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Estado de Minas AUDIOVISUAL

Nova s�rie da Netflix, 'Quebra tudo' revela o lado B do rock latino

Produ��o traz a hist�ria de bandas e cantores ic�nicos que conseguiram furar o bloqueio da cena roqueira com a l�ngua espanhola


20/01/2021 04:00 - atualizado 20/01/2021 08:17

Andrea Echeverri, do Aterciopelados, um dos grupos que conseguiram furar o bloqueio linguístico no universo roqueiro
Andrea Echeverri, do Aterciopelados, um dos grupos que conseguiram furar o bloqueio lingu�stico no universo roqueiro (foto: Ezequiel BECERRA/AFP - 8/4/18)
�s costas do Brasil, mas como se estivessem em outra gal�xia, pa�ses da Am�rica Latina receberam o rock desde suas cal�as curtas, em 1957, a partir do encorajador fen�meno planet�rio em espanhol Richie 'La Bamba' Valens, e o transformaram em seu com poesia, f�ria e personalidade. As duas primeiras qualidades o rock traz em seu DNA para se estabelecer em qualquer lugar do mundo. A terceira, n�o.

Ou seja, antes mesmo de ser absorvido no Brasil com algum car�ter particular, argentinos, mexicanos, uruguaios, peruanos e chilenos o usavam � sua forma, filtrado em suas tradi��es, como uma arma que n�o havia sido apontada da mesma forma nem em seus ber�os. Sem governos ditatoriais a combater nos Estados Unidos dos anos 50 ou na Inglaterra dos 60, o rock aprendeu a ser rock mesmo, de dimens�es sociais coletivas e n�o apenas comportamentais, sob as rajadas das ditaduras latino-americanas.

H� muito mais conjecturas a se fazer depois dos reveladores seis epis�dios da s�rie Quebra tudo – A hist�ria do rock na Am�rica Latina, que a plataforma Netflix oferece desde janeiro. S�o quase 100 entrevistas, imagens de arquivo valiosas e, para os brasileiros, um deleite extra. Salvo nas passagens sobre artistas como os argentinos Soda Stereo e Caf� Tacuba, os colombianos Aterciopelados ou os mexicanos superstars do Man�, que conseguiram de algum modo furar o bloqueio lingu�stico por algum tempo – o fator apontado como a principal causa do muro industrial erguido aos hisp�nicos pelo lado portugu�s do continente –, tudo � uma saborosa descoberta narrada sempre em paralelo aos tremores pol�ticos provocados por presidentes ora assassinos, ora assassinados.

A festa dos hermanos n�o passou pelo Brasil por falta de interesse das gravadoras, que patrocinaram o interc�mbio continental em l�ngua espanhola sem envolver o Brasil. A sensa��o, ent�o, � de perda. O quanto perdemos por n�o saber mais do uruguaio Hugo Fattoruso, antes de ser quem se tornou, como roqueiro do Los Shakers, e por n�o ouvir os argentinos do Joven Guardia (ningu�m consegue dizer se foram ou n�o inspirados pela Jovem Guarda brasileira) cantando El extra�o de pelo largo. De quanta poesia fomos privados sem os LPs do genial Luis Spinetta, l�der do fabuloso grupo Almendra.

O WOODSTOCK MEXICANO

Quanta energia deixamos de conhecer por n�o ter os discos do mexicano de Tijuana Javier B�tiz, de vocal poderoso e dono de uma vers�o estupenda de The house of the rising sun. O homem que, depois de ser visto cantando na pra�a por um menininho de 5 anos chamado Carlos Santana, foi procurado pela m�e do futuro maior guitarrista de rock da l�ngua espanhola no dia seguinte: "Por sua culpa, meu filho ficou sem dormir a noite toda".

E que hist�ria � essa do Woodstock mexicano realizado �s margens do Lago Av�ndaro, em 1971, quando se esperavam 5 mil pessoas e apareceram – at� onde conseguiram contar – algo como 250 mil. Como o rock, por seu potencial explosivo, foi proibido no M�xico por oito anos? E de que forma a MTV Latina conseguiu unificar esse gigantesco bloco produtor de um som vigoroso e cheio de influ�ncias que v�o da cumbia ao tango?

A produção retrata figuras como o argentino Luis Spinetta, que integrou as bandas La Pesada del Rock and Roll e Almendra
A produ��o retrata figuras como o argentino Luis Spinetta, que integrou as bandas La Pesada del Rock and Roll e Almendra (foto: LAURA TENENBAUM /AFP - 5/1/12)

Brasil estava nos planos, mas ficou fora

Seria um erro n�o incluir o Brasil em nenhum cap�tulo do document�rio? "Eu morei em S�o Paulo por cinco anos e sei que o universo roqueiro de voc�s � gigante. Seria preciso mais 10 temporadas", diz o diretor da s�rie, Picky Talarico. Ele conta que pensou em fazer duas entrevistas, que acabaram n�o sendo levadas adiante: uma com Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, e outra com Caetano Veloso. Os Paralamas s�o uma exce��o no proclamado autossuficiente rock brasileiro dos anos 80, considerados "a banda de rock brasileira mais argentina da hist�ria" desde que o piano de Charly Garcia, o her�i portenho, apareceu na grava��o de Quase um segundo, do �lbum Bora Bora, de 1988.

