � s� deixar o �rg�o na m�o de qualquer um, pois o instrumento tem uma certa solidez. Acho que � uma quest�o mesmo de respeito ao patrim�nio, de respeito ao p�blico.”

A organista alega que os m�sicos locais e o p�roco dizem que a m�sica da cidade sempre foi feita por amadores. “Isso como se no s�culo 18 houvesse amadores. Naquela �poca, todos eram profissionais, gente que estudava, pelo menos uma parte, caso contr�rio, esse �rg�o n�o seria t�o bom. Se compraram um �rg�o t�o bom, � porque sabiam o que estavam comprando. Caso contr�rio, seria um lixo de �rg�o. Eram t�o profissionais que souberam escolher o �rg�o, mesmo a dist�ncia. Sendo assim, se a m�sica sempre foi feita por amadores, n�o tem raz�o de ter um profissional.”

Segundo a musicista, um aluno foi comentar com ela que havia sido convidado a se apresentar na Matriz. Na avalia��o dela, contudo, ele ainda n�o est� preparado para tocar no �rg�o. “Eles est�o escolhendo m�sicos para tocar l� e, diante dessa situa��o, estou desempregada e indo para S�o Paulo. J� estou com minhas coisas todas empacotadas, muito calma, est�vel e com a consci�ncia tranquila”, afirma.

A organista cita que, durante 10 anos, o �rg�o era tocado em uma missa por m�s e toda sexta-feira havia um concerto. “Acontece que o p�roco sugeriu que eu fizesse um concerto e que outras pessoas fizessem os outros, o que n�o concordei, pois sou muito profissional e sempre trouxe m�sicos superprofissionais. Fico imaginando a semana seguinte, quando tocaria um amador, algu�m que teve seis meses ou um ano de aulas de �rg�o, que n�o entendesse direito as coisas, ficaria dif�cil. Como � que o povo vai se orientar? Para mim, a sa�da foi a op��o.”

Ela acredita que, se fosse feita uma reformula��o no emprego do �rg�o, deveria ser em outro sentido. “Poderia cobrar um ingresso e fazer uma outra programa��o. Isso n�o haveria nenhum problema, desde que os organistas que tocassem estivessem num processo de aprendizado. Agora, uma pessoa que nunca usou o �rg�o n�o poderia tocar nele jamais, pois isso teria que ter um crit�rio. Ali�s, isso at� j� estava acontecendo, e eu sempre dizendo que teria de ter algum crit�rio.”

Ela lamenta que a primeira provid�ncia tomada pelo padre tenha sido o cancelamento dos concertos. “Ele disse que queria rever as coisas. Praticamente n�o trabalhamos em julho. Ele tamb�m fez essa proposta para o meu assistente, uma vez que eu estava na Europa. Quando voltei, as coisas j� estavam diferentes. A� achei desconfort�vel. O �rg�o tem o Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) por tr�s, que tamb�m participou das reuni�es e se posicionou. Eu n�o participei, e o pessoal do Iphan n�o conversou comigo.”
 

''Reconhe�o muito bem a capacidade, o n�vel que ela tem, pois � ex�mia nessa arte. De forma alguma quero mal a m�sica, que tem fundamental import�ncia na vida da igreja e reconhe�o isso. Ela tem dito que qualquer pessoa tocaria o �rg�o, o que n�o � verdade, pois, na reuni�o que tivemos, ficou muito claro que a pessoa interessada teria que apresentar o curr�culo, dizendo que � capaz de usar o instrumento''

�lison Andr� Sacramento, p�roco da Matriz de Santo Ant�nio, em Tiradentes

 
�lison Andr� Sacramento, o novo padre da Par�quia de Santo Ant�nio de Tiradentes, assumiu o cargo em julho e afirma que o bispo o encarregou de resolver algumas quest�es da par�quia, sendo uma delas a utiliza��o do �rg�o. “Ele me disse para ver com aten��o o que estava ocorrendo. Isso porque sempre se ouviu falar na cidade que havia algumas distor��es quanto ao uso do �rg�o. Ent�o, o bispo queria que eu averiguasse essa situa��o. Diante disso, o que fiz inicialmente foi suspender os concertos, que, at� ent�o, estavam marcados para o m�s de julho.”

O p�roco diz que, quando suspendeu os concertos, o seu primeiro passo foi ouvir diversas pessoas da cidade sobre o assunto. “Inicialmente, ouvi o pessoal da m�sica, porque em Tiradentes tem uma orquestra sacra e, al�m disso, este ano est�o sendo comemorados os 300 anos do in�cio do movimento musical na cidade. Este foi o meu primeiro objetivo, ou seja, ouvir aqueles que j� est�o atuando diretamente. Acontece que eles demonstraram um certo descontentamento com Elisa e o assistente, principalmente, sobre a maneira como eram levados os concertos.”

