Festival ImuNe realiza proje��o de shows em empenas de BH
Instante de M�sica Negra encerra neste s�bado (26) sua edi��o 2020, com apresenta��es de m�sica e dan�a que celebram a riqueza da cultura negra e Djonga no papel de griot
Elza Soares se apresenta ao lado de Fl�vio Renegado, a partir das 22h05. Cantora avisa que haver� surpresas (foto: Marcos Hermes/Divulga��o)
Tendo a cantora Elza Soares e o rapper Djonga como principais atra��es e um formato que inclui a proje��o em duas empenas da capital mineira de shows ao vivo (tamb�m transmitidos via YouTube), o Festival IMuNe (Instante da M�sica Negra) encerra neste s�bado (26) sua segunda edi��o, que precisou ser completamente reformulada, no cen�rio da pandemia do novo coronav�rus.
O festival teria uma vers�o itinerante pelas cidades de Belo Horizonte, S�o Paulo e Rio de Janeiro, em julho e agosto passados. “A gente teve que remodelar, pensando que n�o teria mais a possibilidade de lucro do evento presencial. Ent�o, foi muito dif�cil conseguir fazer uma programa��o que tivesse o tamanho desejado e, ao mesmo tempo, n�o nos deixasse no vermelho, com problemas financeiros”, afirma Bia Nogueira.
Ao lado dos tamb�m artistas mineiros Cle�patra, Gui Ventura, Ma�ra Baldaia, Raphael Sales e Rodrigo Neg�o, Bia integra o coletivo IMuNe, que desde 2016 busca acentuar o protagonismo de pessoas negras na m�sica. “O grupo tem uma atua��o ampla, e o Festival IMuNe � s� uma dessas a��es”, diz Bia, idealizadora e coordenadora geral do coletivo.
Mesmo tendo que oferecer um cach� abaixo da m�dia, o festival teve uma grande ades�o de artistas, contando com a parceria de Djonga, Elza Soares e o grupo Meninos da Lua. O espet�culo-live desta noite, chamado de IMuNe experience, ser� transmitido do Centro Cultural L� da Favelinha, no Aglomerado da Serra, regi�o Centro-Sul de Belo Horizonte, onde os artistas estar�o reunidos, seguindo as recomenda��es dos �rg�os de sa�de para evitar o cont�gio pelo novo coronav�rus.
“A favela tem uma produ��o cultural muito potente e, para a gente, faz todo o sentido promover o evento nesse local. N�o poderia ser diferente”, diz Bia. A live ser� projetada em duas empenas de Belo Horizonte, localizadas no Centro e no Aglomerado da Serra. A escolha foi estrat�gica, para os moradores conseguirem assistir de suas janelas, impedindo aglomera��es.
TEL�O
“� como se fosse um tel�o em tempo real. � a forma que a gente encontrou de se conectar com a cidade. Ent�o, vai ter drones visitando algumas janelas, para as pessoas interagirem. Estamos bem animados”, comenta a coordenadora do coletivo.
Djonga, um dos nomes mais influentes da cena belo-horizontina, vai conduzir a noite. Ele escolheu atuar como um griot, ao qual deu o nome de Kalunga. Na performance, escrita pelo dramaturgo Marcos F�bio de Faria, inspirada na Teoria Afroapocal�ptica criada pelo multiartista Rodrigo Jer�nimo, o narrador percebe que o mundo vem acabando a cada pessoa negra morta violentamente e promete transmitir uma forte mensagem ao p�blico.
O formato surgiu a partir de uma vontade de Djonga de apresentar algo novo para contribuir com o festival. O rapper belo-horizontino vai fazer apari��es entre as apresenta��es. “O apocalipse para o preto no Brasil sempre existiu. Para os povos ind�genas j� � uma realidade tamb�m, h� muito tempo. A gente vai falar um pouco disso no espet�culo e apontando para um futuro de supera��o. Para mudar o mundo, n�s precisamos de otimismo”, afirma Bia Nogueira.
