
Com algum esfor�o � poss�vel enxergar em alguns epis�dios um manifesto sobre o livre-arb�trio, refletir sobre o pre�o de uma vida hedonista e se encantar com um ou outro romance que surge no meio do caminho. Mas, no final das contas, tudo se resume a uma pergunta: quem matou?. A hist�ria come�a quando s�o encontrados os restos mortais do DJ Axel Collins (Tom Rhys Harries), 20 anos, ap�s ter desaparecido em Ibiza.
Sua irm�, Zoe (Laura Haddock), uma bibliotec�ria depressiva, decide deixar para tr�s o pai, o marido e a filha adolescente na cinzenta Manchester e partir para a ensolarada ilha espanhola para investigar o que aconteceu com o DJ, que, duas d�cadas antes, era o cara mais popular do peda�o. Ao chegar ao balne�rio, Zoe se envolve com os amigos da juventude do irm�o, desabrocha para uma nova vida e enfrenta um tremendo dilema: voltar ou n�o?.
Assim como em outras s�ries de Alex Pina, White lines impressiona mais pela est�tica que pelo roteiro. Alguns personagens s�o cativantes, como o troglodita Boxer (Nuno Lopes), chefe de seguran�a da fam�lia mafiosa Calafat. O sujeito vai sendo desconstru�do e se revela um malvado ador�vel e bem-intencionado. Outro integrante da turma que segura bem as pontas � Marcus (Daniel Mays), um DJ/traficante bonach�o e atrapalhado. Mas, na m�dia, o elenco deixa muito a desejar, especialmente nas cenas de flashback dos anos 1990.
A grande sacada de White lines, por�m, � amarrar o p�blico na base da curiosidade. A s�rie n�o passa de whodunit bronzeado. Para quem n�o conhece, trata-se de uma express�o coloquial para a pergunta em ingl�s: Who has done it?, que significa Quem fez? ou Quem matou?. Essa express�o d� um nome a um subg�nero de fic��o de hist�rias de detetive em que h� um assassinato e � preciso descobrir quem � o culpado.
Esse nicho ficou muito comum na literatura no in�cio do s�culo 20 com os autores Arthur Conan Doyle – criador de Sherlock Holmes –, e Agatha Christie. O estilo dominou a fic��o de detetives nos anos 1930 e, naturalmente, ganhou in�meras adapta��es e homenagens no cinema. Foram tantos os filmes do tipo que o subg�nero whodunit acabou associado a uma s�rie de conven��es que acompanham tais hist�rias, como um assassinato logo no come�o; um enorme rol de suspeitos que se conhecem de longa data, cada um com uma motiva��o para ter cometido o assassinato; bilhetes com mensagens cifradas e um detetive com racioc�nio muito agu�ado.
CONVEN��ES � RISCA
E, claro, a trama tem de ser conclu�da com uma reviravolta, quando o assassino � revelado e surpreende todo mundo. S�o tantas as conven��es criadas que os filmes acabaram ficando cada vez mais parecidos uns com os outros. E com o agravante de o p�blico aprender a esperar o plot twist no final. Assim, cada novo whodunit lan�ado deixa os espectadores mais atentos, o que dificulta a tarefa de diretores e roteiristas, interessados em formular um final surpreendente.
Faz alguns anos que uma leva de roteiristas cientes do problema tem encontrado maneiras de subverter a estrutura do whodunit para conseguir cumprir a promessa de entregar um filme original. Eles sabem que, se seguirem todas as conven��es � risca, v�o s� fazer mais do mesmo. Dentro desse modelo, White lines segue a regra � risca.