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Estado de Minas COPO MEIO CHEIO

Artistas contam o que aprenderam com a pandemia

Depois de quase seis meses de pausa for�ada em casa, as li��es v�o de fazer um bom feij�o e lidar com cupins a se dar mais valor e ser menos exigente com os outros


30/08/2020 04:00 - atualizado 29/08/2020 20:01

A quarentena como medida de precau��o ao cont�gio do novo coronav�rus j� se arrasta por quase seis meses. O Estado de Minas perguntou a artistas de distintas �reas o que eles aprenderam neste tempo de pausa for�ada em casa. Fazer um bom feij�o, lidar com cupins e infiltra��es est�o entre as li��es assimiladas. E tamb�m aprender piano, se dar mais valor, exigir menos de si e dos outros, conseguir se equivaler a uma multid�o, mesmo sendo a �nica companhia da parceira. Confira as respostas a seguir 



>> Ign�cio de Loyola Brand�o,
escritor, jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras

“Descobri que minha mulher fica muito feliz quando fico na cozinha junto, conversando, preparando bebidas, contando coisas. Antigamente, ela ia para a cozinha e eu para a TV. Alguns livros tive de comprar em duplicata, porque eu come�ava a ler, ia contando trechos, ela se interessava e apanhava o livro e eu ficava constrangido de tirar dela. No final da COVID vamos doar muita coisa. Assim foi com A louca da casa, da Rosa Montero, com O grande Gatsby (releituras), e uma biografia do Van Gogh. M�rcia, minha mulher, � arquiteta. Trouxe seu computador e se instalou em uma mesa diante de mim. Enquanto escrevo, �s vezes, falo sozinho. No come�o, ela indagava: ‘O que �?’ Eu: ‘Estou falando com os personagens’. A�, descobri que ela faz o mesmo, fala com os projetos. De maneira que �s vezes estamos falando, mas n�o � com o outro. E rimos. Tem dia que ela demora um pouco, chego antes. Ela vem e cumprimenta: ‘Bom dia a todos’. Todos sou eu. Pergunto: ‘Muito tr�nsito hoje’?. O escrit�rio � a alguns metros de nosso quarto. Tentei arrumar a biblioteca. Fui, fui, fui. A descoberta mais importante, dentro dos livros, foi de alguns boletos da Mega Sena jamais conferidos. Tinha alguns de 1998. Fico pensando: ser� que fui milion�rio e perdi a chance?.”
 
>> Fabiana Cozza, 
cantora 
 
“Aprender a viver o hoje �, sem d�vida, o meu maior desafio. Pensar na vida que existe agora, semeando um futuro ainda nebuloso, sobretudo para n�s, artistas. Nesse sentido, estudar piano tem me ajudado e me organizado internamente, j� que � um desafio imenso e uma viagem de uma beleza �nica.”
 
>> Chico lobo, 
violeiro

“A gente teve que se reinventar como artista e como pessoa. Primeiro, porque ficamos privados do nosso ganha-p�o, que s�o os shows e a estrada. A minha vida era 70%, 80% fora de casa, nas viagens, nos shows, que eram o centro da nossa renda. Aprendi e desenvolvi essa capacidade t�cnica de fazer uma live, isso foi um ponto. Outro ponto que foi fundamental tamb�m foi aprender a como produzir um �lbum a dist�ncia. Depois de 25 CDs lan�ados, � a primeira vez que uso essa estrat�gia. N�s estamos lan�ando v�rios singles nas plataformas digitais. Em novembro, depois de toda essa agita��o e espa�o nas plataformas digitais, ser� lan�ado o disco f�sico. Isso � a primeira vez que eu fa�o. Foi um enorme aprendizado para mim, de como explorar a potencialidade que as plataformas digitais d�o para a nossa m�sica.
E a�, o aprendizado pessoal, que foi me reinventar como pai, marido, dono de casa. Eu sou o respons�vel por fazer os almo�os e jantares aqui de casa. Ent�o, comecei a inventar pratos para trazer novidades. Um simples p�o de forma que, no �nicio, era fundamental para n�o precisar sair todo dia pra ir na padaria, eu inventei v�rias formas de fazer para customizar e ser sempre uma novidade."

>> Rafael Freire, 
fot�grafo, autor da p�gina no Instagram Favela a Flor que se Aglomera (@aflorfavela)

“A pandemia me ajudou a olhar mais para o meu trabalho e lhe dar mais valor. Descobri que sou bom naquilo que fa�o. Aprendi a ser mais criativo. Aprendi muito a ser um bom empres�rio acessando a internet, assistindo a conte�dos no YouTube e lendo alguns livros. Aprendi a olhar o trabalho do pr�ximo, a enxergar melhor dentro de mim e ver meu potencial. Eu n�o sabia que era capaz de fazer tantas coisas bacanas. At� aumentei as vendas do meu trabalho, � medida que fui estudando o mercado na quarentena, como estava com mais tempo dispon�vel. Percebi que meu trabalho realmente vale a pena. Acabei aumentando o pre�o do meu servi�o, sendo mais justo comigo mesmo. Comecei a me importar mais com meu trabalho . Parece que as pessoas enxergaram isso e come�aram a dar valor tamb�m.
Tamb�m aprendi a dar valor ao abra�o, ao carinho e �s pessoas. Aprendi a economizar e a olhar a natureza com outro olhar."
 
