Para o poeta e compositor paulistano Andr�, que transformou seu sobrenome na alcunha art�stica arrudA, as can��es sempre foram poss�veis. Filho da poeta Eunice Arruda (1939-2017), ele tem letras gravadas por Alzira E, Ney Matogrosso, Lucina, Maria Alcina, Fabiana Cozza, Tat� Aeroplano, entre outros de presen�a destacada na MPB.
Contudo, a chegada da pandemia do novo coronav�rus, no primeiro semestre deste ano, impondo uma complexidade ainda maior � contemporaneidade digital na qual vivemos, trouxe para o artista novos questionamentos e percep��es que resultaram na colet�nea Fragmentos de uma can��o imposs�vel, da editora Patu�. A publica��o re�ne 50 poemas sobre a angustiante experi�ncia de viver em um contexto em que tudo parece inalcan��vel.
Contudo, pouco mais da metade do trabalho j� estava encaminhada, no ano passado, quando ele foi contemplado pelo Programa de A��o Cultural (Proac) voltado � produ��o e publica��o de obras de poesia do estado de S�o Paulo. Mas a conclus�o da obra veio durante os dias de isolamento social, contendo parte das reflex�es de arrudA sobre esse cen�rio.
“� um momento turbulento. Vivemos em um mundo muito veloz, muito fragmentado. Senti internamente esse inalcan��vel que vem a partir do excesso, de uma sensa��o (que nos deixa sempre num vazio) de que, em vez de estar em um lugar, temos � a sensa��o de n�o estar em outro. � minha busca como artista, mas do ser humano em geral, que quer sempre estar onde n�o est�”, explica o poeta sobre seu quinto livro.
NORTE
A escrita, segundo arrudA, � um processo que flui naturalmente para ele, independentemente de estar associada � produ��o de um livro espec�fico. Fragmentos de uma can��o imposs�vel surgiu assim que ele percebeu “um norte” que unia a cole��o de poemas criados.
“Quando veio a pandemia, produzi muito, e o livro foi influenciado por isso tudo. Coincidentemente, o caminho que estava tomando antes veio ao encontro deste momento de tantas impossibilidades e desta coisa virtual se acentuando. Essa fragmenta��o ficou mais forte”, diz.
Sobre o processo criativo em tempos de quarentena, ele afirma ter sentido “a ang�stia que muitas pessoas tamb�m sentiram, as incertezas, e esse pensamento de ‘para onde vamos voltar?’”.
arrudA entende que “chegamos nisso como resposta � forma sob a qual vivemos no mundo de consumismo, dessa rela��o com o planeta e entre as pessoas”. Por isso, diz que a poesia � “um jeito pessoal de me salvar e de buscar o sublime nas coisas simples. Ela d� esse escape diante de tanta ang�stia”.
Ao mesmo tempo, pondera o papel da arte diante da gravidade da crise ocasionada pela pandemia. “� um privil�gio, de certa forma, poder fazer esse trabalho com poesia. Vemos tantas pessoas numa situa��o muito cr�tica. Realmente me questiono sobre onde cabe a poesia neste mundo. Espero que, de alguma forma, possa colaborar. Penso no que seria uma coisa mais concreta a se fazer e colaborar nessa situa��o, mas � a minha maneira, meu jeito de estar no mundo e acredito que ela possa contribuir.”
Autor de A representa��o matem�tica das nuvens (2014) e Topografia das ondas (2017), tamb�m editados pela Patu�, al�m de As menores dist�ncias podem levar uma vida (Selo Edith, 2010) e 23 poemas de arrudA (Coletivo Dulcineia Catadora, 2012), e organizador de Vis�vel ao destino – Obra completa, com os poemas da m�e, lan�ado no ano passado pela Patu�, ele diz que o novo livro se difere tamb�m pela forma.
Os 50 poemas s�o divididos em sete partes com sete poemas, somados a um pr�logo. O projeto tem os tra�os de Gabriel Marcondes, e a arte da capa tamb�m se fragmenta em cada uma dessas partes. “Consegui juntar conceito visual com conceito dos poemas. Essa fragmenta��o com a qual trabalhei no livro � in�dita. Os livros anteriores eram corridos. E ela reflete bem esse momento”, observa.
Fragmentos de uma can��o imposs�vel
• arrudA
• Editora Patu� (96 p�g.)
• R$ 40