A curadoria do evento apostou em uma programa��o diversa e inclusiva, contemplando a pluralidade da m�sica negra e dialogando com a saga do contador de hist�rias. �s 20h, a banda itabirana Meninos de Minas abre a noite, com uma apresenta��o que prop�e o encontro com a ancestralidade, inspirado nos sons do congado e da m�sica afro-mineira.
Em seguida, o Favelinha Dance, coletivo de dan�a voltado para os estudos e a difus�o do funk, produzido pelo rapper Kdu dos Anjos, faz apresenta��o especial, contemplando a arte produzida no Aglomerado da Serra, dentro do prop�sito de promover a cura pela divers�o.
�s 21h, Mc Dellacroix sobe ao palco representando a m�sica trans e as m�ltiplas possibilidades de exist�ncia. “A gente precisa dar espa�o e trazer essas pessoas. A Mc Dellacroix � uma pot�ncia, a gente acha que precisa sair do �bvio �s vezes”, diz Bia.
Segundo Mc Dellacroix, a iniciativa � importante para contribuir para erradicar a vis�o de que a prostitui��o � a forma hegem�nica de trabalho de pessoas trans no Brasil, pa�s que mais mata transexuais no mundo. “Somos diversas e plurais, e nossa arte tamb�m reflete isso”, afirma.
Shows ser�o projetados em duas empenas na capital mineira, uma delas localizada no Aglomerado da Serra
(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A.Press)
MENTE ABERTA
A rapper paulista espera que o p�blico mantenha a mente aberta para absorver sua arte. “Eu falo da minha viv�ncia e nem sempre isso vem como algo agrad�vel de ouvir. Meu show tem estado em outro formato, tenho soltado minhas bases, experimentando esse lugar de cantora/DJ ao mesmo tempo, para entregar uma nova proposta de performance ao vivo”, diz.
A banda IMuNe faz sua estreia no palco, �s 21h30. O grupo � um experimento para potencializar a carreira dos seis artistas negros integrantes do coletivo belo-horizontino. Eles v�m lan�ando m�sicas com videoclipes desde agosto, mesclando sons do pop, rap, eletr�nica, congado e m�sica brasileira.
“Cada artista deu uma recuada em seu pr�prio estilo para surgir esse outro”, comenta Bia Nogueira. At� novembro, o grupo vai disponibilizar mais cinco obras autorais in�ditas no YouTube produzidas pelo selo do coletivo IMuNe.
Para o show desta noite, a banda preparou um repert�rio de oito m�sicas. Bia Nogueira, Cle�patra, Gui Ventura, Ma�ra Baldaia, Raphael Sales e Rodrigo Neg�o ser�o acompanhados de Sidoka (produtor musical) e Deborah Costa (diretora musical). “Foi um desafio para a gente ensaiar um show, mesmo que curtinho, em quatro dias, mas vai rolar. Estamos na expectativa, no nervosismo de como vai ser a receptividade, de como vai ser a gente juntos no palco”, conta a cantora.
Elza Soares � a grande homenageada e madrinha do Festival IMuNe, escalada para fechar a live com sucesso. Aos 90 anos, a cantora fez quest�o de prestigiar o evento que celebra a m�sica negra. “� mais que obriga��o minha (integrar o festival). Eu me sinto honrada, orgulhosa de participar. T� todo mundo de parab�ns”, diz Elza.
A cantora se apresenta �s 22h05, ao lado do rapper Fl�vio Renegado, que promete trazer a onda negra contempor�nea. A banda IMuNe tamb�m vai fazer participa��o especial no show. Elza n�o revelou o que est�o preparando, mas lembra: "Sempre tem algo especial. Estou na expectativa do melhor, como sempre!".
Segundo Bia Nogueira, o festival � um grande laborat�rio para pautar a a��o do coletivo IMuNe daqui pra frente. “Espero que a gente possa se conectar com a nossa cidade, com o Brasil, e que as pessoas possam ter nessa live um pouco de divers�o, alento, nestemomento t�o dif�cil.”
O festival foi viabilizado pela Natura Musical, por meio da Lei Estadual de Incentivo � Cultura, e conta com o apoio da Cemig.
*Estagi�rio sob supervis�o da editora Silvana Arantes