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Estado de Minas CINEMA

Diretor usa 'Malcolm e Marie', da Netflix, para se vingar da cr�tica

Fic��o dirigida por Sam Levinson se inspira em fatos reais vividos pelo cineasta, por meio do personagem interpretado por John David Washington


16/02/2021 19:15 - atualizado 17/02/2021 22:53

Malcom (John David Washington) usa a história de Marie (Zendaya) em seu filme, mas não dá os devidos créditos a ela(foto: Netflix/divulgação)
Malcom (John David Washington) usa a hist�ria de Marie (Zendaya) em seu filme, mas n�o d� os devidos cr�ditos a ela (foto: Netflix/divulga��o)
Malcolm est� na melhor noite de sua vida. Acaba de chegar em casa da premi�re de seu longa-metragem. Ainda que n�o concorde com os cr�ticos, que destacam o contexto racial e pol�tico no pequeno drama que rodou (e ele insiste n�o ter nada de pol�tico), o diretor se v� como o novo Spike Lee ou Barry Jenkins.

Marie est� com cara de “j� vi essa hist�ria antes”. Ainda que o provoque – afinal, se quer ser chamado de apol�tico, por que seu pr�ximo filme ser� sobre Angela Davis? –, no fundo n�o est� interessada. J� que o filme foi baseado em sua pr�pria hist�ria, qual a raz�o de n�o agradecer a ela?

Quando Marie faz esta pergunta, chegamos ao cerne da quest�o e da longa DR que ser� desenvolvida dali por diante. Malcolm & Marie, filme de Sam Levinson que chegou este m�s � Netflix, �, em ess�ncia, um melodrama amoroso. Mas parece mascarar outras inten��es. 

� um dos primeiros filmes da era COVID. A hist�ria em si n�o tem rela��o alguma com a pandemia, mas ele s� foi realizado quando a s�rie Euphoria, criada por Levinson para a HBO, teve de ser interrompida. O diretor convocou dois atores, Zendaya, a estrela da s�rie, e John David Washington, os levou para uma casa dos sonhos em Los Angeles e rodou o longa, que se passa em uma �nica noite. Tanto por isso, transpira intimidade.

Rodado em preto e branco, cada sequ�ncia parece um editorial da Vogue. � um texto forte que caberia muito bem nos palcos. Como realiza��o cinematogr�fica, suas quase duas horas t�m momentos explosivos. Mas ao realizar a mesma sequ�ncia – briga, pazes, briga, pazes –, revela-se cansativo. 

Resumidamente, Malcolm (Washington, aqui com tom dram�tico que ainda n�o tinha sido colocado � prova desde Infiltrado na Klan, longa que o tornou conhecido) � um eg�latra. Cineasta negro em ascens�o, acabou de lan�ar seu filme sobre uma jovem viciada de 20 anos.

Marie, namorada do diretor, � ex-viciada com pretens�es a atriz. D� para sentir o lugar desconfort�vel em que Malcolm fica desde que ela, inspira��o para a personagem, se viu alijada de qualquer agradecimento p�blico ou participa��o no processo.

Veja o trailer:

Clima de vendeta esvazia ess�ncia do filme


A honestidade com que os dois atores exp�em o drama na tela � tocante, e Zendaya, mais uma vez, mimetiza o olhar do espectador. S� a cena em que a personagem ouve na banheira o namorado desfiar a s�rie de namoradas que tamb�m o inspiraram a compor sua protagonista j� vale o filme inteiro.

A quest�o � o entorno. Malcolm, a despeito das quest�es do relacionamento (a namorada tamb�m tem sua dose de culpa, vale dizer), s� tem olhos para o cinema. Sua argumenta��o se torna um extenso desfiar de diretores, estilos cinematogr�ficos e, principalmente, a cr�tica, que considera med�ocre. � pern�stico, para dizer o m�nimo.

A seguran�a de Malcolm vai abaixo quando recebe o aviso, pelo celular, da primeira cr�tica sobre o filme. Foi escrita por uma “garota branca do LA Times” (palavras dele) que lhe havia feito elogios logo ap�s a exibi��o. � um dos poucos momentos de humor do filme, quando o diretor descobre que tem que passar pelo paywall para ter acesso � cr�tica e n�o consegue achar seu cart�o de cr�dito.

A cr�tica, que ele l� com sarcasmo, � uma desculpa para o personagem continuar se autoelogiando, enquanto desfia a ignor�ncia que atribui � jornalista. A sequ�ncia se alonga demais, a despeito das �timas e inteligentes investidas de Marie para encerrar o assunto. 

O longa anterior de Sam Levinson, Pa�s da viol�ncia (2018), foi execrado por Katie Walsh. “Uma tentativa malsucedida de coment�rio social”, escreveu ela, que, tal qual a personagem de quem Malcolm fala mal no filme, � uma cr�tica branca do jornal LA Times

Coincid�ncia ou n�o, fato � que a quest�o fica parecendo vendeta de Levinson, que teria se vingado na fic��o do que ocorreu com ele na vida real. O que o espectador tem a ver com isso? Mais: isso acaba esvaziando a pr�pria ess�ncia do drama, que trata das dificuldades de relacionamento e de comunica��o. 


MALCOLM & MARIE
. Dire��o: Sam Levinson
. Com Zendaya e John David Washington


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