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Novela global recorre � literatura para dar densidade a personagens

'Bom Sucesso', trama das sete, usa cria��es cl�ssicas como Peter Pan e Alice como met�fora para definir condi��o dos protagonistas. Trama inclui dono de editora e muitas refer�ncias a livros


postado em 22/10/2019 04:00 / atualizado em 21/10/2019 18:18

(foto: João Miguel Júnior/Divulgação)
(foto: Jo�o Miguel J�nior/Divulga��o)

Paloma (Grazi Massafera) � uma costureira de origem humilde que vive no bairro de Bom Sucesso, no sub�rbio carioca, e sempre teve paix�o pelos livros. Tanto � assim que ela batizou seus tr�s filhos com nomes de personagens liter�rias: Alice (Bruna Inoc�ncio), Gabriela (Giovanna Coimbra) e Peter (Jo�o Bravo). At� que, um dia, sua vida vira de cabe�a para baixo, quando recebe a not�cia de quem tem apenas seis meses de vida. Pouco tempo depois, ela descobre que seu exame foi trocado com o de Alberto (Antonio Fagundes), dono de uma editora que est� em crise. Paloma decide conhec�-lo e percebe que a literatura � um elo importante entre os dois.


Bom Sucesso, atual novela das 19h da Globo, escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, tem nos livros um de seus eixos tem�ticos. “Uma das inspira��es veio h� dois anos, quando trabalhei como curadora da Bienal do Livro e fiquei muito entusiasmada com aquele ambiente, unindo milhares de pessoas em torno do universo dos livros. Achamos que trazer o mundo da literatura era uma inspira��o e uma homenagem ao que a gente faz, que � contar hist�rias. Al�m disso, a gente queria falar sobre o qu�o preciosa e �nica � a vida. A morte � a �nica certeza que a gente tem, e n�o precisa ser um tabu falar disso, especialmente porque, com a consci�ncia de que nossos dias s�o finitos, podemos valorizar mais cada momento”, afirma Rosane.

Uma obra espec�fica, A morte � um dia que vale a pena viver, da m�dica Ana Claudia Quintana Arantes, ajudou a nortear o folhetim. Paulo Halm afirma que o texto do folhetim “tem um di�logo cont�nuo com esse livro, que fala da mesma coisa que levantamos na novela: aproveitar ao m�ximo a vida. Aparentemente, � uma tem�tica densa, mas trazemos uma abordagem leve e alto astral”. O autor diz que ele e Rosane s�o “leitores vorazes” e gostam de “dialogar com v�rias narrativas dentro do audiovisual”. Como exemplo, ele cita “Em Malha��o - Sonhos (2014/2015), trouxemos o teatro e a m�sica. Em Totalmente demais (2015/2016), o cinema e a poesia. Agora � a vez da literatura. Esse universo � muito rico e tem tudo a ver com a hist�ria da Paloma, uma mulher sonhadora e que tem a fantasia de viver suas pr�prias hist�rias”.

N�o � de hoje que a teledramaturgia se apropria da literatura. O doutorando em comunica��o social pela UFMG Rafael Barbosa Fialho Martins afirma que essa rela��o � profunda e cont�nua, lembrando que o g�nero telenovela � origin�rio dos folhetins franceses. “No Brasil, desde os seus prim�rdios, a televis�o sempre se apropriou das obras liter�rias para criar seus produtos. Essas transposi��es geram modifica��es nos textos originais, mas � natural, porque cada meio tem suas especificidades. Mas, de uma maneira geral, as adapta��es t�m sido muito bem-feitas”, diz.
Os personagens Peter (João Bravo) e Sofia (Valentina Vieira) se transformam em Peter Pan e Wendy (foto: Estevam Avellar/Divulgação)
Os personagens Peter (Jo�o Bravo) e Sofia (Valentina Vieira) se transformam em Peter Pan e Wendy (foto: Estevam Avellar/Divulga��o)

Tr�s tramas no ar atualmente na TV brasileira s�o baseadas em cl�ssicos nacionais ou estrangeiros: �ramos seis, na Globo, As aventuras de Poliana, no SBT/Alterosa, e A escrava Isaura, na Record. Mas Bom Sucesso traz algo diferente, que � ter a literatura presente nos di�logos e servindo como guia e refer�ncia para os personagens e situa��es. Al�m da editora Prado Monteiro, de propriedade do personagem de Fagundes, outros cen�rios remetem aos livros. Peter Pan, bar localizado em B�zios do bon vivant Marcos (R�mulo Estrela), e Chapeleiro Maluco (uma alus�o � Alice no Pa�s das Maravilhas), restaurante frequentado pelos funcion�rios da editora.

