
No elevador da Fox News, as tr�s loiras se entreolham. A mais velha � Gretchen Carlson (Nicole Kidman), que j� teve dias melhores. Megyn Kelly (Charlize Theron) � a estrela da cobertura pol�tica do canal. Mais jovem do grupo, Kayla Pospisil (Margot Robbie), que as duas mulheres mal olham, est� um tanto incomodada no meio delas. A chegada do elevador ao segundo andar da sede do canal definir� o destino desse trio. � ali que fica o todo-poderoso Roger Ailes (John Lithgow), o presidente do canal conservador que foi o maior aliado na elei��o de Donald Trump.
Estamos no meio da narrativa de O esc�ndalo, filme de Jay Roach que estreia nesta quinta-feira (16), no Brasil. Com tr�s indica��es ao Oscar – atriz para Charlize Theron, atriz coadjuvante para Margot Robbie e cabelo e maquiagem (Kazu Hiro, Anne Morgan, Vivian Baker) – o filme acompanha, com uma lente de aumento (e alguma dose de fic��o), uma hist�ria que abalou a imprensa norte-americana em 2016.
Em 7 de julho daquele ano, Gretchen, ex-�ncora da Fox News, processou Ailes por ass�dio sexual. Sua alega��o era de que o ex-chefe a havia demitido depois de, anos antes, ela recha��-lo sucessivamente em seus avan�os sexuais. Dezesseis dias mais tarde, Ailes teve que pedir demiss�o da rede de Rupert Murdoch.
Fosse Ailes apenas um executivo do alto escal�o, o estrago n�o seria t�o grande. S� que ele era uma das figuras mais proeminentes do conservadorismo americano contempor�neo. Foi consultor de m�dia para os presidentes Richard Nixon, Ronald Reagan e George Bush, al�m de ter sido o homem por tr�s da ascens�o de Trump. Sua trajet�ria – incluindo a derrocada – est�o retratadas na miniss�rie The loudest voice (in�dita no Brasil), que acabou de garantir a Russell Crowe um Globo de Ouro de melhor ator.
J� O esc�ndalo se concentra nas den�ncias que culminaram com a sa�da de Ailes da Fox News – ele morreu em maio de 2017, aos 77 anos. Tendo a personagem de Megyn Kelly como protagonista, o longa busca apresentar tr�s pontos de vista sobre as (perigosas) liga��es de trabalho entre o chef�o e as jornalistas, cada uma delas v�tima de Ailes.
Jay Roach (mais conhecido pela franquia Austin Powers) filmou O esc�ndalo seguindo a escola de Adam McKay (A grande aposta e Vice) – um dos roteiristas � Charles Randolph, que teve a mesma fun��o no filme de McKay sobre a crise financeira global de 2008. O esc�ndalo traz montagem nervosa, ritmo fren�tico e situa��es sempre no limite. H� algumas quebras de quarta parede, narra��es em off e muita ironia. Por vezes, ele mistura elementos documentais e nos pegamos sem saber se aquilo foi real ou n�o.
Das tr�s personagens, Kayla Pospisil � a �nica ficcional – foi criada a partir de depoimentos de mulheres assediadas por Ailes. Figuras muito populares da imprensa americana, Gretchen Carlson e Megyn Kelly est�o muito bem representadas na tela – a semelhan�a entre Nicole Kidman e Charlize Theron com as figuras reais � impressionante.
Mas � Charlize quem captura todos os olhares. A caminhada, a confian�a, a frieza, a voz que nunca se eleva, tudo faz parte da armadura para personificar o estilo Fox News – vale dizer, Megyn Kelly demorou a resolver abrir o jogo com Ailes, chefe com quem mantinha boa rela��o. O filme � aberto com a narra��o da personagem, que leva o espectador a se familiarizar com o mundo daquela corpora��o de m�dia: do por�o, o “ch�o de f�brica” dos jornalistas, at� os escrit�rios onde est�o os executivos que Ailes comanda.
“As pessoas n�o param de assistir (televis�o) quando h� um conflito. Elas param quando n�o h� um”, diz, a certo momento da trama, Ailes. Mal sabia ele que os conflitos de bastidores que o tiveram como vil�o se tornariam um prato cheio para a ind�stria do audiovisual.