
Criador de uma das linguagens mais particulares da m�sica brasileira, Tom Z� acaba de ter a produ��o menos vis�vel de um importante per�odo de sua vida, compreendido entre 1969 e 1976, organizada pelo pesquisador e jornalista do Estad�o Renato Vieira. O �lbum Raridades traz 14 faixas de grava��es que poucos ouviram, recuperadas dos arquivos das companhias RGE e Warner, que hoje det�m os registros da Continental."Pensei em montar (o �lbum) em ordem cronol�gica para o ouvinte acompanhar como se desenvolve a linguagem do artista. Com o passar do tempo, l� por 1970, 1971, Tom Z� se aproxima mais do bolero e do samba"
Renato Vieira, jornalista e pesquisador
Tom gravou alguns compactos simples e can��es para projetos especiais que n�o tiveram vida longa ou se tornaram apenas vers�es para colecionadores. Dispostas cronologicamente, � poss�vel entender o desenvolvimento de seu pensamento musical desde o momento posterior � sua vit�ria no 4º Festival de M�sica Popular Brasileira, da TV Record, at� o ano em que lan�a Estudando o samba, o �lbum que levaria 14 anos para ser valorizado, a partir de um lan�amento feito pelo roqueiro David Byrne.
Jo�o Ara�jo, que viria a ser um dos criadores da Som Livre, havia acabado de levar Tom do selo AU, Artistas Unidos, para a RGE. Sua estreia, recuperada por Renato Vieira, foi justamente com um compacto simples que trazia Voc� gosta, uma parceria com Hermes de Aquino, no lado A, e Feiti�o no B, as duas com arranjos do maestro Severino Filho.O fog�o na letra de Voc� gosta, segundo Tom, n�o era por acaso. "Era s�mbolo da primeira revolu��o industrial de Irar�: Eu sei / Que voc� n�o gosta de magoar seu cora��o / Mas quando eu estou em casa / Derrama leite no fog�o / Enquanto boto o a��car faz o caf� derramar", diz a letra. "Isso tudo estava presente, assim como o que canto em Feiti�o", diz o compositor sobre a can��o tropicalista.
O �lbum com raridades de Tom Z� mostra vers�es obscuras feitas entre 1969 e 1976. "O mercado exigia esse formato, o compacto. Era uma forma de vender as m�sicas que iam para os festivais. S� depois eram lan�adas em LPs", diz o jornalista Renato Vieira. Outra passagem por um festival viria logo depois, com duas m�sicas inscritas agora no 5º Festival de MPB da TV Record. Tom competia com Jeitinho dela e Bola pra frente, que seriam gravadas �s pressas tamb�m em compacto.
Jeitinho dela tem um sabor ainda mais especial: registrada ao vivo no festival, Tom Z�, em vers�o rar�ssima, canta ao lado dos Novos Baianos, grupo que devia uma por��o de sua exist�ncia a ele. Foi Tom quem apresentou Moraes Moreira, o motor intelectual da forma��o, ao poeta Luiz Galv�o. "Pensei em montar em ordem cronol�gica para o ouvinte acompanhar como se desenvolve a linguagem do artista. Com o passar do tempo, l� por 1970, 1971, ele se aproxima mais do bolero e do samba", diz Renato. Al�m da percep��o est�tica, os movimentos s�o regidos tamb�m pelo contexto social, colocados sempre em cr�tica contundente e indireta.
HEBE
Foi de mais uma participa��o em um concurso, desta vez o Movimento de Incentivo � MPB, feito pela apresentadora Hebe Camargo, na TV Record, de onde saiu mais um single. Sil�ncio de n�s dois, vencedora da competi��o, entrou como a faixa principal. E Senhor cidad�o ficou no lado B antes de ser lan�ada em LP.
"(Em Senhor cidad�o) queria falar sobre a segrega��o que o homem das classes A e B exercia sobre os outros. E tamb�m do castigo que sofria por isso"
Tom Z�, cantor e compositor
"Queria falar sobre a segrega��o que o homem das classes A e B exercia sobre os outros. E tamb�m do castigo que sofria por isso", lembra o cantor. "Senhor cidad�o / Na briga eterna do teu mundo / Senhor cidad�o / Tem que ferir ou ser ferido / Senhor cidad�o / O cidad�o, que vida amarga / Que vida amarga." Havia inquietude de Tom tamb�m em A bab�, expondo � sua maneira os confrontos dos tempos: "Quem � que agora est� / Botando tanto grilo na cabe�a do s�culo? / � de marr�, de-marr�-de-ci / E quem � que t� / Botando piolho na cabe�a do s�culo?"
BETINA
Assim como A bab�, Augusta, Ang�lica e Consola��o tamb�m foi gravada antes, em outra vers�o, colocada em um compacto simples. O �lbum de raridades traz ainda Quem n�o pode se Tchaikovski, que havia sido lan�ada apenas no lado B do compacto com Augusta, Ang�lica e Consola��o, com uma constru��o singular que une trechos do Concerto para violino e Orquestra em r� maior, op. 35, de Tchaikovski a sonoridades nordestinas.
Contos de fraldas veio de um compacto de 1974, A dama de vermelho foi pedida para a novela Xeque-mate, de 1976, e O anfitri�o, que como D�i aparece na voz de Betina, foi um desafio feito pela primeira vez por Lupic�nio Rodrigues: "Por que voc� n�o faz uma m�sica de dor de cotovelo?". Betina, que gravou as duas can��es que aparecem como b�nus, era uma cantora descoberta pela empres�ria M�nica Lisboa, sucessora de Guilherme Ara�jo, que pediu a Tom para fazer algo que a projetasse, o que n�o aconteceu. (Estad�o Conte�do)