
“Boa tarde. Eu sou a Camila, a nova professora de hist�ria e vou dar essa mat�ria de um jeito bem diferente. Essa m�sica que acabei de cantar tem tudo a ver com a hist�ria do Brasil. Ela � do Gonzaguinha, algu�m conhece?” A maioria n�o faz a menor ideia de quem se trata, at� que uma estudante pergunta: “Ele � filho do Gonzag�o?”. Camila confirma e emenda: “Gonzaguinha fez essa m�sica em 1988, quando o Brasil se livrava da ditadura militar.”
O artista carioca, que morreu aos 45 anos num acidente de carro (1989), est� mais do que presente na trama de Manuela Dias. � (que j� fez parte de outras trilhas) virou o tema de abertura. E Sangrando, tamb�m de Gonzaguinha, embala os dramas da advogada Vit�ria, personagem de Ta�s Ara�jo. “Adoro o Gonzaguinha, e Sangrando tem a ver com a minha pr�pria hist�ria. Lembro-me dos shows do Projeto Pixinguinha a que eu ia assistir no Teatro Francisco Nunes, em Belo Horizonte. J� a letra de � estava no roteiro, uma ideia da Manuela. Sentimos que deveria ser a m�sica de abertura”, explica o mineiro Jos� Luiz Villamarim, diretor art�stico do folhetim.
E n�o s� apenas na faixa das 21h o filho do Rei do Bai�o aparece atualmente. Suas m�sicas fazem parte das novelas As aventuras de Poliana, no SBT/Alterosa (O que � o que �), na reprise de Caminhos do cora��o, na Record (Caminhos do cora��o), e na pr�pria Globo. Comportamento geral ganhou vers�o de Elza Soares na s�rie Segunda chamada, enquanto que na voz de Ney Matogrosso est� em �ramos seis. “As letras t�m algo a dizer, e acredito que por isso afetam tantas pessoas. Da� estarem presentes em v�rias trilhas sonoras”, pontua Villamarim.
ESTREIA
N�o �´de hoje que as m�sicas de Luiz Gonzaga do Nascimento J�nior marcam a teledramaturgia. De acordo com levantamento da Moleque Editora, que gerencia a obra do cantor e compositor, 26 produ��es (entre novelas, s�rie e miniss�ries) j� utilizaram suas can��es. A primeira foi Espere por mim, morena, que entrou para a novela Locomotivas (1977, Globo).
Para a fam�lia, atemporalidade, originalidade, autenticidade e o talento justificam a recorr�ncia. “Ele criou can��es poderosas, algumas cheias de cobran�as para dias melhores pra todo mundo. E nunca se distanciou das necessidades do povo. Era verdadeiro em tudo e por isso as pessoas cantam e amam tudo o que fez”, avalia Louise Martins, a Lelete, vi�va do m�sico. “S�o um retrato dos dias atuais. Parece que Gonzaga acabou de fazer”.
Indiferente a novelas, ela assistiu aos primeiros cap�tulos de Amor de m�e e ficou especialmente tocada. “Achei interessante, emocionante ela (professora) transmitir aos alunos quem era Gonzaguinha e a import�ncia da sua obra. O melhor � que as pessoas est�o sentindo a energia e o vigor do trabalho dele, feito � flor da pele. Por isso acho que ele � t�o atual”, opina.
O primog�nito, Daniel Gonzaga, m�sico, acredita que fatores m�ltiplos explicam por que o pai est� mais vivo do que nunca. “Ele era um compositor de m�o cheia; ali�s, um dos mais importante da sua gera��o. Sua obra � eterna, vigente”, frisa. Respons�vel pela Moleque Editora, Daniel destaca a a��o “t�cnica” de tentar desvincul�-lo de esquerda ou direita. “N�o h� um artista t�o democr�tico como ele, mas n�o significa que possa ser chamado de isento. Quem o conheceu sabe de suas convic��es, o que defendia. � bacana perceber que, ap�s quase 30 anos de sua morte, Gonzaguinha � mais presente do que muitos artistas que ainda est�o a�”.
Ele acentua o perfil contempor�neo do trabalho e diz ser imposs�vel dissoci�-lo da pol�tica. “� nasceu no fim do regime militar, o Brasil prestes a realizar as primeiras elei��es presidenciais diretas ap�s anos de ditadura. Todas essas quest�es de esperan�a, de dias melhores, tudo est� ali. E n�o s� nessa composi��o. Voc� v� temas sociais, a luta por melhores condi��es de vida, recorrentes na vida do brasileiro e na obra dele”.