E Caetano por um ponto curioso: sobretudo os argentinos o percebem at� hoje como um roqueiro, n�o como um cantor de MPB. E isso gra�as ao 3º Festival da M�sica Popular Brasileira de 1967, quando cantou Alegria alegria acompanhado pela banda de argentinos Beat Boys, com Tony Osanah (guitarra e voz), Cacho Valdez (guitarra), Toyo (�rg�o), Willy Verdager (baixo) e Marcelo Frias (bateria). Os dois �ltimos estariam na base dos supreendentes Secos & Molhados cinco anos depois.

"Mas a postura dele � roqueira. Ali�s, foi a MPB de voc�s que teve a atitude do rock nos anos 70", diz Talarico. E como o pr�prio Caetano considera o t�tulo de roqueiro latino-americano dado pelos argentinos? "Acho merecido pelas coisas que fizemos antes mesmo de argentinos, uruguaios, mexicanos ou chilenos. Cantei Alegria alegria em 1967. Toda aquela atitude roqueira que fazia parte do tropicalismo foi aparecer s� mais tarde em cantores argentinos ou mexicanos", afirma, mas talvez se surpreenda se vir a s�rie. Instantes depois, Caetano manda outra mensagem com um complemento: "Eles (os produtores da s�rie) deveriam falar � de Raul Seixas. Quando eu e Gil faz�amos, em 1964, shows no Teatro Vila Velha, de bossa nova, Raul fazia show de rock no Cine Roma, lotado!".

Para parte dos críticos, créditos ao argentino Gustavo Santaolalla (produtor-executivo da série) foram além do merecido
Para parte dos cr�ticos, cr�ditos ao argentino Gustavo Santaolalla (produtor-executivo da s�rie) foram al�m do merecido (foto: JUAN MABROMATA/AFP - 27/10/17)

Produtores desafinam ao elogiar demais

O argentino Gustavo Santaolalla, m�sico, produtor e compositor que levou dois Oscar pelas trilhas sonoras originais dos longas O segredo de Brokeback Mountain (2005) e Babel (2006), aparece sendo entrevistado em v�rios momentos – e um espectador desavisado pode terminar de assistir ao document�rio considerando-o, de fato, um g�nio, j� que sua figura ï¿½ colocada como central em v�rios casos de sucesso de bandas e cenas. Mas fica mesmo estranho quando se percebe tamb�m que seu nome aparece nos cr�ditos como produtor executivo. N�o haveria, no m�nimo, um conflito de interesses?

A checagem � feita com Billy Bond, m�sico e produtor argentino que hoje vive no Brasil e que liderou um supergrupo nos anos 70, em Buenos Aires, chamado La Pesada del Rock and Roll, uma forma��o estelar com l�deres de grupos, como Spinetta e Charly Garc�a. Apesar de tamb�m aparecer como entrevistado, ele diz: "O erro desse document�rio se chama Santaolalla. Ele mente, n�o participou de tudo o que diz".

SEM RETORNO

Procurado pela reportagem, Santaolalla n�o retornou os pedidos de entrevista, mas o diretor Talarico falou a seu favor. "Ele disse que dever�amos tirar um pouco as partes em que aparecia, mas achei que, por sua import�ncia, precisava ficar mais tempo." Alguns memes n�o perdoaram o centralismo de Santaolalla e passaram a fazer montagens com o rosto do produtor ao lado de frases como "no dia em que nasci, nasceu o rock latino" e "sem a minha m�sica a vida seria um erro".

MAIS QUE M�SICA

Efeito Richie Valens
Californiano filho de mexicanos, seu sucesso cantando La bamba, em 1957, espraia o rock pelos pa�ses hisp�nicos. Morreu dois anos depois em um acidente de avi�o.

Los Prisioneros
Depois de fazer o rock Por que no te v�s virar o hino de quem queria o fim da ditadura de Augusto Pinochet, esta banda chilena ficou dois anos sem poder fazer showsem seu pa�s.

Guerra das Malvinas
O conflito entre o Reino Unido e a Argentina, entre 2 de abril e 14 de junho de 1982, foi vencido pelos brit�nicos. Como reflexo, as r�dios baniram o rock cantado em ingl�s, abrindo espa�o para o rock em espanhol.


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