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Estado de Minas CINEMA

Wim Wenders assume papel de seus personagens em document�rio

Longa sobre a trajet�ria do diretor alem�o ter� sess�o �nica on-line neste domingo (4), no encerramento do festival � Tudo Verdade


03/10/2020 04:00 - atualizado 03/10/2020 12:15

O diretor alemão Wim Wenders posa para foto em 2018(foto: Joel Saget/AFP)
O diretor alem�o Wim Wenders posa para foto em 2018 (foto: Joel Saget/AFP)
Um homem que se jogou na vida em queda livre, sem nenhuma rede de prote��o. � esse o retrato do mais popular diretor alem�o do fim do s�culo passado (e do in�cio deste) que Eric Fiedler e Andreas Frege, mais conhecido como Campino, descortinam no document�rio Wim Wenders, Desperado

In�dito na Am�rica Latina, o longa-metragem encerra neste domingo (4), em sess�o �nica, on-line, a 25ª edi��o do � Tudo Verdade – Festival Internacional de Document�rios. Em duas horas, a dupla de diretores celebra a vida e a obra do cineasta, que chegou aos 75 anos no �ltimo dia 14 de agosto. 

Esta celebra��o se d� por meio de uma viagem f�sica e emocional que Wenders empreende pelas loca��es de alguns de seus filmes e tamb�m pelos depoimentos de seus companheiros de jornada.

� no deserto do Texas, ao redor da cidade fantasma de Terlingua, um dos cen�rios de Paris, Texas (1984), obra-prima de Wenders, que a narrativa come�a e termina. Tal como o maltrapilho Travis interpretado por Harry Dean Stanton, Wenders caminha sozinho pela imensid�o des�rtica com um garraf�o de �gua. Emulando seu personagem, ele joga a garrafa fora (no document�rio, uma legenda bem-humorada confirma que, depois de rodada a cena, a garrafa foi devidamente recolhida). 

Wim Wenders e sua mulher, Donata, em Cannes, em 2018(foto: Valery Hache/AFP)
Wim Wenders e sua mulher, Donata, em Cannes, em 2018 (foto: Valery Hache/AFP)


Pinturas


Ao reencontrar seu mais c�lebre cen�rio, o criador de tantas hist�rias come�a a refletir sobre como chegou at� ali. Desperado � um presente para Wenders e para os cin�filos, pois sua pr�pria trajet�ria confunde-se com os filmes (quase 70 t�tulos, entre curtas e longas, fic��o, document�rio e clipes). 

“Seus filmes s�o, na verdade, pinturas”, diz a atriz Andie MacDowell sobre a obra de Wenders. O diretor revisita a Paris de sua juventude, incluindo o apartamento onde vivia, para lembrar que sua primeira inten��o era se dedicar � pintura. 

O cinema veio em consequ�ncia de sua inaptid�o para as tintas. Apaixonou-se pelos filmes na Cinemateca Francesa, local que frequentava religiosamente em todos os dias do inverno, para se aquecer, j� que n�o tinha calefa��o em casa. Em dado momento, descobriu que a sala escura era o �nico lugar em que queria estar.

Juliano Ribeiro e Wim Wenders assinam O sal da Terra, documentário sobre Sebastião Salgado (ao centro)(foto: Donata Wenders/Divulgação )
Juliano Ribeiro e Wim Wenders assinam O sal da Terra, document�rio sobre Sebasti�o Salgado (ao centro) (foto: Donata Wenders/Divulga��o )


Reconstitui��o 

 
O document�rio � uma costura muit�ssimo bem-feita de imagens. Alguns de seus mais importantes filmes – Paris, Texas, Asas do desejo (1987), O medo do goleiro diante do p�nalti (1972), O amigo americano (1977) – s�o reconstitu�dos tendo o pr�prio Wenders no lugar dos personagens (como o j� citado Travis no deserto e o anjo Cassiel, de Otto Sander, em uma biblioteca). A essas sequ�ncias s�o intercaladas cenas dos filmes originais, mostrando o encontro entre criador e criatura.

O filme � tamb�m prol�fico em encontros. Patti Smith, Ry Cooder e Willem Dafoe falam para a c�mera de agora, mas tamb�m h� registros de companheiros que se foram, como o de Bruno Ganz (1941-2019), o anjo Damiel. 

Um dos melhores encontros se d� com o colega Werner Herzog, quando os dois celebram a amizade – “Somos amigos porque ficamos muitos anos sem nos ver”, dizem – e renegam o r�tulo de “Novo Cinema Alem�o” que sempre acompanhou seus filmes. Eram – na verdade, s�o – realizadores solit�rios. 

Mas o fato de serem alem�es foi definidor. Wenders, nascido no �ltimo ano da Segunda Guerra Mundial, sempre se incomodou com seus compatriotas por olharem para a frente, nunca para tr�s. Muito influenciado pela cultura americana, quis “fazer a Am�rica”. Ap�s o sucesso de O amigo americano, recebeu um convite pra l� de tentador. 

Am�rica


Francis Ford Coppola e sua produtora, Zoetrope, queriam que Wenders fizesse um filme americano. Hammett (1982), seria um policial noir sobre um dos mais c�lebres escritores do g�nero, Dashiell Hammett. Wenders aceitou sem pestanejar. Tal narrativa, que ocupa a parte final do filme, � saborosa, pois vemos as duas vers�es da hist�ria do ponto de vista de dois nomes fundamentais do cinema.

