
Dezenove produ��es, entre longas, m�dias e curtas, ficcionais ou document�rios, alguns deles coprodu��es com outros pa�ses, tornam a presen�a brasileira maci�a no 70º Festival de Cinema de Berlim, que tem in�cio nesta quinta-feira (20).
“� uma participa��o expressiva em um momento t�o complicado, em que a atividade art�stica vem sofrendo ataques no pa�s. � muito bom n�o ser exce��o e fazer parte da for�a coletiva, mostrando o resultado de uma constru��o que est� sendo feita h� muitos anos”, afirma o diretor paulista Caetano Gotardo.
Todos os mortos, que Gotardo dirigiu com Marco Dutra, � o principal longa nacional no festival alem�o. Ele disputa o Urso de Ouro com outros 17 longas de 19 pa�ses – h� diversas coprodu��es; incluindo o filme brasileiro, que tem participa��o da Fran�a.
A estreia de Todos os mortos na competi��o est� marcada para o pr�ximo domingo (23). O diretor pernambucano Kleber Mendon�a Filho (Bacurau, Aquarius) integra o j�ri oficial, presidido pelo ator brit�nico Jeremy Irons. A mostra vai at� 1º de mar�o.
Ambientado na S�o Paulo de 1899 e 1900, Todos os mortos acompanha v�rios personagens que integram duas fam�lias: os Soares, brancos; e os Nascimentos, negros. A narrativa se situa pouco mais de uma d�cada ap�s a aboli��o da escravid�o (1888) e mostra os Soares j� decadentes, mas ainda presos � ideia de superioridade e posse oriunda do per�odo escravista.
S�o personagens femininas que protagonizam a hist�ria, com roteiro dos dois diretores. Uma delas � a ex-escrava In� Nascimento, que luta para reunir os que lhe s�o pr�ximos em um mundo ainda hostil a ela. Outra personagem de destque � Isabel Soares, integrante de uma fam�lia outrora poderosa.
“(No filme) A gente tenta entender esse Brasil de uma elite que se deu essa chance ao abolir a escravid�o, mesmo sendo um dos �ltimos a faz�-lo. Naquele momento do Brasil rep�blica, ele � um dos mais industrializados e est� numa esp�cie de rota comercial internacional. Ou seja, � um pa�s integrado ao mundo e as pessoas n�o sabiam o que seria do s�culo 20”, comenta Dutra. “� um filme que tenta olhar o passado para entender o presente”, acrescenta Gotardo.
Mesmo sendo um longa de �poca, os diretores n�o ficaram preocupados com uma “absoluta reconstru��o do per�odo”, comenta Gotardo. Rodaram em S�o Paulo – a loca��o principal foi uma casa dos anos 1920 no Bairro da Liberdade – e em Amparo, no interior do estado.
“A gente n�o tinha no��o de qu�o dif�cil seria fazer um filme de �poca. A maioria das constru��es do per�odo que est�o bem preservadas s�o museus ou espa�os ocupados e muito ativos, onde n�o d� para fazer um filme. Foi muito dif�cil chegar em um consenso para mostrar a S�o Paulo de 120 anos atr�s. Tanto que fizemos uma mistura de tempos”, diz Dutra.
Ter quatro mulheres e uma crian�a como protagonistas em um filme panor�mico foi uma consequ�ncia de como a narrativa foi se firmando. “Os personagens homens s�o muito apegados a uma ideia de que as coisas est�o se resolvendo no pa�s. J� as mulheres s�o mais cr�ticas. Tanto a In�, que trabalhava para os Soares, quanto a pr�pria Isabel, que reconhece a fal�ncia financeira da fam�lia antes do marido”, diz Dutra.
No elenco est�o atrizes que j� trabalharam anteriormente com os diretores, como Clarissa Kiste, que esteve em Trabalhar cansa (2011, primeiro longa de Dutra, codirigido com Juliana Rojas) e Gilda Nomacce (Trabalhar cansa e As boas maneiras, de 2017, outra dire��o conjunta de Dutra e Rojas). O filme ainda tem participa��es da atriz portuguesa Leonor Silveira, presente no elenco de produ��es de Manoel de Oliveira, e da cantora Ala�de Costa.
Uma produ��o mineira est� entre os selecionados de Berlim. Rodado em dezembro de 2018 em Belo Horizonte, a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes (onde teve seu lan�amento, em janeiro de 2019), Vaga carne � um m�dia-metragem de Grace Pass� (que tamb�m o escreveu e protagonizou) e Ricardo Alves Jr. O filme ter� sua premi�re neste s�bado (22), dentro da mostra F�rum Expandido, dedicada a produ��es mais experimentais.

O filme nasceu da pe�a hom�nima, sobre uma voz que, depois de ter invadido subst�ncias l�quidas, gasosas e s�lidas, toma posse do corpo de uma mulher. Juntos, voz e corpo procuram por uma identidade pr�pria – Vaga carne tamb�m tem uma edi��o em livro. O filme j� foi exibido em Nova York, e o espet�culo foi encenado em Portugal e na Alemanha.