MET�FORAS
“Peter Pan e Alice s�o mais presentes porque s�o os livros que servem de met�foras para Marcos, o garoto que n�o quer crescer (e amar de verdade), e Paloma, a garota que � transportada para um mundo totalmente diferente do seu. Nesse sentido, as refer�ncias acabam se multiplicando. Pessoalmente, nem s�o livros t�o marcantes para mim. Mas achamos que, at� pelas adapta��es para filmes e, principalmente, desenhos animados, esses textos acabaram virando hist�rias muito populares, muito conhecidas de um p�blico mais amplo e, por isso, de f�cil identifica��o e reconhecimento por parte do nosso espectador”, comenta Paulo Halm.

Desde que estreou, em julho, a novela tem reverenciado obras importantes da literatura. O autor diz que a escolha dos t�tulos abordados dialoga com o momento vivido pelos personagens. Boa parte das obras que Paloma l�, por exemplo, diz respeito aos seus conflitos e d�vidas, particularmente �queles que se referem ao tri�ngulo amoroso com Marcos e Ramon (David Junior): Otelo, Dom Casmurro, Primo Bas�lio, todos de alguma forma falam de uma mulher que est� dividida entre seus sentimentos.

E os livros tamb�m ajudam a compreender a ess�ncia dos personagens, como cita o novelista. “Nana (Fab�ula Nascimento) revive com seu pai, Alberto (Fagundes), o drama de A bela e a fera. J� Alberto tem como seu companheiro insepar�vel o Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes. Mas nem sempre a gente consegue utilizar todos os livros que gostar�amos, por conta de direitos autorais, que nos impedem de citar autores mais recentes, brasileiros em sua grande maioria. Assim, acabamos nos restringindo aos cl�ssicos da literatura mundial, que s�o �timos, mas sentimos falta de usar livros e autores nacionais mais contempor�neos. Tamb�m citamos poemas, trechos de m�sicas, filmes... Isso � uma coisa que fazemos desde Malha��o”, afirma o autor.

Um dos pontos altos da novela s�o as cenas dos sonhos ou de imagina��o, em que h� uma interpreta��o de cl�ssicos da literatura pelos pr�prios personagens da novela. Paloma (Grazi Massafera) j� foi Alice, Roxana, de Cyrano de Bergerac, e Desd�mona, de Otelo. O diretor Luiz Henrique Rios diz que, para criar as cenas, imaginam essa fantasia numa textura muito diferente daquela da novela. “Uma textura que n�o fosse realista, que fosse mais teatral, mais oper�stica, mais simb�lica, que permitisse que o lugar da imagina��o do p�blico acontecesse. Assim como a imagina��o da personagem acontece. A gente mostra algo que acha belo e aponta alguns pequenos caminhos desse universo, permitindo que o p�blico preencha com sua pr�pria imagina��o esse lugar pensado, sentido, vivido e narrado”, afirma.

PONTE
Parceiro de Rosane Svartman e Paulo Halm em outros trabalhos, o diretor avalia que uma das raz�es de �xito de Bom Sucesso, que tem tido bons �ndices de audi�ncia, � sua estrat�gia de fazer uma “ponte entre mundos”. Ele explica: “Nesse caso, a gente usa a literatura como essa ponte e consegue aproximar pessoas de experi�ncias e universos t�o distintos para um lugar de encontro, que � o lugar da cultura. Quando usamos a literatura, estamos contando as hist�rias do mundo, as hist�rias das hist�rias. Isso � totalmente universal, � capaz de unir qualquer um”.

Alberto, personagem de Antonio Fagundes, é dono de editora na trama(foto: Globo/Divulgação)
Alberto, personagem de Antonio Fagundes, � dono de editora na trama (foto: Globo/Divulga��o)
Na opini�o do diretor, “a TV tamb�m tem uma fun��o de divulgar e transformar um sonho em algo poss�vel. Quem j� lidou com pessoas com dificuldade de leitura sabe que elas sonham poder ler mais, ser mais fluidas. A leitura � um lugar m�gico, � um lugar que traz a possibilidade de entender o mundo diferente do meu. Acho que, quando a novela mostra a literatura, mostra o lugar da universalidade, de poder ver al�m de si pr�prio e se entender por meio de outras experi�ncias. Como ocorre na pr�pria novela.”

