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Estado de Minas

'Ador�veis mulheres' renova interesse pelo livro 'Mulherzinhas', publicado em 1868

Obra tem diversas edi��es no Brasil. Tradutoras comentam desafio de verter a hist�ria das quatro irm�s para o portugu�s nos dias de hoje


postado em 28/02/2020 04:00 / atualizado em 27/02/2020 20:28

Cena de 'Adoráveis mulheres', de Greta Gerwig, que teve seis indicações ao Oscar(foto: Sony Pictures/Divulgação)
Cena de 'Ador�veis mulheres', de Greta Gerwig, que teve seis indica��es ao Oscar (foto: Sony Pictures/Divulga��o)

O romance Mulherzinhas tem muito mais do que as sete vidas do gato de Beth, � resistente igual � for�a de vontade de J� em se tornar escritora, bonito igual os desenhos de Amy e instrutivo como os ensinamentos de Meg.

Desde que foi publicada, em 1868, a hist�ria das quatro filhas do Dr. March criadas pela escritora Louisa May Alcott conheceu o topo das listas de vendas de livros. Foi assim no final do s�culo 19 e em outros momentos, especialmente quando novas adapta��es para filmes chegam aos cinemas. E j� foram algumas.

Em 1994, Winona Ryder interpretou J� em longa de Gillian Armstrong e, em 1987, as irm�s deram vida a uma anima��o japonesa. As quatro irm�s, de 1933, tem Katharine Hepburn no papel de J� e Elizabeth Taylor viveu Amy em Quatro destinos, de 1949. No Brasil, o livro virou s�rie realizada pela TV Tupi em 1959. Agora, o romance chega novamente �s listas de mais vendidos gra�as ao longa Ador�veis mulheres, de Greta Gerwig.

O filme ajudou a arejar o livro, que est� entre os mais vendidos dos sites e ganhou pelo menos quatro novas vers�es no mercado editorial brasileiro. Para quem n�o leu, � um bom momento para selecionar uma edi��o e mergulhar no texto delicado e cativante de Louisa May Alcott. Para quem j� leu, vale dar uma olhada nos pref�cios, an�lises e ilustra��es que acompanham as novas edi��es.

Uma das mais bonitas � a da Martin Claret, editada em capa dura, embora a rec�m-lan�ada pela Penguin Companhia seja a mais completa. Nesta �ltima, em um pref�cio surpreendente, a compositora e poeta Patti Smith conta como o livro foi importante para ela.

“Talvez nenhum outro livro tenha sido um maior guia para mim”, revela. “Muitos livros maravilhosos me fascinaram, mas, com Mulherzinhas, algo extraordin�rio aconteceu. Eu me reconheci, como num espelho, naquela menina comprida e teimosa que disputava corridas, rasgava as saias subindo nas �rvores, falava g�rias e denunciava as afeta��es sociais”, afirma.

CONVIV�NCIA

No livro, quatro irm�s de classe m�dia baixa tentam se equilibrar entre a escassez, os perigos de uma guerra civil e a aus�ncia do pai, convocado para trabalhar no campo de batalha. Cada uma tem personalidade muito pr�pria e o grande segredo da conviv�ncia de temperamentos e aspira��es t�o diferentes � o amor e a admira��o que cultivam entre elas.

Amy, a mais nova, � sonhadora e talentosa com o bloco de desenho, enquanto Beth, fr�gil de sa�de, se dedica ao piano e ao voluntariado. Meg, a mais velha, trabalha como professora, e J� � a for�a que se debru�a sobre a escrita.

Mulherzinhas, em muitos aspectos, pode parecer um pouco antiquado hoje por pregar valores crist�os e um tanto manique�stas, mas ainda � considerado um libelo feminista de uma escritora muito � frente de seu tempo.

“A autora � uma feminista progressista numa sociedade ainda mais retr�grada e machista do que a nossa atual e coloca suas mulheres como protagonistas absolutas de uma hist�ria com enorme for�a feminina, questionamento de liberdades e ternura. O livro � atemporal justamente por tratar de dores, desilus�es, valores, ang�stias, amores, aprendizados, aventuras, desafios com os quais todos conseguem se identificar de certa maneira”, aponta Maryanne Linz, tradutora da edi��o da Jos� Olympio.

J�, vista por muitos como um alter ego de Louisa May Alcott, � o avan�o em pessoa para aquele final de s�culo 19: escreve para um jornal, n�o quer se casar ou ter filhos, corta os longos cabelos para doar o dinheiro da venda aos necessitados e passa longe das conven��es sociais.

