
Diretor de fotografia de filmes que fazem a diferen�a no cinema brasileiro atual – A rosa azul de Novalis, de Gustavo Vinagre; Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caff�; e Desterro, de Maria Clara Escobar –, Bruno Risas estreia na dire��o de longas como Ontem havia coisas estranhas no c�u.
O filme circulou por festivais nacionais e internacionais. Foi exibido na Mostra Aurora, em Tiradentes, e no Festival de Turim, na It�lia. O curador do evento europeu deixou o diretor todo sorrisos ao lhe dizer que, depois de ver o filme tr�s vezes no computador, a quarta, na tela grande, revelou a ele outro filme, muito mais belo. Bruno Risas quer continuar sua carreira de diretor, mas nem sonha em abandonar a dire��o de fotografia.
Ama o trabalho em equipe, a troca. Reflete sobre a fotografia de filmes: “A gente faz o filme pensando na tela grande, mas, cada vez mais, a multiplicidade de telas permite que as pessoas escolham como e quando v�o ver os filmes. Tem gente que v� no celular, no �nibus, no metr�. N�o � a mesma frui��o do cinema, mas a gente segue trabalhando para fazer os filmes fortes, intensos.”
O filme circulou por festivais nacionais e internacionais. Foi exibido na Mostra Aurora, em Tiradentes, e no Festival de Turim, na It�lia. O curador do evento europeu deixou o diretor todo sorrisos ao lhe dizer que, depois de ver o filme tr�s vezes no computador, a quarta, na tela grande, revelou a ele outro filme, muito mais belo. Bruno Risas quer continuar sua carreira de diretor, mas nem sonha em abandonar a dire��o de fotografia.
Ama o trabalho em equipe, a troca. Reflete sobre a fotografia de filmes: “A gente faz o filme pensando na tela grande, mas, cada vez mais, a multiplicidade de telas permite que as pessoas escolham como e quando v�o ver os filmes. Tem gente que v� no celular, no �nibus, no metr�. N�o � a mesma frui��o do cinema, mas a gente segue trabalhando para fazer os filmes fortes, intensos.”
Ontem havia coisas estranhas no c�u come�ou a nascer h� 10 anos, num momento de crise. Desde a quinta-feira passada (15), encontra-se dispon�vel na Netflix. A crise econ�mica que atingira os EUA e a Europa tinha seus reflexos no Brasil de 2010, que tamb�m fazia a transi��o da presid�ncia de Luiz In�cio Lula da Silva para Dilma Rousseff.
ASCENS�O
“Minha fam�lia havia experimentado certa ascens�o social, mas a� vieram os problemas. Perda de emprego, disputa pela casa com os meus tios. Comecei a filmar algumas imagens com eles – minha m�e, meu pai, minha av�, que morreu no ano passado, minha irm�. Filmava sem saber o filme que estava fazendo. E a�, um dia, descobri o que queria fazer. Todo mundo que v� o filme e com quem converso fala nessa pegada de document�rio, mas, embora seja a minha fam�lia, a obra � uma fic��o. Estou falando de conflitos familiares numa dimens�o meio fant�stica, com um toque de fic��o cient�fica.”
O filme venceu o pr�mio de longa de diretor estreante no Festival Cin�ma du R�el. A coisa estranha no c�u � um disco voador. A m�e � abduzida. Como fica a vida familiar? “Comecei a filmar numa situa��o de desemprego que estava atingindo a minha fam�lia, mas a� ocorreu uma coisa curiosa. Estava fazendo o filme sozinho, mas ganhei um dinheiro para a produ��o e a situa��o mudou. A Flora Dias veio filmar comigo e eu pude empregar as pessoas, num esquema mais profissional. (Flora assina a fotografia do filme conclu�do e tamb�m tem cr�dito de assistente.) At� os meus pais passaram a ter uma atitude diferente em rela��o ao que est�vamos fazendo.”
E foi a� que houve a grande m�gica: “Conversava muito com amigos sobre o absurdo da vida cotidiana, que, para n�s, n�o difere do absurdo da fic��o cient�fica. Os c�digos que definem as fun��es sociais das pessoas s�o inven��es, e por isso foi poss�vel encarar o g�nero num formato de drama familiar documental.”
A sacada de Bruno foi descobrir que sua m�e, Viviane Machado, poderia ser uma verdadeira, e grande, atriz. A dona de casa que nunca representou revela uma beleza particular. Tem a boca amarga de estrelas como Jeanne Moreau e Lilian Lemmertz, e fuma muito, como a primeira. Encara a c�mera sem piscar e num sil�ncio que amplifica o drama. Numa das cenas, ela n�o consegue manter o sil�ncio, ou finge que n�o consegue. Come�a a rir e explode, batendo boca com o filho cineasta.
DISCUSS�O
Bruno aparece bastante no filme, que come�a com sua voz. Em outra montagem, chegou a aparecer mais, mas achou que estava sendo narcisista e reduziu a presen�a. Nesse caso espec�fico, a discuss�o com a m�e, em que as vozes de ambos se alteram – ela em primeiro plano, ele fora de campo –, Bruno n�o consegue diferenciar o que � fic��o e o que � document�rio. “S�o as duas coisas, o h�brido � muito forte.”
Justamente o h�brido. “O filme circula muito por diversas formas. � metalingu�stico, faz perguntas para si e para os personagens. E era um processo que todo mundo vivia de forma muito intensa. No come�o, era tudo muito simples e direto, mas, quando a equipe cresceu e tinha um monte de gente na casa, passou a haver uma constru��o elaborada, com travelings, refletores. E havia a rotina de filmar, que n�o era a da casa. A gente chegava cedo, definia a cena, filmava. E quando ocorriam coisas interessantes no set, a gente agregava. Tudo isso eu tinha de discutir principalmente com minha m�e, que � quem mais aparece.”
Bruno est� acostumado a filmar personagens reais. Sabe que a exposi��o � grande quando as pessoas aparecem e se veem na tela. Ontem havia coisas estranhas no c�u aborda quest�es �ntimas da fam�lia – feridas. “N�o queria expor meus pais, mas quando levamos o filme a Tiradentes, e eu vou muito � Aurora, percebi que eles estavam tranquilos. Os problemas deles foram ressignificados para a plateia.”
Com certeza. Com essa m�e, Bruno deu universalidade � hist�ria de sua fam�lia.