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BBB 21: 'Esquerda criou palco, ganhou espelho e n�o gostou do que viu', diz fil�sofo sobre o reality

Em entrevista � BBC News Brasil, Wilson Gomes, professor titular de Teoria da Comunica��o da UFBA, analisa as pol�micas da 21� edi��o do programa.


11/02/2021 09:44 - atualizado 11/02/2021 10:30


'Esse BBB se tornou um laboratório a céu aberto da fragmentação dessa esquerda identitária que não tem um modelo de sociedade, que é dividida em tribos e que não concilia o discurso da diferença com o da igualdade', diz Wilson Gomes, professor titular de Teoria da Comunicação da UFBA
"Esse BBB se tornou um laborat�rio a c�u aberto da fragmenta��o dessa esquerda identit�ria que n�o tem um modelo de sociedade, que � dividida em tribos e que n�o concilia o discurso da diferen�a com o da igualdade", diz Wilson Gomes, professor titular de Teoria da Comunica��o da UFBA (foto: TV Globo)

"Ele � sujinho. Se esfregar bem…", "louco" e "abusador" e "quer usar a agenda LBGT" foram algumas das declara��es que geraram pol�mica na 21ª edi��o do Big Brother Brasil, reality show transmitido pela TV Globo.

Mas a forte repercuss�o nas redes sociais n�o se deu apenas pela natureza dos coment�rios, mas de quem veio — representantes do que muitos consideram ser militantes da diversidade e contra o preconceito.


Leia tamb�m: BBB, economia da aten��o e as armadilhas do ego-ativismo
 

Se ao p�blico coube o julgamento moral, na opini�o de Wilson Gomes, fil�sofo e professor titular de Teoria da Comunica��o da Universidade Federal da Bahia (UFBA), s�o sinais reveladores da "fragmenta��o da esquerda identit�ria", que n�o tem "um projeto de sociedade unificado".

"A esquerda criou palco, ganhou um espelho e n�o gostou do que viu", opina Gomes, pesquisador e autor de 11 livros, entre eles Cr�nica de uma Trag�dia Anunciada: Como a Extrema-Direita Chegou ao Poder.

"Esse BBB se tornou um laborat�rio a c�u aberto da fragmenta��o dessa esquerda identit�ria que n�o tem um modelo de sociedade, que � dividida em tribos e que n�o concilia o discurso da diferen�a com o da igualdade", disse ele em entrevista � BBC News Brasil. "N�o h�, portanto, espa�o para concilia��o. � como se cada peda�o da sociedade tivesse que cuidar de si. Ou, como digo, 'farinha pouca, meu pir�o identit�rio primeiro'."

Algumas lideran�as do movimento negro, no entanto, dizem que os participantes n�o falam pela causa, tese com a qual Gomes n�o concorda.

Ele, que tamb�m pesquisa comunica��o e pol�tica nas redes sociais, diz acreditar que a edi��o deste ano do Big Brother Brasil quis se aproveitar "do rescaldo do movimento Black Lives Matter" dentro de um contexto em que h� um esfor�o de valoriza��o e cobran�a por maior representatividade das minorias em espa�os p�blicos. De fato, metade do elenco BBB21 � negra, maior porcentual da hist�ria do programa.

Mas, segundo ele, apesar disso, o que o p�blico do lado de fora viu foi um "conflito sem limites das tribos identit�rias colidindo uma com a outra".

"As tramas amorosas e sexuais, recorrentes em outras edi��es do programa, foram substitu�das por 'tretas'. O p�blico achou aquilo assustador enquanto a esquerda tradicional, que oferece complac�ncia enorme em rela��o aos abusos desses grupos identit�rios, ficou desnorteada".

"O que vemos ali � cada um buscando sua superioridade moral e se permitindo comportamentos autorit�rios e agressivos simplesmente por causa de seu pertencimento a um grupo estruturalmente desvantajado ou historicamente marginalizado".

Ele se entregou no jogo e viveu momentos emocionantes dentro do #BBB21

%uD83D%uDCFA Relembre a trajet�ria de Lucas Penteado, que deixou o reality neste domingo #RedeBBB pic.twitter.com/aLFF7TBlTw

— Big Brother Brasil (@bbb) February 8, 2021


Na vis�o de Gomes, parte-se assim da vis�o de que o pertencimento "a essa minoria que sofreu, me d� um 'Super Trunfo'. E, portanto, o que eu fa�o tem uma esp�cie de excludente de ilicitude".

