
No livro-reportagem Marina Miranda – Al�m da Crioula Dif�cil, o jornalista Cl�vis Corr�a resgata a hist�ria da primeira humorista negra que ganhou destaque na TV brasileira, revelando epis�dios pouco conhecidos a respeito da carreira dela. O lan�amento coincide com os 90 anos da atriz fluminense, comemorados em 30 de setembro.
Marina Miranda conquistou o pa�s com a personagem Cri- oula Dif�cil. Ao lado do ator Ti�o Macal�, ela chamou a aten��o no programa Balan�a mas n�o cai, transmitido pela R�dio Nacional na d�cada de 1950, que foi adaptado pela TV Globo em 1968. Nos anos 1970 e 1980, a atriz participou de v�rias atra��es humor�sticas na televis�o – Fa�a humor n�o fa�a guerra e Os Trapalh�es, entre elas.
"Marina fazia o pr�prio protagonismo, aproveitava as oportunidades. Acho isso bacana"
Cl�vis Corr�a, jornalista
GERA��O
Cenas de Marina ao lado de Ti�o Macal�, Renato Arag�o, Ded�, Mussum e Zacarias ficaram eternizadas na lembran�a de uma gera��o. Cl�vis Corr�a era um desses f�s. Ainda garoto, ele acompanhava as trapalhadas da turma na televis�o do vizinho.
“Marina era uma figura negra que, at� ent�o, n�o se via na TV. Aquilo foi o start que me impulsionou a escrever o livro”, conta o jornalista carioca, de 59 anos. “Com ela, fui descobrindo coisas que t�m muito a ver com a minha inf�ncia e minha trajet�ria de vida.”
O bi�grafo diz que a atriz n�o recebeu o reconhecimento merecido. “A nova gera��o que vem do YouTube, os influencers, n�o conhecem a Marina. Quando se fala de humor, as pessoas se lembram dos Trapalh�es, mas n�o dela. Isso me entristeceu e tive a vontade de mostrar que Marina � muito mais do que (a parceira de) Ti�o Macal�”, comenta.
O jornalista teve acesso � atriz por meio de Silvia Miranda, filha dela, e conta que a fam�lia apoiou o projeto. “Marina transborda humor o tempo todo. Tudo o que ela quer � fazer gra�a, independentemente da circunst�ncia”, diz.
O livro relembra o �nicio da carreira da atriz em programas de r�dio, participa��es dela no humor�stico Noites cariocas, da TV Rio, a amizade com o ator Jorge Lafond (1952-2003) e os �ltimos trabalhos em novelas da Record.
“As pessoas se apegam muito � Marina da Crioula Dif�cil, que realmente foi o grande boom dela, mas sua import�ncia para a com�dia n�o se resume a isso”, defende Cl�vis. A biografia tamb�m destaca a hist�ria do humor caricato, que n�o � mais praticado no Brasil, observa.
“Hoje em dia, quando se fala de humor caricato, as pessoas acham que � desmerecimento, mas n�o �. A Marina se orgulha de ser considerada uma das melhores atrizes caricatas do pa�s”, afirma Cl�vis, dizendo que seu livro � �til para o jovem se informar sobre essa modalidade de com�dia.
“Sou um grande incentivador do avan�o e das novas formas de humor, mas a gente n�o pode deixar o passado morrer. A nova gera��o precisa estudar, pesquisar e conhecer Marina Miranda”, alerta.

A atriz enfrentou a discrimina��o racial, assim como outros artistas negros. “� triste, porque a gente vai enxergando como a quest�o do racismo estrutural � t�o enraizada. A Marina crian�a j� passava por isso”, diz Cl�vis, destacando que a discrimina��o prossegue no Brasil. “A hist�ria da Marina � como a hist�ria das negras de hoje em dia.”
Por�m, o jornalista destaca a resist�ncia e o empoderamento da personagem de Marina – presentes, inclusive, no apelido Crioula Dif�cil –, lembrando que ela rejeitava as investidas de Ti�o. “Aquele cara malandro n�o era do gosto dela porque tinha pouco a oferecer. Ela n�o queria qualquer homem, qualquer z� man�. O tal do empoderamento, t�o falado hoje, j� estava ali”, argumenta o jornalista.
A trajet�ria de Marina � paralela � hist�ria da televis�o brasileira, que completou 70 anos em setembro. O trabalho da atriz foi relevante n�o s� no humor, mas tamb�m em novelas, diz Corr�a. Mesmo em pap�is menores, o jeito engra�ado e simples da atriz roubava a cena. “A gente s� pensa em protagonista quando ele ocupa a novela toda, mas a Marina fazia o pr�prio protagonismo, aproveitava as oportunidades. Acho isso bacana.”
LUZ
Cl�vis Corr�a diz que o livro significa miss�o cumprida para ele. “As pessoas gostam de fazer homenagem a quem j� se foi ou est� muito badalado, mas fico orgulhoso de escrever sobre um nome que realmente precisava desta luz.”
Agora, o jornalista planeja levar a hist�ria de Marina Miranda para os palcos. Ele aproveitou a quarentena e sua experi�ncia como dramaturgo para escrever uma pe�a. Assim que o novo coronav�rus permitir, ele vai buscar formas de financiar o espet�culo.
*Estagi�rio sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria

MARINA MIRANDA – AL�M DA CRIOULA DIF�CIL
. De Cl�vis Corr�a
. Edi��es Funarte
. 168 p�ginas
. R$ 30
. Informa��es: [email protected] e [email protected]