De acordo com o p�roco, a organista tinha alguns privil�gios no acesso ao instrumento, e os m�sicos da cidade alegavam que n�o havia nenhuma chance para eles atuarem na igreja. “Eles diziam que, ainda que na orquestra n�o houvesse nenhum organista espec�fico para esse tipo de �rg�o, eles n�o tinham o que a Elisa tinha, ou seja, o direito aos concertos semanais. Assim, me pediram para que fizesse alguma coisa em favor deles. Tamb�m ouvi outras pessoas da cidade, inclusive v�rios leigos, que trouxeram reclama��es quanto � pessoa dela, em diversas situa��es.”

De acordo com o padre, depois de ter ouvido membros da comunidade, ele procurou a organista para uma conversa, na qual fez um relato da situa��o. “Inicialmente, ela n�o concordou com a nova situa��o, dizendo que o �rg�o tinha que ser tocado por profissionais. Respondi que, caso ocorresse uma outra situa��o, ir�amos averiguar o curr�culo de quem o tocaria. Fizemos ent�o uma reuni�o com todos os interessados. Elisa estava na Europa, mas, mesmo assim, lhe perguntei se o assistente dela poderia participar e falar em seu nome. Ela respondeu que sim e que entraria em contato com ele.”

Datado de 1785, o órgão está instalado na Matriz de Santo Antônio desde 1788(foto: Converso comunicação/Divulgação )
Datado de 1785, o �rg�o est� instalado na Matriz de Santo Ant�nio desde 1788 (foto: Converso comunica��o/Divulga��o )
O p�roco conta que compareceram � reuni�o o assistente de Elisa Freixo, a organista Salom� Viegas, que tem um concerto todas as quintas-feiras, e os m�sicos da Orquestra Ramalho. “Nessa primeira reuni�o, o pedido foi que ocorresse uma democratiza��o, que houvesse maior apoio � m�sica da cidade e que eles pudessem ter acesso ao �rg�o. Ent�o, perguntei como seria o acesso. Responderam-me que n�o havia organistas para esse tipo de instrumento em Tiradentes, mas que eles tinham conhecidos com muita experi�ncia em �rg�o hist�rico.”

 

E, de acordo com o p�roco, eles foram atr�s de um m�sico de Barbacena, que se prop�s a ajud�-los no que fosse preciso. “Ent�o, essa democratiza��o foi no sentido de que todos tivessem essa oportunidade, mantendo os concertos das sextas-feiras, por�m fazendo um rod�zio. Inicialmente, quando Elisa ainda estava Europa, ela aceitou a situa��o, lembrando que o assistente dela tamb�m estava dentro desse rod�zio. Quando chegou � que veio com os questionamentos.”


E Elisa ent�o se op�s ao que havia sido acordado na reuni�o, conforme relata o padre. “Posteriormente, ela me mandou um e-mail, lamentando que a sociedade de Tiradentes era, por vezes, hostil com ela. Mesmo assim, concordou em participar do rod�zio, dizendo que permaneceria at� janeiro. Por�m, passada uma semana, me mandou outro e-mail, dizendo que n�o ficaria mais e que cancelaria todas as atividades dela. Devo esclarecer que foi iniciativa dela. Eu apenas quis ajudar o pessoal de Tiradentes.”

O padre garante que em momento algum disse que Elisa n�o poderia tocar no �rg�o. “Reconhe�o muito bem a capacidade, o n�vel que ela tem, pois � ex�mia nessa arte. De forma alguma quero mal a m�sica, que tem fundamental import�ncia na vida da igreja e reconhe�o isso. Ela tem dito que qualquer pessoa tocaria o �rg�o, o que n�o � verdade, pois, na reuni�o que tivemos, ficou muito claro que a pessoa interessada teria que apresentar o curr�culo, dizendo que � capaz de usar o instrumento. Isto tamb�m foi comunicado ao pessoal do Iphan, que n�o viu nenhum problema. O bispo tamb�m est� ciente de tudo. Fui muito aberto com ela em todos os momentos.”

O p�roco lembra que os concertos das sextas-feiras foram mantidos. “Para alguns grupos, como o de estudantes, por exemplo, temos hor�rio especial na quinta � noite e domingo de manh�. Por enquanto, estamos com dois grupos, sendo um da organista Salom� Viegas e outro da Orquestra Ramalho. A partir de janeiro, abriremos um edital para pessoas interessadas, desde que apresentem o curr�culo.”


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