Desde que a americana Pixies voltou ao est�dio depois do processo sab�tico de mais de duas d�cadas, a banda encontrou dificuldades para reencontrar sua pr�pria voz. As sa�das de Kim Deal, a ic�nica baixista que ajudou a definir as bases do indie rock da d�cada de 1990 em diante, e depois a de Kim Shattuck (sua substituta, que durou apenas um ano no Pixies), foram apenas alguns dos problemas enfrentados pela banda, que ainda deu um jeito de lan�ar os �lbuns Indie Cindy (2014) e Head carrier (2016).
Em 2019, j� com Paz Lenchantin, a baixista argentina que se juntou a Black Francis e Joey Santiago (vozes e guitarras) e David Lovering (bateria), o Pixies lan�ou Beneath the eyrie, o projeto mais consistente desde seu retorno ao cen�rio global. Coincid�ncia ou n�o, � o que mais se parece com o estilo do grupo nos prim�rdios: guitarras espa�osas, abertas a experimenta��es que resvalam em diversos ritmos, uma costura �nica nas transi��es entre refr�es, versos e letras basicamente non sense.
“N�o t�nhamos inten��o de soar como so�vamos no come�o da banda”, explica Joey Santiago. De acordo com ele, a ideia era simplesmente que o �lbum n�o fosse “uma merda”. “E ele n�o �, sei que n�o”, ri. “A essa altura, j� n�o estamos na condi��o de fazer um �lbum realmente ruim”, completa, sem mod�stia. “Sempre vai haver uma caracter�stica redentora.”
Aos 54 anos, Joey Santiago � respons�vel por boa parte da experimenta��o que o Pixies empreendeu numa �poca em que a guitarra era o instrumento dominante. “Mas ainda quero explorar novos sons. H� um n�mero infinito de sons que podem sair de uma guitarra. H� 12 notas, mas possibilidades infinitas”, diz. Joey est� convicto de que a guitarra vai permanecer no cen�rio da m�sica popular “simplesmente porque � um dos instrumentos mais expressivos que existem”.
Com efeito, o guitarrista explorou novos sons em Beneath the eyrie. � o caso da faixa Silver bullet, em que a “qualidade g�tica” do disco fica bem clara. “A essa altura, tenho um som pr�prio. N�o tentamos nenhum ‘detour’ (desvio). Temos sorte de ter um estilo para o qual sempre podemos apelar. Sempre queremos alcan�ar e soar como os Pixies”, enfatiza Santiago.
PODCAST Uma das novidades ligadas ao �lbum � o It’s a Pixies Podcast . Dispon�vel nas plataformas de �udio, ele compartilha, com riqueza de detalhes, o processo de grava��o de Beneath the eyrie. A s�rie de 12 epis�dios, narrada e produzida pelo jornalista brit�nico Tony Fletcher, traz entrevistas, demos e registros realizados no est�dio Dreamland Recordings, em Woodstock, Nova York.
A documenta��o em tempo real do processo de trabalho de uma das maiores bandas do mundo � interessante. “Tony foi uma mosca na parede”, conta Santiago. “A gente nem sabia que estava sendo gravado, depois de algum tempo. Havia pequenos microfones instalados ali. H� document�rios e filmes sobre o processo de grava��o de outras bandas, at� dos Beatles, mas um podcast assim... Acho que n�o existe.”
Santiago diz que seu relacionamento com Francis Black – a dupla se conheceu na faculdade, em Boston, e logo em seguida formou o Pixies – est� “melhor do que nunca”. Ao comentar a parceria com a argentina Paz, ele descreve a baixista como “um sopro de ar fresco” no grupo. “Ela � positiva, muito criativa, muito bem-humorada. Todos nos sentimos muito confort�veis com ela no est�dio.”
Ainda sem previs�o de voltar ao Brasil – o �ltimo show por aqui foi em 2014, num hist�rico Lollapalooza –, Pixies far� turn� mundial a partir do m�s que vem. Em 24 e 25 de fevereiro, o grupo se apresenta em Yokohama e T�quio, no Jap�o, seguindo para China, Nova Zel�ndia e Austr�lia. Por enquanto, a agenda vai at� setembro, com espet�culos em Israel e na Europa. (Estad�o Conte�do)
