
Com discurso de descentralizar a atividade art�stica no pa�s, ele prometeu investimentos no espa�o f�sico da institui��o em Belo Horizonte por meio de parceria com a UFMG e falou sobre suas ideias para a cultura, que, segundo ele, deve ser “desvinculada da pol�tica”.
Maestro, Mantovani foi centro de pol�mica, assim que substituiu Miguel Proen�a no cargo, no �ltimo dia 2, quando veio � tona um v�deo publicado meses antes em seu canal no YouTube no qual ele associa o rock �s “drogas, ao sexo, e � ind�stria do aborto, que, por sua vez, alimenta uma coisa mais pesada, que � o satanismo”. Outras publica��es antigas tamb�m ganharam repercuss�o midi�tica ap�s sua nomea��o, como uma em que chamava de “aberra��es sonoras” os artistas brasileiros que se apresentaram na abertura da Olimp�ada do Rio, em 2016. A lista inclui Gilberto Gil, Caetano Veloso, Anitta, Paulinho da Viola e Jorge Ben. Descrita como um “canal conservador que re�ne m�sica, cultura, not�cias e entrevistas”, a p�gina teve todos os seus v�deos apagados na �ltima semana.
Em Congonhas, Mantovani assistiu ao Coral Cidade dos Profetas e visitou o Museu de Congonhas, ligado ao Santu�rio do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Em Ouro Preto, esteve nas igrejas S�o Francisco de Assis e Nossa Senhora do Carmo, no Museu do Orat�rio, na Casa da �pera e no Museu da Inconfid�ncia.
“Por ser uma cidade tombada pelo patrim�nio mundial, direcionamos para Ouro Preto a inaugura��o de um dos nossos principais projetos, o Bossa Criativa, que visa integrar m�sica, patrim�nio hist�rico e artes. Ouro Preto receber� o evento de abertura do programa, que contar� com concerto da Orquestra de Ouro Preto, e eu farei a reg�ncia. Tamb�m quero levar as orquestras dessa regi�o para outros lugares do pa�s. Essa riqueza de Minas � pouco conhecida”, afirma. O evento est� previsto para abril.
Em BH, ele disse ter conversado com a equipe local da Funarte e com alguns agentes culturais, como o presidente do Sindicato dos Produtores de Artes C�nicas de Minas Gerais (Sinparc), R�mulo Duque. “Fiquei muito surpreso, porque j� s�o 46 anos da Campanha de Populariza��o (do Teatro e da Dan�a). Belo Horizonte tem uma cena cultural muito forte e muito importante para o Brasil inteiro.”
O gestor promete a revitaliza��o do espa�o da Funda��o. Ele disse ter se encontrado com professores dos departamentos de Engenharia e Arquitetura da UFMG, que iniciaram estudos para uma reforma do local, que, al�m de sede administrativa, abriga um teatro e estrutura para eventos culturais diversos. Segundo Mantovani, a UFMG ser� parceira em obras realizadas em outros estados nos quais a Funarte j� tem instala��es ou onde pretende ter.
“N�o podemos pensar apenas em S�o Paulo, Rio e Minas Gerais. Queremos expandir, e a equipe da UFMG far� um estudo tamb�m para a implanta��o de sedes regionais no Nordeste, Sul e Norte, em pr�dios que j� sejam da Uni�o. Temos R$ 3,9 milh�es para esses projetos, para dar um start na reconstru��o e na reforma de todos os nossos espa�os. Todos. Obviamente, isso n�o ser� suficiente. Iremos atr�s de outros recursos. Temos o Fundo Nacional de Cultura e vamos buscar outras parcerias para conseguir recursos”, disse.
Quando uma nova gest�o assume, espera-se que ela trace novos objetivos ou execute algo al�m da anterior. Quais s�o seus principais objetivos no momento para a Funarte e quais s�o os maiores desafios?
