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Mary del Priore garante: dona Maria I nunca foi louca

Em seu novo livro, historiadora afirma que a rainha portuguesa, m�e de dom Jo�o VI, enfrentou grave depress�o. Dona Maria governou bem, era generosa e amava chocolate


postado em 24/11/2019 04:00

Retrato de dona Maria, pintado por Giuseppe Troni, exposto no Palácio Nacional de Queluz, em Portugal(foto: Benvirá/Reprodução)
Retrato de dona Maria, pintado por Giuseppe Troni, exposto no Pal�cio Nacional de Queluz, em Portugal (foto: Benvir�/Reprodu��o)

Dom Pedro I era mulherengo. Seu pai, dom Jo�o VI, ficou marcado como medroso e pat�tico. J� a m�e, Carlota Joaquina, era ninfoman�aca, enquanto a av�, dona Maria I, ganhou o apelido de A Louca. Defini��es simplistas, estereotipadas e – por que n�o? – preconceituosas acompanham personagens marcantes para a trajet�ria do pa�s. “A imagem que ficou deles foi obra dos republicanos, tanto em Portugal quanto no Brasil. Queriam enxovalhar a fam�lia imperial. Por isso, essas figuras acabaram t�o ridicularizadas. Ainda sabemos muito pouco sobre elas, mas � medida que documenta��es e arquivos v�o sendo descobertos, constatamos que essas pessoas realmente tiveram grande import�ncia na nossa hist�ria”, ressalta a escritora e historiadora Mary del Priore.

Autora de mais de 50 livros – entre eles, Condessa de Barral: a paix�o do imperador (2006) e O castelo de papel: Uma hist�ria de Isabel de Bragan�a, princesa imperial do Brasil, e Gast�o de Orl�ans, conde d'Eu (2013) –, Mary decidiu escrever sobre as mulheres ligadas a dom Pedro II. Come�ou pela bisav� do imperador, dona Maria Francisca Isabel Josefa Antonia Gertrudes Rita Joana de Bragan�a e Bourbon.

D. Maria I – As perdas e as gl�rias da rainha que entrou para a hist�ria como “a louca” (Benvir�) revela a trajet�ria da soberana portuguesa de seu nascimento, em dezembro de 1734, � morte, aos 81 anos, no Rio de Janeiro. Para come�o de conversa, a historiadora contesta a loucura da soberana. Garante que ela era v�tima de profunda depress�o, na �poca confundida com melancolia e insanidade. Al�m de contar com a colabora��o do m�dico S�vio Santos Silva, Mary pesquisou livros de medicina daquele per�odo.

“� uma doen�a que se tornou o mal do s�culo, t�o contempor�nea, geral, pois atinge todas as classes e idades. Por�m, ela existe h� anos. Dona Maria I tinha todos os sintomas da depress�o: tristeza constante, profunda e incapacitante, perda de autoconfian�a, sentimento de vazio, irritabilidade, dist�rbios do sono, fadiga, isolamento, e, o mais importante, sentimento de culpa e de inutilidade”, garante.

''Dona Maria I tinha todos os sintomas da depress�o: tristeza constante, profunda e incapacitante, perda de autoconfian�a e sentimento de vazio''

Mary del Priore, historiadora



TRAG�DIAS

Muitos fatores contribu�ram para que a rainha fosse considerada incapacitada para governar. Em 1792, o filho, dom Jo�o VI, assumiu a reg�ncia. O primeiro motivo da depress�o foram as mortes sucessivas de entes queridos. A come�ar pela m�e, dona Mariana Vit�ria, sua grande amiga e conselheira, em 1781. Cinco anos depois, foi a vez do marido e tio, dom Pedro III, com que mantinha um casamento feliz.

“N�o era comum as rela��es arranjadas serem t�o bem sucedidas. Eles realmente se gostavam, eram c�mplices. Dona Maria ficou muito desesperada quando perdeu o companheiro”, relata Mary. A base de sua pequisa s�o teses sobre a rainha que v�m sendo publicadas em Portugal, pa�s que cultiva grande interesse pela monarquia, al�m da correspond�ncias entre ela e a filha Maria Ana Vit�ria de Portugal.

Em 1788, tr�s perdas a abalaram profundamente: do primog�nito dom Jos�, da filha Maria Ana e do neto Carlos, rec�m-nascido. Todos v�timas da var�ola. Para completar a trag�dia, seu confessor e mentor, frei In�cio de S�o Caetano, n�o resistiu a uma violenta trombose. “Foi uma morte atr�s da outra, incluindo dois filhos. � muita dor. Sem contar as intrigas palacianas, inclusive dentro da pr�pria fam�lia, al�m da press�o e dos questionamentos por ela ser a primeira rainha – e mulher – a ter plenos poderes em Portugal, apesar de a m�e e a av� terem sido regentes”, destaca Mary.