“A dramaturgia que a Grace criou � muito rica em significados, portanto, sempre reverbera diferentes leituras em quem assiste tanto � pe�a quanto ao filme, seja no Brasil ou fora”, comenta Alves Jr. Para ele, a produ��o dialoga diretamente com a se��o do festival alem�o em que vai ser exibida. “F�rum Expandido tem como proposta expandir a compreens�o do que � um filme, testar os limites da conven��o e abrir novas perspectivas de linguagem. Pois o projeto que a Grace vem desenvolvendo � uma experi�ncia de expans�o de linguagem, j� que tem literatura, teatro e cinema.”
Karim A�nouz exibe document�rio
Filmado ao longo de um dia com uma c�mera de celular, o document�rio Nardjes A. � o primeiro filme de Karim A�nouz desde A vida invis�vel, que venceu a mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes no ano passado e foi o escolhido pelo Brasil para representar o pa�s no Oscar. Nardjes A. ter� sua estreia na mostra Panorama, paralela � competi��o oficial do Festival de Berlim, neste domingo (23).“Glauber deve estar se virando na cova. Filmar com telefone n�o foi uma escolha est�tica. Foi necessidade mesmo”, afirma o diretor cearense, h� muitos anos dividido entre o Brasil e a Alemanha. Ele conta que Nardjes A. nasceu por acaso. Na Arg�lia para rodar Argelino por acidente (t�tulo provis�rio), filme que remonta � hist�ria de seus pais – ele, um engenheiro argelino; ela, uma bioqu�mica brasileira –, A�nouz se deparou com um momento hist�rico. “H� um ano, em 22 de fevereiro, come�aram a acontecer manifesta��es espont�neas no pa�s. � uma galera muito jovem, 1 milh�o de pessoas na rua, e acabei meio que 'sequestrado' por isso”, diz. A popula��o argelina se levantou contra a possibilidade de um quinto mandato do presidente Abdelaziz Bouteflika.

O cineasta participa da Panorama dois anos depois de ter lan�ado o document�rio Aeroporto central na mesma mostra. Ainda em Berlim, concorreu ao Urso de Ouro com Praia do Futuro (2014). “� bacana participar da Berlinale, al�m do mais porque h� uma sele��o grande de document�rios de den�ncia. E a gente v� muito pouca coisa da Arg�lia na m�dia”, afirma. Atualmente, ele est� montando Argelino por acidente. Esta participa��o em Berlim ser� a primeira de A�nouz num festival internacional desde a infrut�fera campanha brasileira para tentar uma indica��o ao Oscar de filme internacional. “Foi muito importante participar da campanha. Acho que o que mais aprendi foi como navegar dentro da ind�stria.”
TV PROMOVE RETROSPECTIVA
At� 1º de mar�o, �ltimo dia do Festival de Berlim, o Canal Brasil exibe filmes que participaram de edi��es anteriores do festival. Nesta semana, as atra��es ser�o M�e s� h� uma (2016), de Anna Muylaret, vencedor do Teddy (pr�mio dedicado a filmes de tem�tica LGBT), que acompanha um adolescente n�o convencional e seu encontro com sua fam�lia biol�gica (sexta, 21, �s 23h10); Greta (2019), de Armando Pra�a, que apresenta Marco Nanini como um enfermeiro gay que tenta ajudar uma artista trans � beira da morte (s�bado, 22, �s 23h10); e Synonymes (2019), de Nadav Lapid, coprodu��o entre Israel, Fran�a e Alemanha vencedora do Urso de Ouro de 2019 (domingo, 23, �s 23h10).
MOSTRA COMPETITIVA
» Todos os mortos, de Caetano Gotardo e Marco Dutra
MOSTRA GERA��O
» Alice J�nior, de Gil BaroniIrm�, Luciana Mazeto e Vinicius Lopes
» Meu nome � Bagd�, de Caru Alves de Souza
» R�, de Julia Zakia e Ana Fl�via Cavalcanti
MOSTRA PANORAMA
» Cidade p�ssaro, de Matias Mariani
» O reflexo do lago, de Fernando Segtowick
» Vento seco, de Daniel Nolasco
» Nardjes A.,de Karim A�nouz (coprodu��o)
» Un crimen com�n, de Francisco M�rquez (coprodu��o)
MOSTRA F�RUM
» Luz nos tr�picos, de Paula Gait�n
» Vil, m�, de Gustavo Vinagre
» Chico Ventana tambien quisiera ter un submarino, de Alex Piperno (coprodu��o)
MOSTRA F�RUM EXPANDIDO
» (Outros) Fundamentos, de Aline Motta
» Apiyemiyeki?, de Ana Vaz
» Jogos dirigidos, de Jonathas de Andrade
» Letter from a guarani woman in search of her land without evil, de Patricia Ferreira
» Vaga carne, de Grace Pass� e Ricardo Alves Jr.
MOSTRA ENCONTROS
» Los conductos, de Camilo Restrepo (coprodu��o)