>> Pedro Calais,
m�sico, vocalista da banda Lagum

“Comecei a jogar videogame em casa. Nunca antes tinha me dedicado a aprender a jogar esse tipo de coisa. Sempre via meu irm�o e colegas jogando, mas agora a gente comprou um e estou jogando com mais frequ�ncia. � legal que voc� joga com pessoas que voc� nunca vai ver na vida. Gente mais nova, mais velha, de realidades totalmente diferentes. 
Estou jogando agora um chamado Fall Guys. Ele � bem bobo, mas muito divertido. S�o v�rios bonequinhos que ficam jogando, correndo e vencendo provas. At� parece as Olimp�adas do Faust�o. E � bom que n�o levo muito a s�rio, porque a vida j� � s�ria pra caramba. Meu limite at� agora s�o duas horas, depois j� quero fazer outra coisa. 
Eu tamb�m estou mudando de casa, nunca tinha feito isso sozinho. T� aprendendo a lidar com cupim e infiltra��es, n�o fazia ideia de como era isso. Estou indo morar sozinho agora. Eu tamb�m estou cozinhado mais… Minha m�e est� me desmentindo aqui. Mas, na casa da minha namorada, eu cozinho e lavo a lou�a inteira.” 

>> Faf� Renn�,
atriz 

“Eu aprendi a fazer feij�o! S�rio, eu n�o sabia. E tem umas tr�s semanas s� que eu fiz e ele ficou maravilhoso. Eu estou diminuindo (o consumo da) carne, ent�o resolvi encarar uma panela de press�o e fazer feij�o. Eu j� cozinhava antes, mas n�o com tanta frequ�ncia como agora.  
Eu tamb�m me arrisquei no macarr�o e bombei no carbonara. Ent�o n�o sei se vou tentar fazer de novo, tenho que descobrir o que fiz de errado. Eu invento muita coisa na cozinha. 
Eu j� fazia faxina e j� lavava banheiro h� muito tempo. N�o tenho uma ajudante nem nada disso. S� uma vez por m�s que eu chamava algu�m, mas isso acabou. Quem est� fazendo a faxina maior e menor sou eu. Mas ainda n�o me arrisco com furadeira. O que tirei mesmo dessa quarenta � um bom feij�o. A minha independ�ncia do feij�o pr�prio.”

>> Julia Branco,
atriz, cantora e compositora 

“N�o vou nem dizer que tenho mais tempo, pois parece que a tecnologia nos fez ficar ainda mais ocupados do que antes. Mas o fato de poder estar em casa, n�o pegar tr�nsito, n�o ter o deslocamento, me faz ter um tempo que passa diferente no meu corpo e isso para mim est� sendo potencialmente criativo. Tenho tentado me aprimorar neste ano: estou estudando viol�o, voltando a estudar canto, cuidando do corpo, coisas que eu n�o tinha condi��es (ou achava que n�o tinha) de viver quando a vida estava ‘normal’. Essa nova experi�ncia com o tempo est� mexendo muito comigo e tenho certeza de que vai reverberar, de certa forma, no meu trabalho. E tamb�m acho que � uma experi�ncia de ‘antes’ e ‘depois’. N�o vamos voltar ao que �ramos, na minha opini�o. A minha sensa��o � que estamos numa grande transi��o planet�ria, uma transi��o de era, mesmo. Tenho tentado aprender com os tempos: o do passado, do presente e do futuro. Sem negligenciar nenhum e tentando respeitar e escutar todos.”
 
>> Sara N�o Tem Nome, 
cantora, compositora, musicista, artista visual e performer
 
“O que aprendi, na pr�tica, � que na vida a gente tem poucas certezas e tudo pode mudar de uma hora para outra. Essa vis�o que a gente tem de seguran�a e estabilidade � muito fr�gil. E eu sinto que a gente ainda n�o saiu dessa situa��o, ent�o � dif�cil falar do que aprendi, porque eu ainda estou aprendendo muito. Mas, sem d�vida, � um momento de muita resili�ncia e de repensar o que a gente acha que sabe. � um momento de aprender a repensar, a se reposicionar. Tamb�m sinto que esse momento me trouxe mais humildade, mais paci�ncia comigo, com as pessoas e com as situa��es da vida. Estou aprendendo a ter um pouco mais de tranquilidade com certas situa��es. Exijo menos um pouco de mim e dos outros. Essas situa��es-limite fazem com que a gente pense o que � realmente importante, o que fica da vida e o que vale a pena. Ent�o, sinto que, para mim, tem sido uma aprendizagem nesse lugar de experi�ncia de vida e de crescimento como ser humano.”

>> Olavo Romano,
escritor

“Navegando em nevoeiro,
Vou lhe mostrar, companheiro,
A paisagem que eu vi,
A li��o que eu aprendi.

Vencer o medo da morte,
Ver a trilha percorrida,
Bendizer lances da sorte
Iluminando sua vida

Perceber o ‘n�o’, antigo,
Mostrando porta fechada;
Depois voltando, amigo,
Na janela escancarada.

Enxergar em cada dia
A chance do recome�o,
Pois o mesmo fuso fia
O direito e o avesso.

Refletindo nisso agora
Eu lhe digo o que acho
Que ensina esta li��o:

O que est� dentro est� fora;
O de cima est� embaixo,
Mas a porta s� se abre
No fundo do cora��o.”

(Depoimentos recolhidos por Fernanda Gomes, Fred Gandra, Guilherme Augusto, Mariana Peixoto e Pedro Galv�o) 


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