Rosane Svartman compara as apostas que uma novela faz ao ato de atirar “cartas ao vento”. “N�o temos certeza quais v�o voltar, para onde elas v�o. De qualquer forma, falar de literatura � trazer para a novela as grandes hist�rias, as grandes narrativas. Isso s� enriquece a nossa trama. Jamais subestimamos o espectador e � muito bom perceber que a audi�ncia gosta de ter contato com a literatura por meio da novela.”

Num cen�rio de revolu��o digital, Paulo Halm n�o teme pelo futuro do livro. “A arte de contar hist�rias existe antes mesmo da escrita e acreditamos que vai sobreviver, mesmo que em formatos novos, p�s-livro. Acreditamos e muito no poder das hist�rias e das narrativas, quaisquer que sejam seus suportes, inclusive – e por que n�o? – os livros como os conhecemos.”


OS BEST-SELLER DE BOM SUCESSO


1 – Alice no Pa�s das Maravilhas
O cl�ssico de Lewis Carroll � uma das mais c�lebres obras do g�nero nonsense. Al�m de ser citado em v�rios momentos, o livro inspira o nome da primog�nita de Paloma (Grazi Massafera) e tamb�m o restaurante Chapeleiro Maluco.

2 – Gabriela, cravo e canela
O romance de Jorge Amado inspirou a protagonista na hora de escolher o nome da filha do meio. A obra narra o caso de amor entre o �rabe Nacib e a sertaneja Gabriela e se passa na regi�o cacaueira da Bahia.

3 – Peter Pan
O ca�ula de Paloma, interpretado por Jo�o Bravo, se chama Peter. � tamb�m a hist�ria de fundo do personagem Marcos (R�mulo Estrela), um garot�o que leva uma boa vida e, no fundo, n�o quer crescer.

4 – Cyrano de Bergerac
Os autores buscavam um livro sobre um personagem que se sacrificava por amor. E Ant�nio Fagundes sugeriu a pe�a de teatro escrita em 1897 por Edmond Rostand, baseada na vida de Hector Savinien de Cyrano de Bergerac, escritor franc�s.

5 – Sherlock Holmes
O investigador mais famoso da literatura brit�nica criado pelo m�dico e escritor Arthur Conan Doyle � a todo momento lembrado pelos funcion�rios da editora Prado Monteiro, sobretudo quando t�m que resolver algum mist�rio.

6 – O m�gico de Oz
Um dos livros preferidos de Sofia (Valentina Vieira), neta de Alberto (Antonio Fagundes). � a partir da leitura desse cl�ssico de L. Frank Baum ao lado da pequena que Alberto rev� sua atitude em rela��o � vida e decide ir atr�s de Paloma. A hist�ria � sobre Dorothy e seu cachorro Tot�, que s�o levados para a terra m�gica de Oz quando um ciclone passa pela fazenda de seus av�s no Kansas.

7 – Otelo
A trag�dia de Shakespeare � citada por Alberto em uma conversa com Paloma quando ela est� cismada com os ci�mes doentios do noivo, Ramon (David Junior).

8 – Dom Casmurro
Cl�ssico de Machado de Assis tamb�m lembrado por Alberto quando Paloma se queixa do seu relacionamento. Na hist�ria, Bentinho pensa o tempo inteiro que foi tra�do pela mulher, Capitu, e pelo seu melhor amigo, Escobar.

9 – A letra escarlate
Alberto recomenda a Paloma o livro publicado em 1850 pelo norte-americano Nathaniel Hawthorne. Ambientada numa col�nia puritana nos EUA do s�culo 17, a hist�ria � centrada em Hester Prynne, que, como a personagem de Grazi, � costureira. Ao dar � luz a um beb� cujo pai ela n�o pode revelar, Hester � exposta � humilha��o p�blica e obrigada a usar uma letra "A" (de ad�ltera) em suas vestes.

10 - Dom Quixote de La Mancha
O cl�ssico de Cervantes sobre o pequeno fidalgo castelhano que perdeu a raz�o por muita leitura de romances de cavalaria � um dos preferidos de Alberto, que, assim como o Triste Figura, � um idealista apaixonado pela leitura. Ambos se recusam a aceitar a decad�ncia de suas atividades: enquanto Dom Quixote valoriza a honra da cavalaria, Alberto luta por sua editora.


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