O fil�sofo faz alus�o ao jarg�o jur�dico — quando uma pessoa pratica um ato geralmente considerado il�cito ou impr�prio sem ser punida por isso — para comentar pol�micas como a que aconteceu durante uma festa, quando o participante Gilberto Nogueira afirmou ser um homem negro, declara��o que incomodou a rapper Karol Conk� e o comediante Nego Di. Esta disse: "Ele � sujinho. Se esfregar bem…". Karol Conk� e Nego Di se declaram negros.

Em outro desdobramento, Conk� foi acusada de viol�ncia psicol�gica contra o ator Lucas Penteado (de "Malha��o"), que tamb�m se declara negro, chamando-o de "louco e abusador". Isso se agravou depois que Lucas tratou outra participante, Kerline, com uma "abordagem invasiva", repleta de "nomes assustadores", segundo relato dela pr�pria. Kerline acabou tendo uma crise de choro, e o epis�dio fez com que alguns participantes do programa agissem duramente contra Lucas, deixando de falar com ele ou proibindo que ele se sentasse � mesa, por exemplo.

J� a psic�loga social Lumena acusou Lucas de autopromo��o ao protagonizar com Gilberto o primeiro beijo entre homens em 20 anos do programa. Ela disse: "Lucas t� usando os pretos para se autopromover. Primeiro foi uma agenda racial e agora uma agenda LGBT. Eu n�o fico falando da minha mulher e que sou sapat�o". A fala deu origem a brincadeiras e cr�ticas nas redes sociais, com usu�rios criando uma fict�cia "carteira de bissexual" a ser submetida � autoriza��o pr�via de Lumena.

'Racismo do bem'

Isolado e criticado pela grande maioria dos colegas, Lucas decidiu deixar o programa na manh� de domingo (7).

Gomes v� o que chama de "complac�ncia" da esquerda com rela��o a comportamentos como estes em torno da desist�ncia do participante Lucas.

"H� uma esquerda que passa pano para os abusos autorit�rios, linchadores e canceladores da esquerda identit�ria. Tem sido sempre assim. Eles vivem nessa complac�ncia, embora estes sejam comportamentos que violem as cren�as da pr�pria esquerda", diz.


Wilson Gomes destaca a ausência de espaços para a construção de diálogos
Wilson Gomes destaca a aus�ncia de espa�os para a constru��o de di�logos (foto: Divulga��o)

"Parece que estamos falando de dois tipos de racismo: um racismo que � conden�vel quando o vetor vai do branco para o negro e outro racismo para o qual 'se passa pano', que tem que ser chamado de outro nome, porque vai de um negro para outro negro, ou do negro para o branco".

"A cr�tica n�o � ent�o por princ�pio. Seria por conveni�ncia? Os conservadores acusam os progressistas justamente disso quando falam sobre o suposto 'racismo do bem' ou '�dio do bem'".

"Na minha vis�o, a cr�tica tem que ser por princ�pio: racismo � racismo, n�o importa de onde venha, abuso psicol�gico � abuso psicol�gico, n�o importa de onde venha. Autoritarismo que humilha outras pessoas � autoritarismo, n�o importa de onde venha", argumenta.

Segundo Gomes, esse tipo de atitude acaba fortalecendo a direita, que ele tamb�m classifica como identit�ria, mas, em sua avalia��o, muito mais "unificada".

"O cientista pol�tico americano Mark Lilla fala sobre como esses movimentos hiper-identit�rios foram muito importantes para a ascens�o do trumpismo e eu ousaria dizer para a ascens�o do bolsonarismo tamb�m. Afinal, se alimentam desse h�brido identit�rio", assinala.

"Pode ser que o defensor das armas e o antiabortista tomem caminhos separados no futuro, mas n�o h� d�vida de que existe um projeto de sociedade unificada na direita, a partir de uma vis�o conservadora do mundo."

Nesse contexto, Gomes lamenta a aus�ncia de espa�os para a constru��o de di�logos.

"As pessoas falam dentro das suas pr�prias tribos. Na luta antirracista da atualidade, n�o h� espa�o para um Nelson Mandela ou um Martin Luther King, pessoas com discurso universalista, conciliador", diz.

"N�o vejo a cria��o de pontes, a constru��o de di�logos. A esquerda de hoje � como um arquip�lago. A feminista que n�o se junta com mulher negra, que, por sua vez, n�o se junta com o homem negro. Trata-se de v�rias ilhas que, quando se juntam, se chocam. � isso que estamos vendo no programa", conclui.


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