MPB ganha for�a em nova trilha
N�o � s� Gonzaguinha que embala a novela das 21h. Amor de m�e traz can��es interpretadas por grandes nomes da nossa MPB, como Elis Regina, Clara Nunes, Maria Beth�nia, Gilberto Gil, Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Chico Buarque, Elza Soares, Caetano Veloso e Milton Nascimento. O diretor art�stico Jos� Luiz Villamarim ficou � frente desse processo da escolha da trilha sonora, assim como ocorreu em seus trabalhos anteriores (Onde nascem os fortes (2018) e Justi�a (2016). “Quando li a hist�ria, logo achei que o samba tinha a ver com a novela. � uma trama extremamente brasileira, e nada mais brasileiro que o samba. E outro ritmo que tamb�m acho que se tornou algo bem brasileiro � o funk. Eu parti desses dois ritmos para a constru��o da trilha”, revela.
No entanto, pelo fato de ser uma hist�ria extensa e com muitos personagens de caracter�sticas distintas, ele acabou abrindo o leque e abarcou outros g�neros e artistas. “Eu n�o tenho preconceito e acho que numa trilha sonora de novela cabem quase todos os tipos de m�sica. Em Amor de m�e, vamos de F�bio Jr. a Jards Macal�, passando ainda por Caetano Veloso com O estrangeiro, que eu considero um hino. Eu tinha at� uma inten��o, no in�cio, de n�o usar m�sicas internacionais. Mas � uma novela contempor�nea e a m�sica estrangeira tamb�m ajuda a contar essa hist�ria”, reflete.
Mais do que meros temas de personagens, as composi��es t�m uma fun��o narrativa na trama. Ali�s, o diretor art�stico conta que faz quest�o de colocar as m�sicas nos ensaios e at� nas filmagens para que os atores se sintam afetados pela trilha. Para ele, “sem m�sica n�o h� drama”. “Em geral, as m�sicas que eu uso no set est�o tamb�m na trilha. Como eu trabalho com essa quest�o de sempre estar cruzando a linha, afetando, emocionando, em busca de catarses c�nicas, a m�sica � um instrumento que ajuda, potencializa. Eu uso m�sica na prepara��o dos atores tamb�m. Acredito que ela causa um sentimento que fica na mem�ria deles”, defende.
A obra Na TV
» Caminhos do cora��o
(Caminhos do cora��o, 2007/2008, Record)
» Ch�o, p�, poeira
(Saramandaia – segunda vers�o –, 2013, Globo)
» Comportamento geral
(�ramos seis, 2019, Globo, e Segunda chamada, 2019, Globo)
» E vamos � luta
(Duas caras, 2007/2008, Globo)
» Espere por mim morena
(Locomotivas, 1977, Globo)
» �
(Vale tudo, 1988, Globo, Vidas em jogo, 2011, Record, e Amor de m�e, 2019, Globo)
» Feliz
(Eu prometo, 1983, Globo, e Caminho das �ndias, 2009, Globo)
» Geraldinos e arquibaldos
(Duas caras, 2007/2008, Globo)
» Grito de alerta
(Como uma onda, 2004, Globo, e A lei do amor, 2016, Globo)
» Lindo lago do amor
(Al�m do tempo, 2015, Globo)
» Mam�o com mel
(Selva de pedra – segunda vers�o –, 1986, Globo)
» Maravida
(Amor � vida, 2013, Globo)
» Nem o pobre nem o rei
(Vereda tropical, 1984, Globo)
» O come�o da festa
(Roque Santeiro, 1985, Globo)
» O preto que satisfaz
(Feij�o maravilha, 1979, Globo)
» O que � o que �
(Bel�ssima, 2005, Globo; Vivendo o amor, 2010, Record; Carrossel, 2012, SBT/Alterosa; Plano alto, 2014, Record, e As aventuras de Poliana, 2018/2019, SBT/Alterosa)
» Ponto de interroga��o
(Cora��o alado, 1980, Globo)
» Recado
(Fina estampa, 2011, Globo, e Pega pega, 2017, Globo)
» Sangrando
(Amor de m�e, 2019, Globo)
» Ser, fazer acontecer
(S�timo sentido, 1982, Globo)