Extremamente cat�lica, dona Maria I se sentia culpada por tudo de ruim que ocorria com ela e com os parentes. Doen�a, naqueles tempos, era sin�nimo de culpa e pecado. “S� no final do s�culo 19 a psican�lise vai conseguir dissociar a quest�o m�stico-religiosa da loucura. A culpa era uma constante nesses diagn�sticos. At� o s�culo 18, os livros de medicina portugueses diziam que a melancolia era o sopro do diabo. Dona Maria I acreditava piamente nisso”, explica.

CHOCOLATE

Tachada de A Louca, a rainha portuguesa era tamb�m chamada de A Piedosa. Crian�a generosa, distribu�a moedas aos pobres nas ruas de Lisboa. N�o foi � toa que os portugueses lamentaram a partida dela quando a fam�lia real fugiu para o Brasil, em 1808. Constantemente, reivindicavam sua volta. Era t�o querida que na ocasi�o de sua morte, no Rio de Janeiro, uma multid�o de brasileiros chorou e prestou homenagens a ela. Anos depois, quando o corpo foi trasladado para Lisboa, os portugueses fizeram quest�o de demonstrar sua gratid�o � m�e de dom Jo�o VI.

“Ela n�o era uma rainha Elizabeth, que ficava passeando de carruagem dourada pelas ruas. Dona Maria gostava do povo, fazia quest�o de circular entre as pessoas e de participar de manifesta��es religiosas como prociss�es, missas”, observa Mary del Priore.

CARLOTA

Curiosamente, a rainha era sogra admirada pela espevitada Carlota Joaquina, que, ainda menina deixou a Espanha rumo a Lisboa para se casar com o pr�ncipe Jo�o. “Carlota a chamava de m�e. Esse sentimento era rec�proco, ainda mais porque dona Maria havia acabado de enviar a filha Maria Ana � Espanha tamb�m para se casar. As duas iam � �pera juntas e se divertiam, mas a rainha chamava a aten��o da nora quando essa era malcriada. N�o h� nada que indique o rompimento dessa rela��o afetuosa”, afirma a historiadora.

O desempenho de dona Maria como governante mereceu elogios, destaca Mary del Priore. “Apesar dos questionamentos, sobretudo dentro da corte, ela teve uma grande atua��o sob o ponto de vista diplom�tico. Tamb�m fez reformas urbanistas, fundou academias. Ela pensava na na��o”, frisa.

Mary revela que a rainha tinha um ponto fraco: a gula. “Ela adorava chocolate, considerada iguaria ex�tica e de elite, al�m de sorvete. No Brasil, ia chupar manga com dom Jo�o VI em S�o Crist�v�o. No fim do livro, at� digo que sabia muito pouco sobre Maria I. Na minha cabe�a, s� tinha a imagem de ‘a louca’. Hoje, vejo nela uma mulher como tantas de n�s. Acredito que n�o s� as leitoras, como os leitores e principalmente quem gosta de hist�ria, v�o gostar de saber um pouco mais sobre essa figura t�o tocante”, conclui.

Ouro, luxo e Inconfid�ncia

Dona Maria I nunca veio a Minas, mas a capitania se mostrou presente em diversos momentos de sua trajet�ria. Quando ela nasceu, o reino portugu�s vivia uma �poca esplendorosa. Riquezas vindas do Brasil, sobretudo ouro e diamantes, enriqueceram a corte. A primeira cidade e capital mineira, Mariana, chama-se assim em homenagem � av� dela, a arquiduquesa Maria Ana de �ustria, esposa de dom Jo�o V.

A Inconfid�ncia Mineira, em 1789, foi um dos epis�dios mais emblem�ticos do reinado de Maria I. Ali�s, ela enfrentou outro movimento separatista, a Subleva��o dos Pintos, em Goa, na �ndia. Em ambos, a puni��o foi rigorosa. No Brasil, Tiradentes foi enforcado e esquartejado, enquanto outros inconfidentes amargaram o degredo.

“Em qualquer monarquia, o crime de lesa-majestade, de trai��o ao rei, era punido com a morte. Com rela��o aos inconfidentes, dona Maria foi at� clemente, pois, tirando o Tiradentes, os demais tiveram a vida poupada. Em Goa, todos foram executados. A rainha apenas seguiu o que era esperado na �poca”, afirma Mary del Priore.

(foto: Benvirá/Reprodução)
(foto: Benvir�/Reprodu��o)

D. MARIA I
As perdas e as gl�rias da rainha que entrou para a hist�ria como 'a louca'
• De Mary del Priore
• Editora Benvir�
• 224 p�ginas
• R$ 39,90


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