
“Estou realizando um sonho. Sabe quando um sonho se torna distante? Mas terminou acontecendo, e em grande estilo”, comemora o cantor e compositor cearense.
O desejo de lan�ar um disco de seresta o acompanha desde a inf�ncia. Por�m, em 45 anos de carreira, surgiram outras prioridades. “Guardei as serenatas na mem�ria e fui para outro mundo (musical). Sempre me interessei por elas”, diz o cantor dos hits rom�nticos Canteiros e Borbulhas de amor.
IRM�O
O disco � homenagem ao irm�o dele, o seresteiro Fares C�ndido Lopes,15 anos mais velho, com quem Fagner aprendeu a amar n�o apenas a serenata, mas tamb�m o futebol. “Cresci ouvindo o meu irm�o cantar. No Cear�, a minha inf�ncia foi ouvindo esse repert�rio.”
O disco homenageia grandes int�rpretes – Francisco Alves, S�lvio Caldas, Orlando Silva e Vicente Celestino –, reunindo can��es de C�ndido das Neves, Freire J�nior, Cartola, Belchior, Orestes Barbosa, Chico Buarque, Pixinguinha e Vinicius de Moraes, entre outros.
Marcado para abril, o lan�amento teve de ser adiado devido � pandemia de COVID-19. Fagner aproveitou o isolamento para regravar algumas faixas. “H� m�sicas aparentemente iguais, com os mesmos formato e leitura. No final do processo de botar a voz, eu j� estava um pouco perdido. Veio essa pausa longa e deu para refletir, colocar (a voz) com mais propriedade”, explica.
“N�o sei dizer exatamente o porqu� de lan�ar agora, mas as coisas chegaram a um ponto que ficou inevit�vel. J� estava devendo esse disco para mim, meu irm�o e para Conservat�rio, que nos acolheu t�o bem”, comenta Fagner, referindo-se ao munic�pio fluminense apelidado de “Cidade da Seresta”.
O foco do projeto n�o est� nos jovens, mas Fagner acredita que o repert�rio pode agradar �s novas gera��es. “Coisas de qualidade podem prender a aten��o deles”, afirma. Pensando nos mais antigos, fez quest�o de lan�ar o disco em vinil. “A qualidade � melhor, o processo � melhor e se escuta com mais qualidade. Esse p�blico ainda mant�m a cultura do vinil”, diz.
Uma das faixas preferidas dele � Serenata do adeus, de Vinicius de Moraes. “Minha hist�ria com o Vinicius foi muito especial, sempre me lembro dele”, conta.
O �lbum traz uma participa��o superespecial: Nelson Gon�alves (1919-1998), que divide a faixa Serenata com Fagner. “Deu muito trabalho, mas foi um achado. Cantar com o Nelson, n�? Ele � um dos grandes, a responsabilidade � muito grande”, diz, a respeito do encontro, gra�as � tecnologia, com o int�rprete de A volta do bo�mio.
A rela��o dos dois come�ou com uma desaven�a. “Quando lancei o disco Noturno (1979), ele fez uma declara��o cr�tica sobre mim. N�o deixei mole. Nos encontramos, tivemos um bate-boca e acabamos virando amigos. Essa faixa � coberta de hist�ria, carinho e respeito”, diz Fagner.
TRAUMA
A vida de seresteiro n�o � f�cil. Fagner que o diga. “A primeira serenata que fiz, era muito jovem. Foi no dia da morte do ex-presidente Castello Branco (18 de julho de 1967). Fomos cercados por carros do Ex�rcito, queriam saber o que faz�amos ali. Foi meio traum�tico”, relembra.
“Depois, teve aranha-caranguejeira subindo na minha perna. E alguns pais que n�o gostavam muito da gente. Era sempre um risco, ficava tenso”, conta Fagner, referindo-se � vigil�ncia paterna sobre as filhas homenageadas pelos rapazes seresteiros. Era preciso planejar tudo com cuidado. “Esper�vamos a pessoa dormir, tinha toda uma log�stica”, conclui.

SERENATA
De Raimundo Fagner
12 faixas
Biscoito Fino
R$ 54
* Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria