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Estado de Minas

Longa brasileiro na disputa pelo Urso de Ouro estreia em Berlim

'Todos os mortos', de Marco Dutra e Caetano Gotardo, que aborda as heran�as do passado escravista do pa�s, foi apresentado no domingo (23), no festival alem�o


postado em 24/02/2020 04:00 / atualizado em 23/02/2020 19:30

As atrizes Leonor Silveira e Mawusi Tulani, os diretores Caetano Gotardo e Marco Dutra, e as atrizes Clarissa Kiste e Carolina Bianchi, ontem, no Festival de Berlim (foto: Gregor Fischer/AFP)
As atrizes Leonor Silveira e Mawusi Tulani, os diretores Caetano Gotardo e Marco Dutra, e as atrizes Clarissa Kiste e Carolina Bianchi, ontem, no Festival de Berlim (foto: Gregor Fischer/AFP)
Representante brasileiro na competi��o pelo Urso de Ouro do 70º Festival de Berlim, Todos os mortos foi exibido no domingo (23) na mostra alem�. Escrito e dirigido por Marco Dutra e Caetano Gotardo, o longa mostra os embates – em torno de reconhecimento e sobreviv�ncia – das mulheres de uma fam�lia branca e outra negra no per�odo imediatamente posterior � aboli��o da escravid�o no pa�s.

Gotardo afirmou, em entrevista coletiva logo ap�s a sess�o do filme para a imprensa, que a ideia inicial dos diretores era “pensar sobre a estrutura social nesse per�odo determinado do fim da escravid�o, uma estrutura que ainda est� muito presente na nossa sociedade”.

O diretor disse que “quando se pensa sobre estrutura social no Brasil, � preciso falar sobre ra�a” e pontuou que n�o se trata apenas “de falar sobre negritude, mas tamb�m sobre a ideia do branco, essa ideia opressiva de que o branco � o neutro”.

Para exemplificar seu argumento, Gotardo afirmou que, se um roteiro brasileiro n�o menciona especificamente a ra�a de uma personagem, sup�e-se que ela seja branca. “Isso n�o faz sentido. Quer�amos olhar para isso no Brasil.”

Questionados se o dramaturgo Anton Tchekhov (1860-1904) havia sido uma influ�ncia para seu filme, os diretores se disseram admiradores da obra do russo. Gotardo apontou “dois elementos” caracter�sticos da escrita de Tchekhov que “t�m a ver com os personagens” de Todos os mortos.

SUBJETIVIDADE 

“Quer�amos construir personagens complexos. E, em Tchekhov, cada personagem, por menor que seja, tem uma profunda vida interior, tem sua luz e sua subjetividade. Cada personagem de Tchekhov tamb�m representa uma linha de pensamento. E quer�amos que nossos personagens tivessem isso – vis�es diferentes e modos distintos de compreender o mundo”, afirmou.

O diretor chamou a aten��o para o fato de que a edi��o 2020 do Festival de Berlim selecionou 19 filmes brasileiros (escalados em diversas se��es paralelas � competi��o pelo Urso) e que o Festival de Roterd� (22/1 a 2/2) programou 12 t�tulos nacionais.

“O fato de termos filmes brasileiros em cada festival internacional importante mostra que temos um cinema diverso no Brasil hoje. Nosso cinema atingiu um equil�brio e come�ou a ter uma narrativa mais plural e interessante. Estamos apresentando um filme que n�o � uma exce��o, mas parte de um movimento art�stico que est� em curso no Brasil. Ainda n�o chegamos ao ponto ideal, mas ganhamos for�a”, afirmou.

Prosseguindo sua an�lise sobre o quadro atual da produ��o cinematogr�fica brasileira, Gotardo afirmou que “agora esse cinema est� sob ataque. � importante estar aqui e mostrar esses filmes numa vitrine internacional e tamb�m mostr�-los internamente com sucesso comercial, para nos dar energia para continuar fazendo filmes e lutar contra esse ataque. Estar aqui com tantos filmes � um ato de resist�ncia,  tem um peso simb�lico”.

A produtora Sara Silveira foi ainda mais enf�tica ao criticar as medidas do governo Jair Bolsonaro que revertem a pol�tica cultural para o audiovisual implementada durantes os governos do PT, caracterizada sobretudo pelo fortalecimento da Ag�ncia Nacional do Cinema (Ancine), encarregada de fomentar e regular o setor. A atual administra��o anunciou medidas para cortar fundos da Ancine e a inten��o de implementar “filtros” na sele��o de projetos.

“Temos um governo de extrema-direita que est� atacando nossa cultura. Tenho 69 anos. Enquanto eu estiver viva, eles ter�o que me ouvir, porque eu n�o vou me calar. N�s vamos resistir. Espero que meus colegas tamb�m lutem contra a censura”, disse, antes de erguer o punho e levantar a voz para dizer: “Resist�ncia!”.

