'Idoso, hipertenso e diab�tico', Macal� transforma a m�sica em vacina

''Meus dias t�m sido assim, toco com o Jo�o Gilberto, depois com Miles Davis e com o Jimi Hendrix''

Jards Macal�, cantor e compositor

Em um tempo que agora parece distante, quando bares e botecos podiam ser frequentados livremente, sem o espectro amedrontador de um v�rus invis�vel ou decretos que exigem dos comerciantes portas fechadas, quatro amigos se reuniram para jogar conversa fora no Centro do Rio de Janeiro. Papo vai, papo vem, um deles diz a que veio: contratado para fazer um show no tradicional Teatro Jo�o Caetano, com capacidade para mais de 1 mil pessoas, tremeu na base e decidiu pedir ajuda aos outros tr�s.

Protagonistas dessa anedota, os m�sicos Moacyr Luz, Jards Macal�, Z� Renato e Guinga sa�ram, naquela noite, do centen�rio Bar Luiz com as bases do que se tornaria o celebrado show Dobrando a Carioca, cujo DVD est� dispon�vel, na �ntegra e gratuitamente, no canal da gravadora Biscoito Fino no YouTube.

“Foi um projeto muito divertido de fazer e tamb�m foi um sucesso”, comenta Jards Macal�, em entrevista por telefone. “Desde o in�cio, a ideia de reunir amigos para tocar m�sicas de que gostamos, por prazer, sempre me agradou. O repert�rio, ent�o, se transformou em uma forma de celebrar as composi��es de cada um e tamb�m de tocar canc�es de colegas que a gente admira. Passamos 10 anos fazendo esse show, percorremos o Brasil todo e nos apresentamos para casas cheias, mas o que mais me marcou foi o quanto foi divertido.”

Apesar do repert�rio imerso em cl�ssicos da m�sica popular brasileira, o cantor e compositor acredita que o t�tulo do projeto ainda � uma inc�gnita para quem desconhece o vocabul�rio da boemia carioca. “Mas eu explico”, diz Macal�. “A ideia inicial, pode-se dizer, nasceu no Bar Luiz, que fica na Rua da Carioca. Literalmente dobrando ela, ou seja, numa rua que a atravessa, fica a Pra�a Tiradentes, onde est� o Teatro Jo�o Caetano, que abrigou a nossa primeira apresenta��o. Por isso o nome. Muita gente n�o entende, acha que � 'dobradinha carioca', mas a gente explica, sem problemas”, diverte-se.

Gravado em 2016 no palco do Sesc Gin�stico, no Rio de Janeiro, o show alterna can��es autorais dos quatro com cl�ssicos como Um a zero (Pixinguinha/ Benedito Lacerda/ Nelson Angelo), A saudade mata a gente (Ant�nio Almeida/ Jo�o de Barro), Acertei no milhar (Wilson Batista/ Geraldo Pereira) e Nega Dina (Z� Keti). No arco que prestigia o trabalho de Macal�, n�o ficam de fora Vapor barato, parceria dele com Waly Salom�o, e O mais que perfeito, composta com Vinicius de Moraes.

Do alto de seus 77 anos, Jards Macal� considera o DVD uma boa pedida para estes dias de quarentena. “Idoso, hipertenso e diab�tico”, como ele mesmo frisa, o carioca est� isolado em seu s�tio, localizado no munic�pio de Itatiaia, na divisa do Rio de Janeiro com Minas Gerais. Ao lado da mulher, do irm�o e da cunhada, ele tem passado os dias revisitando a pr�pria obra e ouvindo muita m�sica.

“Desde que come�amos a quarentena, h� duas semanas, s� sa� daqui ontem para tomar a vacina da gripe. Quando voltamos, cumprimos todo o protocolo de higieniza��o, mesmo que aqui ainda n�o tenha nenhum caso de coronav�rus”, conta.

“Para passar o tempo, tenho me estudado e entrado em contato com meu acervo. Ontem mesmo, assisti a um DVD rar�ssimo do Jo�o Gilberto, ultra bem gravado no Jap�o. Meus dias t�m sido assim, toco com o Jo�o Gilberto, depois com Miles Davis e depois com o Jimi Hendrix. S� espero que depois disso tudo, dessa crise, a humanidade saia melhor, porque se n�o sair, a� j� era.”

NO AR

Al�m de Dobrando a Carioca, a Biscoito Fino disponibiliza, em seu canal no YouTube, outros shows completos. J� est�o no ar apresenta��es de Alcione, Gal Costa, Maria Beth�nia com Zeca Pagodinho, Kleiton & Kledir e Silvia Machete.

Nesta sexta-feira (3), ao meio-dia, ser� a vez de Paulo Costta e Moreno Veloso apresentarem Meu Rec�ncavo. Na pr�xima ter�a-feira (7), ser� disponibilizado o show Navega ilumina, de Francis Hime e, na quinta (9), Caravanas ao vivo, de Chico Buarque.

 

Quem tamb�m aproveita os dias de quarentena para ganhar espa�o na web � a cantora e compositora Adriana Calcanhotto. Desde que foi impedida de lecionar na Universidade de Coimbra, em Portugal, por conta da pandemia, a ga�cha vem se ocupando de garantir a presen�a nas redes e se tornou, para muitos, uma esp�cie de youtuber cult.

Na s�rie de v�deos Minha m�sica, publicados no YouTube (foto) �s segundas e quintas-feiras, por volta das 17h, ela abre seu “cafofo musical” para dissecar canc�es que a projetaram na MPB.

Os sucessos Vambora, Esquadros e Mentiras j� ganharam v�deos e, a depender do extenso cat�logo musical da artista, a quantidade de v�deos publicados s� tende a crescer.