
Radicada em S�o Paulo h� 20 anos, a atriz mineira Gorete Milagres est� cumprindo o isolamento social junto da fam�lia. “Esse v�rus veio para detonar com as emo��es, conviv�ncias, com tudo. Foi um tsunami na vida da gente. Eu e minhas duas filhas aqui em casa, e, quando vimos, est�vamos em p�nico”, conta ela. “Eu, vestida de Filomena 24 horas por dia, fazendo v�deos para as comunidades. Naquele primeiro momento, era o que poderia fazer para ajudar.”
Nas cenas, Gorete ensina a lavar as m�os e a usar m�scara. “Passei umas duas semanas fazendo v�deos, editados por minha filha e pelos meninos que trabalham comigo. Fiquei assim at� que as meninas falaram: ‘M�e, isso est� gerando uma ansiedade, uma loucura t�o grande. Ent�o para’. Decidi parar um pouco e respirar.”
Pouco depois de “dar um tempo” nos v�deos, Gorete foi convidada para fazer a s�rie Alta sociedade baixa, cujos epis�dios s�o postados no Instagram �s sextas-feiras. “Funciona assim: cada um grava a sua parte em casa, filmada pelo companheiro, companheira ou filho. A cena � coordenada por um diretor por meio do (aplicativo) Zoom.”
EMPREGADA
Gorete faz o papel da empregada de uma socialite. Confinada em casa, a madame resolve fazer uma festa. Inicialmente, Alta sociedade baixa teria quatro epis�dios, mas fez sucesso e a temporada se estendeu. O projeto surgiu em boa hora. “� muito importante trabalhar e se sentir �til neste momento t�o conturbado da vida da gente”, comenta.
Ali�s, ela conta que um dos momentos mais complicados da quarentena foi quando as filhas passaram alguns dias no s�tio de uma amiga. “Fiquei sozinha e a casa caiu. Sozinha numa pandemia, puro drama. N�s, comediantes, somos muito dram�ticos”, diz. “Voc� acorda, se arrasta para a mesa de caf�, ouve o panela�o, liga a televis�o, ouve o presidente fazendo pronunciamentos ca�ticos, o ministro da Sa�de sendo demitido”, relembra.
O estresse da quarentena � um desafio para Gorete. “Tudo isso adoece a gente, eu me senti muito triste, assim como qualquer ser humano que tenha emo��o, cora��o e discernimento.” Ela, ent�o, criou o que chama de Terapia do Palavr�o. “�s vezes, ficava muito nervosa, ia pra janela e xingava o presidente, a televis�o, o povo que bate panela... Fazia a lista de um monte de pessoas que matam a gente todos os dias, das mineradoras. Ia para o espelho e mandava a frase de desabafo.”
KAYETE
A atriz tem gravado muitos v�deos. “Acabei de fazer um para o projeto de cenas da Kayete. Fiz outro para o Hospital das Cl�nicas, al�m de trabalhos volunt�rios para pessoas que pediram. Num dia, gravo s� como Gorete, no outro tem descanso, porque preciso cozinhar e arrumar a casa. No outro dia, gravo s� Filomena”, diz ela.
A mineira tamb�m apoia projetos voltados para a alimenta��o de mendigos no Centro de S�o Paulo e na cidade de Jericoacoara, point tur�stico do Cear�.
“Estou aqui nesta energia, vibrando positivamente, acendendo velas no meu orat�rio, rezando na medida do poss�vel para a vacina sair, al�m de tentar ajudar. Tenho amigos artistas e muitos est�o passando necessidade, como muita gente. � muito triste isso”, observa, preocupada.
E o futuro, Gorete? “Acho que este momento render� muitas hist�rias, textos e reflex�es, al�m de muita mudan�a dentro de mim. Ali�s, de todo mundo. Vamos ficar mais fortes e mais gratos”, acredita esta mineira, que – n�o por acaso – traz Milagres no sobrenome.