O maior desafio � a preserva��o do nosso acervo art�stico maravilhoso no nosso Centro de Documenta��o (localizado no Centro do Rio de Janeiro), que est� em um pr�dio impr�prio. N�o adianta reformar, porque o pr�dio n�o � nosso, n�o vai ficar para a Funarte. Temos que ir para um pr�dio pr�prio. Ele conta toda a hist�ria da arte no Brasil, no teatro, na dan�a, na m�sica, no circo, nas artes pl�sticas. Quero prioritariamente arrumar um lugar bom, com bom projeto de preven��o a inc�ndio, a perdas, para cuidar desse acervo, que � a mem�ria da arte do Brasil. � um grande desafio arrumar essa localiza��o apropriada. Outra miss�o � descentralizar a arte, lev�-la para todas as regi�es. Meu principal projeto � o Sistema Nacional de Orquestras Sociais, que visa levar a todas as cidades do Brasil um polo de ensino de atividades orquestrais, m�sica, instrumentos, solfejo, m�sica instrumental, pr�tica de m�sica em conjunto. Temos um projeto para o Brasil inteiro, que depende de recursos e parcerias que vamos conseguir. Por isso precisamos dos munic�pios, porque eles devem ceder espa�os para desenvolvermos esse projeto t�o importante.
Em 2017, Stepan Nercessian assumiu a presid�ncia da Funarte e disse ao Estado de Minas que boa parte do or�amento anual era para pagamento da folha, aposentados, manuten��o e que sobrava pouco para a atividade. Como est� a situa��o or�ament�ria hoje e quais s�o os planos da Funda��o daqui pra frente na utiliza��o de recursos?
Estou enfrentando esse problema com duas frentes de a��o. Uma delas fazendo economia. Determinei para a administra��o que fa�a um estudo para diminuir 50% do custeio. Isso equivaler� a R$ 25 milh�es em 2020, para que esse dinheiro seja usado em projetos da nossa �rea-fim. Isso n�o pode ser usado em custeio. Temos um investimento alto, precisa ter resultado. N�o podemos permitir que 90% fiquem comprometidos com custeio. Temos que investir mais em arte. Deve ser 50% para arte e 50% para custeio. Outra linha, que consegui com o secret�rio de Cultura, Roberto Alvim, foi um aumento do or�amento. Ele vai quadruplicar nosso or�amento de projetos junto a alguns fundos do governo (o or�amento global da Funarte em 2019 foi de R$ 62 milh�es). Al�m disso, uma a��o importante � a aproxima��o entre artistas e os empres�rios. Quero uma ponte direta entre empres�rios e artistas, para criar um mercado para a arte no Brasil, que � praticamente inexistente. Os artistas precisam do Estado para fomentar. Embora eu seja representante do Estado, acho que isso tem que sair do Estado, pelo menos em parte. Tem que haver uma complementa��o entre Estado e iniciativa privada, que � o que acontece na maioria dos pa�ses. No Brasil, a arte fica muito concentrada no Estado e aconteceram, recentemente, distor��es de dinheiro p�blico direcionado a artistas milion�rios. Isso, no meu entendimento, � equivocado. Temos que usar dinheiro p�blico para o artista iniciante, n�o para aquele j� consagrado. A gente precisa de uma aproxima��o direta entre o meio art�stico e o empresariado. Quero que o empresariado invista em arte n�o porque o Estado vai dar incentivo, mas porque � importante. Porque isso vai melhorar o ambiente de neg�cios, a economia, porque, com mais cultura, mais educa��o, mais instru��o, mais arte a sociedade prospera muito mais. Os pa�ses desenvolvidos t�m plena consci�ncia disso. Eles apoiam a arte com vigor. Nos EUA, na �ustria, na Fran�a, na It�lia, a arte tem valor central na vida das pessoas. Os taxistas sabem o nome dos compositores de �pera. Uma vez, fui me apresentar com uma orquestra na Espanha e fui conversando com o taxista sobre �pera, do meu hotel ao teatro. Isso que sonho para o Brasil – que as pessoas tenham arte no seu cotidiano. E elas est�o muita afastadas, justamente porque h� um afastamento do artista e do meio empresarial, que tem condi��es de financiar melhor a arte.
