
“O s�o-jo�o � o nosso ver�o. Junho e julho, para n�s, � como a alta temporada de quem trabalha no litoral”. A compara��o feita por Fred Letro, zabumbeiro e vocalista do Trio Lampi�o, resume a preocupa��o de quem se dedica �s festas juninas h� mais de 15 anos e se depara com um cen�rio in�dito devido � pandemia da COVID-19. Com o cancelamento e adiamento de eventos em todo o Brasil, artistas vivem a incerteza sobre o futuro, sem trabalho nos meses mais importantes da agenda.
Entre junho e julho, o grupo belo-horizontino chegava a fazer 40 apresenta��es, conta Letro. “Tinha semana com um show por dia, entre festas juninas fechadas e de empresas, apresenta��es no interior e eventos abertos.” At� o momento, n�o h� previs�o de volta aos palcos. O que resta para o bimestre s�o as lives, apresenta��es ao vivo na internet. Por�m, o formato ainda n�o representa uma boa alternativa financeira para os m�sicos.
PATROC�NIO
“Sem o show ao vivo, ou seja, sem poder aglomerar, ficou bem dif�cil. Vamos fazer lives em junho e julho, um novo formato para n�s. N�o temos tanta experi�ncia nisso e ainda faltam patroc�nios e apoiadores. Para quem atrai mais m�dia � mais f�cil, acompanhei v�rias lives de grandes artistas, achei interessante. Mas fica a dificuldade para n�s, que fazemos m�sica mais espec�fica e n�o temos o respaldo gigante como os sertanejos, por exemplo. � uma dificuldade a mais”, lamenta Letro.Adepto das vertentes tradicionais do forr�, o trio mescla bai�o, coco, xaxado, xote e arrasta-p�. Lampi�o lan�ou um EP com m�sicas autorais, em 2011, e outro, em 2015, resultado de uma turn� pela Europa em 2014, viabilizada pelo edital M�sica Minas. O futuro � uma inc�gnita. “A maior preocupa��o � o rumo que isso vai tomar, quando e como os shows v�o voltar. Tudo ficou incerto. Muitos m�sicos est�o angustiados, tem gente abandonando a carreira, casas de shows fechando. Para n�s, que dependemos muito dos meses de junho e julho, fica a incerteza. � preciso repensar o nosso trabalho”, afirma Fred.
Vilmar Aparecido, o Vilmar da Lapinha, h� 20 anos � um dos protagonistas do concorrido Arrai� do Vilarejo, na Serra do Cip�, na Regi�o Central de Minas, acompanhado pelo Trio Lapinh�. Com as festividades canceladas, ele criou uma rifa para manter as contas em dia. Por R$ 20, os participantes concorrem a um show exclusivo, a ser realizado assim que a pandemia passar. Caso vendesse 100 bilhetes, a apresenta��o seria na companhia do Trio Lapinh�.
A meta foi atingida, mas o cen�rio � preocupante. “Gra�as a Deus, vendi tudo, deu para pagar as contas de maio e sobrou para o pequeno cach� dos outros m�sicos, mas daqui pra frente n�o sei como vai ser”, revela Vilmar. Em junho e julho, ele fazia at� 10 apresenta��es em localidades da regi�o, que garantiam as finan�as em dia nos meses seguintes. “A preocupa��o maior � que � uma cadeia, com muita gente envolvida al�m dos m�sicos”, explica. Vilmar pretende participar do edital Arte Salva, rec�m-lan�ado pelo o governo de Minas, para amparar a classe art�stica durante a pandemia.
Em quatro d�cadas de carreira, o cantor e compositor Edson Duarte rodou o Brasil e o mundo. Seu caminho chegou a se cruzar com o de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino e Jackson do Pandeiro. Com quase 70 anos, ele se assusta com a pandemia. “Nunca vi nada assim em canto nenhum. Estou passando um perrengue danado. Sem trabalhar, como algu�m vive? Tem mais de tr�s meses que n�o fa�o um show. A� o cabra quebra”, lamenta o alagoano. Toda a agenda deste ano foi cancelada, incluindo a turn� na Europa.
“O neg�cio t� feio, nunca fui de chorar, mas agora sou obrigado a reclamar. Minha grande preocupa��o � que, recentemente, descobri uma diabetes, quase todo meu dinheiro vai para o tratamento e os rem�dios. A renda do artista � show. N�o tenho aposentadoria. N�o comprovei 35 anos de trabalho, s� vivi de show e nunca contei que isso fosse acontecer. Hoje, tenho apoio de artistas amigos, d� at� vergonha. Sempre vivi numa boa. Gravei 16 LPs, 35 CDs, tenho 460 m�sicas, um nome grande, mas n�o tem adiantado”, relata. Ele mora em Vila Velha, no Esp�rito Santo, e prepara uma live para 20 de junho, �s 15h. O hor�rio � pensado tamb�m para o p�blico da Europa, onde o forr� brasileiro tem grande popularidade. A transmiss�o ser� pelas redes sociais, haver� possibilidade de colabora��o do p�blico.
Neste ano at�pico, projetos na internet surgem como op��o para a cadeia que abrange m�sicos, profissionais da dan�a, DJs, artes�os e figurinistas. O F�rum Nacional Forr� de Raiz, parceria da Associa��o Cultural Balaio Nordeste e Associa��o Respeita Janu�rio, criou o festival on-line S�o-jo�o na rede, marcado para 12 a 29 de junho. A programa��o ainda ser� detalhada. A ideia � oferecer apresenta��es variadas, inclusive com grandes nomes da m�sica ligados ao forr�, e arrecadar fundos para artistas em dificuldades. Tudo ser� transmitido pelo Facebook e YouTube.
SAFRA
Coordenadora nacional do F�rum Forr� de Raiz, a paraibana Joana Alves Silva diz que junho “� como se fosse a safra para o forrozeiro, que plantou o ano inteiro para colher agora”. Junho e julho s�o o ganha-p�o de muita gente. “Especialmente os trios tradicionais, de forr� p� de serra, que n�o faturam tanto como os m�sicos mais conhecidos. At� para fazer live � dif�cil. Tem gente vendendo instrumento para sobreviver”, revela. A live leva entretenimento, at� colaborando com lares que est�o tristes e angustiados nestes dias, mas n�o resolve todos os problemas”, diz.
Coordenador do F�rum Forr� de Raiz em Minas, o produtor cultural Guilherme Veras diz que essa cultura envolve “um am�lgama de saberes e fazeres: tem rela��o com culin�ria, desenho, estilo e indument�rias, v�rios outros movimentos culturais que fazem essa interface. Minas tem 54 DJs de forr�. BH � a capital mundial da dan�a do forr�, s�o mais de 80 escolas na cidade. E todas as atividades est�o paradas”, lamenta.
O MAIOR S�O-JO�O
Em Caruaru (PE) e Campina Grande (PB), que disputam o t�tulo de Maior S�o-jo�o do Mundo, os festejos ganhar�o vers�o in�dita on-line. Em 23, 24 e 27 de junho, 17 artistas v�o se apresentar em transmiss�o pelo YouTube, com participa��o de talentos regionais e atra��es nacionais, como Elba Ramalho. Os shows ter�o cen�rio junino, sem a participa��o do p�blico, mas adotando medidas de prote��o determinadas pelas autoridades sanit�rias.
