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Estado de Minas M�SICA

"H� futuro?": Artistas de BH lan�am discos sobre o mundo em crise

Tarda, godofredo e Wagner Almeida, revela��es da cena independentes de Minas Gerais, expressam em m�sicas as incertezas da vida e os desencontros pol�ticos e sociais do pa�s


12/11/2020 04:00 - atualizado 12/11/2020 10:26

Banda Tarda fala da angústia de um mundo que ficou no passado(foto: Randolpho Lamonier/Divulgação)
Banda Tarda fala da ang�stia de um mundo que ficou no passado (foto: Randolpho Lamonier/Divulga��o)
N�o � de hoje que uma nuvem paira sobre a cena musical belo-horizontina. No passado, ela era “cigana”, como descreveram Ronaldo Bastos e L� Borges na can��o interpretada por Milton Nascimento no disco Clube da Esquina. O tom positivo, no entanto, foi minguando com o passar dos anos e hoje uma nova gera��o da cena independente parte de um lugar essencialmente melanc�lico para fazer m�sica.

Prova disso � o trabalho da Tarda, banda formada pelos artistas J�lia Baumfeld, Paola Rodrigues, Randolpho Lamonier, Sara N�o Tem Nome e Victor Galv�o. No �lbum de estreia, Futuro, lan�ado na �ltima quarta-feira (11), o grupo reflete sobre quest�es existenciais, experimentando sonoridades que revelam sua voca��o para can��es melanc�licas e ruidosas.

Formada em 2017, a banda nasceu do desejo de Sara e Victor de colocar em pr�tica a ideia de um coletivo art�stico que misturasse m�sica, performance, audiovisual e fotografia. No primeiro momento, a dupla convidou J�lia e Paola, formadas em artes visuais. �ltima aquisi��o do grupo e �nico n�o m�sico, Randolpho atua como artista visual em v�deo, fotografia, desenho e instala��o.
 
Entre a data de forma��o e o primeiro disco, a Tarda colocou na pra�a quatro m�sicas. Ningu�m por enquanto, Veluda, Breath e Buraco de afundar, lan�adas entre o final de 2018 e este segundo semestre de 2020, j� mostravam que o registro seria uma jun��o bem-feita de refer�ncias que remontam ao passado, ao mesmo tempo em que apontam para o futuro.

“A �ltima vez em que a banda inteira se encontrou foi no carnaval”, explica Sara. “Fomos surpreendidos pela pandemia e no momento em que est�vamos espalhados por lugares diferentes: eu e J�lia em BH, Victor e Paola em S�o Paulo, Randolpho em Paris. Para nossa sorte, sempre fomos muito atentos a documentar todo o processo de produ��o. Quando nos vimos impossibilitados de nos reunir, a sa�da foi recorrer a esse material e aos encontros on-line.”

Por sorte ou ironia do destino, boa parte do trabalho estava em vias de ser finalizada. � exce��o de Veluda, os outros tr�s singles est�o entre as 11 faixas do disco, entre m�sicas de natureza triste e discursos pol�ticos.

Algumas can��es, como Hilda e Pantasma, s�o paisagens sonoras que re�nem �udios de Hilda Hilst, Clarice Lispector e da ex-presidente Dilma Rousseff. Em outras, os integrantes citam o poeta portugu�s Fernando Pessoa e o fil�sofo e soci�logo alem�o Walter Benjamin.

Lan�ado num momento em que � dif�cil vislumbrar o amanh�, Futuro � a forma que a banda encontrou de falar sobre o presente.

“Chega um momento em que a gente precisa aceitar que as coisas deram errado”, diz Sara, citando o escritor argentino Julio Cort�zar (1914-1984). “� preciso aceitar que certas ideias n�o nos servem mais e, para continuar, � preciso que aconte�am algumas mudan�as. Tentamos falar sobre esse tipo de ang�stia e sobre como n�o cabemos mais num mundo criado no passado. Estamos assistindo � queda da sociedade como um todo, � o momento de sonhar.”