O Festival de Berlim segue at� o pr�ximo dia 1º de mar�o. O j�ri da competi��o oficial � presidido pelo ator brit�nico Jeremy Irons e tem o cineasta brasileiro Kleber Mendon�a Filho (Bacurau) como um de seus membros. Os demais integrantes s�o a atriz argentina radicada na Fran�a Berenice Bejo, a produtora alem� Bettina Brokemper, a cineasta pelestina Annemarie Jacir, o diretor e roteirista norte-americano Kenneth Lonergan e o ator italiano Luca Marinelli.

Cena de 'Todos os mortos', que compete em Berlim(foto: Vitrine Filmes/Divulgação)
Cena de 'Todos os mortos', que compete em Berlim (foto: Vitrine Filmes/Divulga��o)
 

70º FESTIVAL DE BERLIM
Confira quais s�o os longas da competi��o

>> Berlin Alexanderplatz, de Burhan Qurbani (Alemanha/Holanda)
>> DAU. Natasha, de Ilya Khrzhanovskiy, e Jekaterina Oertel (Alemanha, Ucr�nia, Reino Unido, R�ssia)
>> Domangchin yeoja, de Hong Sangsoo (Coreia do Sul)
>> Effacer l'historique, Benoit Del�pine e Gustave Kervern (Fran�a/B�lgica)
>> O fugitivo, de Natalia Meta 
(Argentina, M�xico)
>> Favolacce, de Damiano e Fabio D'Innocenzo (It�lia, Su��a)
>> First cow, de Kelly Reichardt (EUA)
>> Irradi�s, de Rithy Panh (Fran�a, Camboja)
>> Le sel des larmes, de Philippe Garrel (Fran�a, Su��a)
>> Never rarely sometimes always, 
de Eliza Hittman (EUA)
>> Rizi, de Tsai Ming-Liang (Taiwan)
>> The roads not taken, de Sally Potter (Reino Unido)
>> Schwesterlein, de St�phanie Chuat e V�ronique Reymond (Su��a)
>> Sheytan vojud nadarad, de Mohammad Rasoulof (Alemanha, Rep�blica Tcheca, Ir�)
>> Siberia, de Abel Ferrara 
(It�lia, Alemanha, M�xico)
>> Todos os mortos, de Caetano Gotardo, Marco Dutra (Brasil, Fran�a)
>> Undine, de Christian Petzold 
(Alemanha, Fran�a)
>> Volevo nascondermi, de Giorgio Diritti (It�lia)

Argentina compete com filme de terror

'O fugitivo' é o segundo longa-metragem da diretora Natalia Meta(foto: TOBIAS SCHWARZ/AFP)
'O fugitivo' � o segundo longa-metragem da diretora Natalia Meta (foto: TOBIAS SCHWARZ/AFP)
H� seis anos afastada da disputa pelo Urso de Ouro, a Argentina voltou � competi��o neste 2020 com O fugitivo, um thriller dirigido por Natalia Meta e estrelado por �rica Rivas e Ceccilia Roth. O fugitivo foi apresentado no segundo dia da mostra.

Em seu segundo longa-metragem, a diretora se inspirou no romance de terror El mal menor, de C. E. Feiling (sem publica��o em portugu�s). Al�m de Rivas e Roth, integram o elenco Daniel Hendler – que j� levou o Urso de Prata de melhor ator em Berlim com O abra�o partido, (em 2004) e Nahuel P�rez Biscayart (120 batimentos por minuto), que participa de outro filme na mostra alem�, o russo Li��es persas, da se��o Special Gala.

Rivas interpreta In�s, uma profissional de dublagem e membro de um coral. Depois de viver uma experi�ncia traum�tica, ela passa a ter pesadelos e alucina��es e tem dificuldades de distinguir entre fantasia e realidade.

Pouco a pouco, os sons ocupam o corpo da protagonista, numa trama que tamb�m desafia o limite entre o sono e a vig�lia e instaura uma atmosfera de tens�o permanente. “Queria apagar a fronteira do bem e do mal” t�o caracter�stica dos thrillers, afirmou a diretora em Berlim.

Depois de estrear com o longa policial Morte em Buenos Aires (2014), Meta decidiu explorar o g�nero de terror. Seu problema: “Tenho muito medo de filmes de terror. � s�rio”, confessou. “Mas decidi perder o medo e comecei a assistir” a filmes do g�nero “em casa, durante o dia, com todas as janelas abertas”.

Assim, Mullholland Drive – A Cidade dos Sonhos, de David Lynch, � uma das grandes refer�ncias de O fugitivo, embora Meta volte a mover novamente as fronteiras e incorpore elementos de com�dia – protagonizados principalmente pelo insuport�vel namorado de In�s, Leopoldo (Daniel Hendler) – e de drama.

Outro protagonista do filme: os sons que enlouquecem In�s e desafiam o espectador ao mesmo tempo. “O som � quase indistingu�vel” da a��o. “Quando batem na porta, no filme, pode ser perfeitamente a da sua casa”, afirmou Meta. 


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