De um lado, Coppola, que s� descobriu que Wenders havia mudado completamente o roteiro quando as filmagens estavam terminando. Na �poca, segundo Coppola, Wenders, casado com a atriz americana Ronne Blakley, colocou-a como personagem principal da narrativa. Ainda de acordo com ele, ela pr�pria estava reescrevendo parte do roteiro. “N�o quero falar sobre isso, � um assunto delicado”, diz Wenders. 

Resumo da �pera: Coppola teve que intervir no filme. Hammett foi filmado novamente, levou dois anos para ser lan�ado (sem nem sequer uma cena de Ronne) e foi um fracasso retumbante. Nesse meio tempo, Wenders rodou O estado das coisas (1982), filme em que um cineasta fracassa em sua tentativa de fazer um filme por causa das interfer�ncias do produtor. Passados tantos anos, os dois fizeram as pazes, vale dizer.

Wenders � um encantador de mundos, mas a narrativa de suas obras nem sempre convenceu. Ele s� conseguiu entender que nunca faria um filme americano com Paris, Texas, realizado nos EUA, mas com o olhar de um estrangeiro. 

O processo de feitura do cl�ssico, que foi realizado quase sem roteiro (as pessoas chegavam para filmar com o roteiro do dia conclu�do pelo cineasta na madrugada anterior), � um dos pontos altos do document�rio. 

O pr�prio Wenders admite que aquele � o seu filme, que n�o conseguiria fazer outro melhor, mas que n�o sabia se era bom o suficiente (a fala � seguida pela imagem da Palma de Ouro em Cannes que ele recebeu por Paris, Texas). Asas do desejo, por seu lado, foi o filme em que o diretor fez as pazes com a Alemanha.

O cineasta quieto, centrado, tamb�m se enfurece. E muito. Wenders admite que n�o cabe mais no mundo do cinema. N�o � diretor de seguir roteiros � risca, de obedecer aos preceitos dos grandes est�dios. Para ele, o improviso � essencial ao processo de cria��o. "Nos �ltimos anos, ele come�ou a ficar muito zangado e a gritar", admite sua mulher, Donata Wenders.

� pela impossibilidade de continuar fazendo seus filmes do jeito que quer que ele intensificou a produ��o de document�rios de duas d�cadas para c�, segundo Donata. O formato permite maior liberdade. “Fazer filmes � uma tarefa radical”, ele admite. 

WIM WENDERS – DESPERADO
O filme ser� exibido neste domingo (4), �s 20h, no encerramento do festival � tudo verdade. Ser�o disponibilizadas 1 mil visualiza��es. Acesse em www.etudoverdade.com.br.


Paara maratonar


Confira os principais t�tulos da carreira do diretor alem�o

“O streaming vai acabar com o cinema”, diz Wim Wenders a certa altura em Desperado. Mas as plataformas parecem gostar de sua obra. Ao contr�rio de outros grandes diretores, cujas filmografias acabaram esquecidas na era do streaming, a presen�a do cineasta alem�o � grande no meio digital. Na sele��o abaixo est�o v�rios dos filmes analisados no document�rio que ser� lan�ado neste domingo. Para assistir antes ou depois de Desperado – de prefer�ncia, sem pausar.  

» O medo do goleiro diante do p�nalti (1972)
Primeira colabora��o com Peter Handke, Nobel de Literatura. Goleiro comete crime ap�s discuss�o com �rbitro de futebol.
Onde: Arte 1

» Alice nas cidades (1974)
O jornalista e a garota que busca a av� num road movie.
Onde: Belas Artes � La Carte

» Movimento em falso (1975)
Seis dias na vida de um aspirante a escritor.
Onde: Belas Artes � La Carte

» O amigo americano (1977)
Baseado em obra de Patricia Highsmith, famoso pela quantidade de atores diretores.
Onde: Belas Artes � La Carte

» Paris, Texas (1984)
Obra-prima de Wenders. Travis emerge do deserto para se unir � mulher e ao filho.
Onde: Arte 1 e Belas Artes � La Carte

» Tokyo-Ga (1986)
Tributo a Yasujiro Ozu, uma viagem � T�quio contempor�nea e aos fliperamas.
Onde: Belas Artes � La Carte

» Asas do desejo (1987)
Dois anjos conseguem ouvir os desejos das pessoas.
Onde: Looke e Belas Artes � La Carte

» Buena Vista Social Club (1999)
Document�rio sobre o grupo de m�sica cubano que re�ne veteranos pouco reconhecidos. 
Onde: Arte 1 e Belas Artes � La Carte

» Medo e obsess�o (2004)
Drama que investiga a ansiedade e a desilus�o nos EUA.
Onde: Looke 

» Estrela solit�ria (2005)
Astro decadente de western abandona o set e descobre que tem um filho que nunca conheceu.
Onde: Arte 1

» Pina (2011)
Cena de 'Pina', documentário de Wim Wenders sobre a coreógrafa Pina Bausch(foto: Donata Wenders/Divulgação )
Cena de 'Pina', document�rio de Wim Wenders sobre a core�grafa Pina Bausch (foto: Donata Wenders/Divulga��o )

Primeira incurs�o em 3D do diretor, faz um tributo � core�grafa alem� Pina Bausch (1940-2009).
Onde: Telecineplay

» O sal da terra (2014)
Codirigido com Juliano Ribeiro, filho de Sebasti�o Salgado, acompanha a trajet�ria do fot�grafo brasileiro.
Onde: Looke


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