� por isso que em algumas faixas o disco partepara um universo on�rico. Em Paranoid quarto, por exemplo, Paola demonstra talento para o spoken word – a m�sica � uma poesia que descreve cat�strofes em ingl�s e em portugu�s. Em Eco, o disco ganha tonalidade psicod�lica, e em Liturgia das horas, majoritariamente instrumental, a banda cria o universo urgente que gira em torno de uma simples pergunta: “Cad� voc�?”.

Tudo isso, por mais melanc�lico que possa parecer, culmina na faixa-t�tulo, que come�a com sons de ondas do mar e se constr�i entre dedilhados de guitarra e vozes reverberadas. A letra fala sobre a ideia de se desvencilhar do passado para viver o porvir. “H� futuro?”, questiona o verso da can��o.
 
 
 

Arquivos nost�lgicos 

 

A banda godofredo se inspira no cenário político do Brasil(foto: Gabi Fausto/Divulgação)
A banda godofredo se inspira no cen�rio pol�tico do Brasil (foto: Gabi Fausto/Divulga��o)

Se o caminho importa mais que o destino, a banda godofredo (escrito assim, em min�sculas) cria uma jornada pessoal, memorialista, universal e cheia de refer�ncias no �lbum de estreia Arquivos vol. 3. Dispon�veis nas plataformas digitais, as 10 faixas s�o guiadas pela nostalgia, atentas ao atual cen�rio social e pol�tico do Brasil, tamb�m de olho nas incertezas do futuro.

At� formar a banda, os tr�s m�sicos que a integram percorreram uma trajet�ria por outros grupos mineiros. Vinicius Cabral (voz e guitarra) passou pelas bandas Videotroma, Picnic no Front e The Innernettes. Munido de composi��es ent�o in�ditas, ele convidou Andr� P�dua (voz e guitarra) e Matheus diRocha (baixo) para acompanh�-lo. O primeiro integrou a Padawan e o Ere��o de Elefante, o segundo soma passagens pela Dom Pepo, Pequeno C�u e Novos Baianos F.C.

Desse encontro surgiu uma banda incongruente, que se localiza entre o dreampop, o shoegaze e o rock progressivo. Essa mistura serve de base para letras inquietas que passeiam por temas como a autocr�tica masculina, inseguran�a, pol�tica e utopias.

O disco, que come�a com Medo e vai at� a derradeira Calma, re�ne can��es escritas entre dezembro de 2018 e julho de 2019. Assinada por Andr� P�dua, a produ��o entrega faixas que unem os vocais agudos de Vinicius a um instrumental “sujo”, algo que a banda descreve como “indie lo-fi”. A mixagem e a masteriza��o s�o assinadas por Bruno Leo.

“Todas as composi��es nasceram acompanhadas por um processo interior. Eu passava por mudan�as f�sicas e psicol�gicas muito intensas. Crise financeira, crises afetivas, isolamento social, mesmo antes da pandemia”, explica Vinicius Cabral.

“Em crise com meus pr�prios valores, comecei a experimentar com tintas e processos manuais, enquanto arranjava o �lbum com Dedeco (Andr� P�dua). O nome Arquivos veio de uma tentativa de catalogar mem�rias e obras perdidas, jogadas pelo apartamento”, revela Vinicius.
 
 
 

Mergulho em BH


O músico Wagner Almeida canta sobre a vida num centro urbano como Belo Horizonte(foto: Henrique Gomes/Divulgação)
O m�sico Wagner Almeida canta sobre a vida num centro urbano como Belo Horizonte (foto: Henrique Gomes/Divulga��o)

Num movimento semelhante ao da banda godofredo est� o trabalho de Wagner Almeida. Em Campe�o da avenida, lan�ado pela Gera��o Perdida de Minas Gerais, o mineiro reflete sobre a vida num centro urbano como Belo Horizonte. Com nove faixas e participa��o de Ana Paia (em Acorda) e Theuzitz (em Perdoar), o trabalho conta com momentos que referenciam diretamente locais da capital, como � o caso de Avenida; e outros em que o artista percorre um mergulho interior, como em Afogar e Piloto autom�tico.

O disco traz ainda bons momentos como Frank Ocean, Carta de vinhos e Cortar, que provam estarem intactas as qualidades que Wagner apresentou nos discos Crescimento/desist�ncia (2018) e Domingos � noite (2019), e nos EP's Sonho violento (2019) e Sonho violento pt. 2 (2020).



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