
Na capa de seu novo disco de est�dio, Tijolo por tijolo, dispon�vel nas plataformas digitais, Alcione aparece com um vestido branco e com largo sorriso no rosto. O semblante, uma de suas principais caracter�sticas, mudou um pouco desde que ela se isolou em casa, no Rio de Janeiro, em virtude da pandemia do novo coronav�rus. Com tempo de sobra para acompanhar o notici�rio, Alcione se sensibiliza diante da realidade, que n�o tem sido f�cil de encarar.
''Tudo o que tenho visto � muito triste. Tanto o caso de George Floyd, nos Estados Unidos, quanto as mortes que acontecem todos os dias no Brasil, n�o s� por conta da pandemia, mas tamb�m por causa da viol�ncia, me entristecem muito", comenta a cantora. ''L� fora, o que est� acontecendo � uma coisa muito bonita. As pessoas est�o tentando se organizar e mostrar que precisam, sim, ser mais respeitadas.''
Pelas redes sociais ela reitera o posicionamento. Na �ltima ter�a-feira, quando o mundo da m�sica parou para dar visibilidade ao trabalho de artistas negros com a campanha #BlackOutTuesday, seu perfil no Instagram foi devidamente abastecido com mensagens antirracistas e antifascistas.
No mesmo dia, mais tarde, ela participou da j� tradicional live da sambista Teresa Cristina, pela mesma rede social, e declarou: ''Vi aquela mat�ria do 'z� ningu�m' l� da Funda��o Palmares. Ainda dou na cara dele para parar de ser um sem-no��o''. A fala diz respeito � infeliz declara��o do atual presidente da Funda��o, S�rgio Camargo, chamando o movimento negro de ''esc�ria maldita'' e Zumbi dos Palmares de ''filho da puta''.
''A gente v� tanto sofrimento. Voc� v� os negros americanos naquela batalha. A gente v� as coisas que acontecem no Brasil, com bala perdida e tudo. Ent�o, a gente v� uma pessoa da nossa cor falando uma besteira daquelas, tenho vontade de arrancar da televis�o e encher de porrada para virar gente'', completou a cantora.
E o ant�doto para encarar as brutalidades do mundo, segundo ela, est� num universo que Alcione habita h� quase cinco d�cadas: a m�sica.
''Ele tinha que sair na quarentena'', responde, ao ser questionada se pensou em alterar a data do lan�amento do novo disco. ''As pessoas precisam de um consolo durante os dias em casa e a m�sica, pelo menos para mim, cumpre essa fun��o'', diz, revelando que tamb�m tem usado o tempo livre para assistir a filmes e s�ries nas plataformas de streaming.
Com 14 faixas in�ditas, Tijolo por tijolo chega sete anos depois do �ltimo disco de est�dio de Alcione, Eterna alegria (2013). Para construir esse repert�rio, ela pessoalmente selecionou sambas que foram compostos por nomes prestigiados como Serginho Meriti, Arlindo Cruz, Fred Camacho, J�lio Alves, Edil Pacheco, Z� Am�rico Bastos, Salgado Maranh�o, Telma Tavares e Roque Ferreira.
A bela can��o que d� nome ao disco, lan�ada como single, refor�a que o projeto � um �lbum de samba, gravado com produ��o de Alexandre Menezes, diretor musical da Banda do Sol – grupo que h� d�cadas acompanha Alcione em shows –, com arranjos de Jorge Cardoso, Jota Moraes, Wilson Prateado, Z� Am�rico Bastos e do pr�prio Alexandre.
ODE � CARREIRA
Para ela, a can��o � uma esp�cie de ode � pr�pria carreira. ''Foram muitos os tijolos para chegar at� aqui porque o mecanismo para divulgar um disco, quando eu comecei, n�o era como � hoje, com a internet. Antigamente, n�s �amos �s r�dios, eu andei pelas emissoras de todo este pa�s, de norte a sul, batendo perna para mostrar os meus LPs e foi assim que tornei o meu trabalho conhecido. Tijolo por tijolo mesmo'', descreve.Parceria de Toninho Geraes com Paulinho Rezende (compositor presente na discografia de Alcione desde 1970), Fasc�nio � outra integrante do repert�rio, que inclui homenagem ao jogador de futebol Pel� – saudado em O homem de tr�s cora��es, m�sica de Altay Veloso e Paulo C�sar Feital – e a parceria de Jorge Vercillo com Zeppa em Meu universo.
''Esse � um disco especialmente importante para mim porque nele est�o compositores que admiro muito, s�o pessoas que quando trabalham em uma composi��o sabem o que est�o fazendo. E a prova disso � a qualidade de todas as letras que gravei'', comemora.
''Tudo o que tenho visto � muito triste. Tanto o caso de George Floyd, nos Estados Unidos, quanto as mortes que acontecem todos os dias no Brasil, n�o s� por conta da pandemia, mas tamb�m por causa da viol�ncia''
Alcione, cantora

Sem colocar o p� fora de casa
Aos 72 anos e parte do grupo de risco diante do coronav�rus por ser diab�tica, Alcine garante que est� seguindo a quarentena � risca e n�o vai nem at� o port�o de sua casa. Quando lhe sugeriram fazer o primeiro show remoto da carreira, ela confessa que teve certa pregui�a e tentou desconversar, mas depois que embarcou nesse universo, tem gostado de estar nele.
''N�o sou uma pessoa muito chegada na internet, mas tenho uma equipe que me auxilia muito nessas tecnologias'', conta. ''Quando fiz a primeira live, a proposta era que ela fosse solid�ria. Recebi tanta doa��o para as pessoas do Maranh�o, que depois resolvi fazer outra. Cantar durante a quarentena � uma coisa muito boa e � muito bom estabelecer essa conex�o com as pessoas que me acompanham. Eles tamb�m querem saber como estou durante esse momento e a live � uma oportunidade para a gente se conectar a dist�ncia.''
Apesar disso, ela reitera que a presen�a ao vivo do p�blico � insubstitu�vel e uma das coisas de que mais sente falta �, justamente, o palco. ''D� uma saudade imensa estar diante da plateia, sentir aquele 'sonza�o', ver as pessoas cantando e se divertindo. Mas agora o momento � de resguardo. Ent�o, n�s temos que respeitar essa quarentena e ficar em casa'', defende.
Quando o isolamento acabar e for poss�vel realizar shows, Alcione pretende levar ao palco o novo disco para os f�s e visitar o Maranh�o, sua amada terra natal. ''Uma das primeiras coisas que quero fazer � comer um sorvete no Elefantinho'', conta, relembrando a sorveteria mais antiga da capital maranhense, S�o Lu�s.
E o restante do ano ainda promete. No segundo semestre, ela antecipa, ser� lan�ado o esperado document�rio sobre sua trajet�ria, Eu sou a Marrom, dirigido por Angela Zo�, e tamb�m um musical sobre sua vida dirigido por J� Santana e Miguel Falabella. Afinal, o show n�o pode parar, brinca a artista.
TIJOLO POR TIJOLO
• Alcione
• Biscoito Fino
• Dispon�vel nas plataformas digitais