A Funarte tem diversas atribui��es no fomento da arte e da cultura no Brasil. O senhor apontaria alguma miss�o da Funarte como prioridade hoje?
Meu sonho � que os alunos se formem no ensino m�dio e saibam o nome de grandes artistas: Carlos Gomes, Heitor Villa-Lobos, Jos� Maur�cio Nunes Garcia, Machado de Assis, e assim por diante. Temos que fazer com que nossos grandes artistas sejam conhecidos, que sejam objeto de estudo na escola, porque, hoje em dia, os jovens sabem tudo que est� na m�dia, cantores da moda, isso tem grande incentivo, mas n�o conhecem a hist�ria. Precisamos valorizar nossa hist�ria, resgatar nossa mem�ria, com vistas inclusive a fomentar nosso sentimento patri�tico. N�o existe na��o sem cultura. Precisamos conhecer nossa cultura, nossa hist�ria, nossas origens, e a arte � importante para que a gente obtenha essa mem�ria nacional. Os artistas s�o her�is da na��o em todo lugar. No Brasil, tem essa peculiaridade de que os grandes artistas n�o s�o conhecidos.
Da cultura que � produzida atualmente no Brasil, o que o senhor acha que h� de melhor e mais importante?
Estou h� apenas duas semanas (no cargo) e tive oportunidade de conhecer algumas iniciativas no Rio de Janeiro. Estive no Theatro Municipal e fiquei surpreso com a qualidade do que eles t�m feito ali. Assisti ao bal� Giselle, uma produ��o fant�stica, e fiquei com vontade de que aquilo fosse conhecido por mais pessoas. No Rio, tive muitos convites. N�o tive tempo, ainda n�o deu tempo de ir a muitas coisas, mas estou procurando conhecer melhor a produ��o aqui do Brasil. Estive num concerto de m�sica na Candel�ria, promovido pela UFRJ, e fiquei muito impressionado com a qualidade da Sinf�nica da UFRJ, muito boa, com coral de muitas vozes. Ent�o, aos poucos, vou conhecendo melhor e vamos colocar a estrutura da Funarte para fomentar essa produ��o.
H� algum edital visando a isso?
Assumi em dezembro, editais j� estavam em andamento, novos editais ser�o feitos a partir de janeiro.
A rela��o da maior parte da classe art�stica com o governo Bolsonaro tem sido conflituosa. H� algum plano para construir algo junto � classe art�stica, buscar um di�logo, um entendimento, independentemente de diverg�ncias pol�ticas?
A �nica forma de resolver esse problema da vincula��o da arte com a pol�tica � criando um mercado para a arte. Se os artistas estiverem no mercado, eles n�o estar�o vinculados � pol�tica. Na minha opini�o, a arte n�o tem que ter rela��o nenhuma com a pol�tica, a arte tem que ter rela��o com a economia, porque a arte � uma necessidade humana, e a economia lida no campo das necessidades. Quando o governo tem papel muito forte na promo��o da arte, acaba sempre havendo uma ideologiza��o da arte. Temos que fazer com que a arte fa�a parte da vida das pessoas e n�o seja usada por ideologias. Tamb�m queremos estimular o mecenato, uma mecanismo que funcionou muito no Renascimento, que proporcionou o surgimento das maiores obras de arte da humanidade, como por exemplo a Capela Sistina, as obras de Michelangelo. Monteverdi na �pera tinha v�rios mecenas, assim como outros grandes escritores. Depois, quando a arte deixa de ter o sistema do mecenato, o Estado acaba usando a arte com finalidade pol�tica e, se a arte � usada com finalidade pol�tica, ela deixa de ser arte e vira propaganda. A arte tem que estar muito longe da pol�tica.