Louisa foi enfermeira durante a Guerra Civil dos Estados Unidos e evitou o casamento o quanto p�de. Filha de um educador intelectual cujo c�rculo de amizades inclu�a os autores e pensadores Henry David Thoreau, Nathaniel Hawthorne e Ralph Waldo Emerson, cresceu rodeada por ideias nada convencionais para a �poca. Mulherzinhas foi um sucesso quando publicado e estimulou a autora a escrever uma sequ�ncia, publicada originalmente como Good wives.


LI��O

Boa parte das edi��es brasileiras trazem os dois volumes, ambos sob o t�tulo de Mulherzinhas. Julia Romeu, tradutora da edi��o da Penguin, v� na hist�ria das irm�s uma li��o importante. “Ele (o romance) diz que n�s precisamos lidar com as decep��es da vida. Tem um cap�tulo no qual Jo, Meg, Beth, Amy e Laurie dizem quais s�o os seus castelos no ar. Nenhum deles consegue exatamente o que quer, mas eles aprendem a ser felizes com o que t�m”, observa.

Para Julia, o maior desafio da tradu��o do romance consistiu em escolher cuidadosamente o vocabul�rio. Como o livro data do fim do s�culo 19, n�o poderia ser moderno demais. “Tinha de ser equilibrado com o fato de que as meninas falam de maneira muito natural, nada empolada. J� at� � criticada pelas irm�s por usar v�rias g�rias. O desafio foi encontrar esse equil�brio”, explica.

Maryanne Linz conta que encontrar o tom certo para um cl�ssico respons�vel por arrebatar milh�es de leitores pelo mundo foi bastante dif�cil. Todo trabalho de tradu��o, ela lembra, exige adequa��o ao tom do texto original e ao p�blico ao qual se destina.

“Mas, num cl�ssico como esse � preciso ainda mais cuidado para que o original seja respeitado”, diz. O “desconfi�metro” do tradutor, ela diz, precisa estar afiado e pronto para a pesquisa porque, �s vezes, ele vai se deparar com costumes, comportamentos e at� mesmo objetos que nem sequer existem mais.

A escritora Carina Rissi, autora da s�rie Perdida e sucesso entre adolescentes, descobriu o romance depois de assistir ao filme com Winona Ryder, nos anos 1990. Do filme, foi para o livro. “O grande brilho do livro � que � uma hist�ria atemporal. O mundo evoluiu tanto, mas, em certos aspectos, pelo menos na luta feminina, a gente parece patinar nas mesmas dificuldades. E acho t�o lindo essa briga da J� de querer ser escritora: uma mulher que tenta seguir um caminho diferente sempre encontra dificuldade. Acho muito legal isso de serem quatro mulheres com personalidades distintas. N�o existe uma maneira certa de ser mulher”, afirma a escritora, que assina a orelha do livro da edi��o da Jos� Olympio.


Tr�s perguntas para...
J�lia Romeu
tradutora da edi��o da Penguin

O que h� de t�o atraente no romance? 
Os personagens s�o muito reais, o que faz com que a gente consiga se identificar com eles. Al�m disso, � um livro que consegue fazer rir, fazer chorar e fazer refletir, ora sendo leve, ora profundo. Isso � muito raro e muito especial.

O que ainda � atual em Mulherzinhas para atrair os leitores no s�culo 21?
O livro fala sobre o processo de amadurecimento de quatro meninas (e de um menino tamb�m, pois Laurie � um personagem quase t�o importante quanto as irm�s). Esse amadurecimento envolve aprender a admitir erros, a lutar contra v�cios, a fazer sacrif�cios. Isso faz parte da vida de todo mundo e acho que nunca vai deixar de ser um tema relevante.

O que mais lhe chamou a aten��o na maneira como Louisa May Alcott desenvolve a narrativa?
Acho que h� uma diferen�a entre a primeira e a segunda partes do livro. Na primeira, os cap�tulos existem de maneira mais independente uns dos outros, com cada um relatando um epis�dio na vida das irm�s. Na segunda, os cap�tulos formam um todo mais coeso que desenvolve o tema do amadurecimento. Embora a segunda parte deixe uma impress�o profunda, eu acho a primeira mais cativante, talvez por ser mais leve e ter tantas cenas memor�veis.


UM LIVRO, DIVERSAS EDI��ES
Confira vers�es do romance dispon�veis no Brasil

Mulherzinhas
• Louisa May Alcott
• Tradu��o: Diego Raigorodsky Martin e Claret (680 p�gs.; inclui Good wives)
• R$ 62,43

Mulherzinhas
• Louisa May Alcott
• Tradu��o: Maryanne Linz
• Jos� Olympio (322 p�gs.)
• R$ 39,90

Mulherzinhas
• Louisa May Alcott
• Tradu��o: Julia Romeu
• Penguin Companhia (700 p�gs., inclui Good wives)
• R$ 47,92

Mulherzinhas
• Louisa May Alcott
• Tradu��o: Giu Alonso
• Valentina (464 p�gs.)
• R$ 41,90


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