IDLES demonstram que s�o a voz raivosa de uma gera��o

Representante de uma nova gera��o do punk rock feito no Reino Unido sob a inconformidade gerada pelo Brexit, o grupo IDLES � daqueles que provavelmente cairiam no esquecimento, n�o fosse por um detalhe quase impercept�vel. No caso desses rapazes de Bristol, o timing perfeito se uniu ao som brutal, cheio de f�ria, aliado a letras que versam sobre temas extremamente atuais, como sexismo, por exemplo. Pode-se dizer que temos a� um fen�meno, a voz de uma gera��o.O diferencial do grupo, no entanto, n�o est� somente no fato de que eles parecem t�o inconformados quanto o p�blico que os acompanha. O que torna os IDLES dignos de alcan�arem reconhecimento internacional depois de quase 10 anos de estrada � a maneira como Joe Talbot (vocal), Mark Bowen (guitarra), Lee Kiernan (guitarra), Adam Devonshire (baixo) e Jon Beavis (bateria) se comportam em cima de um palco. Longe de qualquer apatia comumente associada a alguns grupos de rock europeus, os cinco se transformam em animais raivosos diante dos f�s quando tocam m�sicas como Never fight a man with a perm ou Well done. 

A resposta, em geral, se d� na mesma intensidade, como est� registrado no �lbum A beautiful thing (dispon�vel nas plataformas digitais), gravado ao vivo durante o show da banda no Le Bataclan, em Paris, e captado no v�deo que ser� disponibilizado, na �ntegra, no YouTube, a partir das 15h desta sexta-feira (1º). Nele, o p�blico brasileiro pode conferir um pouco do que o grupo apresentaria nos dois shows marcados para o in�cio de abril, em S�o Paulo, como parte da programa��o do Lollapalooza Brasil. Em virtude da pandemia do novo coronav�rus, o festival foi adiado para o in�cio de dezembro e, por enquanto, somente os headliners Guns N'Roses, Travis Scott e The Strokes permanecem confirmados. 

Muito antes de ser escalado para um festival de grande porte na Am�rica do Sul – ainda que num hor�rio bastante ingrato, �s 13h45 de uma sexta-feira –, o IDLES percorreu uma trajet�ria relativamente longa. A primeira forma��o da banda � de 2009, mas seu registro de estreia chegou somente em 2012, com o EP de quatro faixas Welcome. Embora tenha tido boa acolhida por parte da cr�tica, o grupo s� entrou em est�dio novamente tr�s anos depois, em 2015, quando lan�ou Meat, com mais quatro faixas, sucedido por Meta, que reunia os remixes das mesmas can��es.

A imprensa musical do Reino Unido se tornou cada vez mais entusiasmada com o trabalho dos m�sicos, e em 2016 eles lan�aram o single Divide & conquer. Na m�sica, dirigem uma amarga cr�tica aos cortes no or�amento que haviam prejudicado o Servi�o Nacional de Sa�de do pa�s. A m�sica se tornou a primeira faixa divulgada do disco de estreia, Brutalism, lan�ado em 2017. Feroz e, em muitos momentos, brilhante, o trabalho re�ne 13 composi��es cujos temas sat�ricos e o som pesado transformaram os IDLES em expoente de uma onda de bandas raivosas de l�ngua inglesa que gritam contra o sistema. 

Na esteira do sucesso obtido com o �lbum de estreia, a banda saiu em turn� e continuou a trabalhar em novos materiais. Em 2018, eles entraram novamente em est�dio para gravar o segundo disco, que foi lan�ado depois de uma s�rie de atrasos ocasionados por problemas pessoais de Joe Talbot, entre eles sua rela��o com a bebida, que hoje ele garante ter largado. Joy as an act of resistance, lan�ado em agosto de 2018, pode ser lido como uma resposta � batalha pela sobriedade, bem como aos ideais conservadores que se espalham pelo mundo, sem excluir o Reino Unido. Ponto para as ir�nicas faixas Television e Danny Nedelko. 

A capa j� diz muito: mostra um grupo de homens, em sua maioria grisalhos e engravatados, em posi��es amb�guas, que remetem � dan�a e, tamb�m, � briga. No show que entra no ar nesta sexta, o grupo apresenta essas e outras can��es que reiteram sua verve contestadora e pol�mica, como na �tima Mother e nas barulhentas I'm scrum e White privilege. Mais recentes lan�amentos do grupo, os singles Mercedes marxist e I dream guillotine n�o foram apresentados no show, mas, pelos t�tulos, j� d� para perceber o tom do discurso que eles devem assumir no pr�ximo disco. Vale a audi��o.

P�s-brexit, o punk brit�nico parece ter renascido. Ainda que eles n�o tenham um grande p�blico, talvez nunca lotem arenas mundo afora ou figurem no topo da grade dos grandes festivais, esses grupos provam que o punk rock permanece vivo e � mais do que bem-vindo em tempos estranhos como os que vivemos.

No melhor estilo Joy Division canalizando a voz de Ian Curtis (1956-1980), o vocalista Grian Chatten realiza nas m�sicas do Fontaines D.C um bem-vindo revival do p�s-punk de primeira qualidade. Com o �lbum de estreia, Dogrel, lan�ado em abril de 2019, a banda irlandesa conquistou admiradores ao redor do globo e estabeleceu o retorno a uma sonoridade bastante particular, barulhenta, mas, ainda assim, polida. A banda j� d� ind�cios de que o segundo disco est� a caminho.

Formada em Londres, a banda Shame tem na bagagem o disco Songs of praise, lan�ado em janeiro de 2018, que foi seu trampolim para o palco de grandes festivais. No �lbum, o grupo vai do rock cru produzido no fim dos anos 1970 ao som que marca o in�cio da d�cada de 2000 de maneira fren�tica, sempre pulsante. A colagem de refer�ncias pouco reflete novidade, ainda que n�o pare�a desgastada. No palco, eles apresentam um show igualmente en�rgico, � altura da pouca idade dos integrantes.