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Estado de Minas AUDIOVISUAL

'Mist�rio e morte no Hotel Cecil', da Netflix, � pegadinha para o p�blico

S�rie promete desvendar a morte da garota Elisa Lam nos EUA, mas diretor Joe Berlinger forja situa��es e abusa da teoria da conspira��o para atrair audi�ncia


16/02/2021 17:16 - atualizado 16/02/2021 18:36

Corredores do famoso hotel de Los Angeles, onde Elisa Lam morreu em 2013(foto: Netflix/divulgação)
Corredores do famoso hotel de Los Angeles, onde Elisa Lam morreu em 2013 (foto: Netflix/divulga��o)
Veterano diretor e produtor norte-americano, Joe Berlinger se especializou em document�rios sobre crimes reais. Sua maior realiza��o � a s�rie Paradise lost, tr�s filmes produzidos pela HBO (1996, 2000 e 2011, este �ltimo indicado ao Oscar) que acompanham as v�timas de um dos mais ruidosos casos de erro jur�dico dos EUA nas �ltimas d�cadas. Em Os tr�s de West Memphis, tr�s adolescentes foram considerados culpados da morte de tr�s escoteiros.

Sem ter nada a ver com o crime, passaram quase 20 anos encarcerados, um deles no corredor da morte, e o caso foi revisto gra�as � extrema press�o da opini�o p�blica. Foram soltos em 2011. Muito da repercuss�o da hist�ria deveu-se aos filmes dirigidos por Berlinger.

O p�blico da Netflix conhece trabalhos mais recentes dele, como a miniss�rie Conversando com um serial killer: Ted Bundy, que ganhou sua vers�o ficcional, e Ted Bundy: A irresist�vel face do mal (ambos de 2019).

Pois eis que Berlinger comete este Cena do crime – Mist�rio e morte no Hotel Cecil, que, chegado h� uma semana na Netflix, n�o demorou a entrar na lista dos mais assistidos da plataforma. A atra��o em quatro epis�dios � apresentada como a primeira temporada de uma nova s�rie documental que “desconstr�i a mitologia e os mist�rios em torno de locais infames de crimes contempor�neos”.

O “local infame” � o Hotel Cecil, que nasceu como um hotel de luxo no centro de Los Angeles em 1924. Pois a Grande Depress�o de 1929 representou o primeiro baque para a edifica��o com 700 quartos, que sofreu um processo de deteriora��o nas d�cadas seguintes. A vizinhan�a � o chamado Skid Row, conjunto de 54 quarteir�es conhecido como a maior cracol�ndia dos EUA, reunindo alguns milhares de sem teto.

No cora��o do Skid Row, o Cecil se tornou morada de criminosos e viciados – assassinatos e suic�dios tornaram-se frequentes ao longo de sua hist�ria. Mas com tarifas baix�ssimas, atraiu tamb�m turistas desavisados, que se encantaram com o sagu�o art d�co para logo descobrir quartos caindo aos peda�os. � esse o perfil de Elisa Lam, personagem central da narrativa.

Universit�ria canadense de 21 anos, a filha de imigrantes chineses chega ao Cecil sozinha para alguns dias. N�o sai viva dali. Dada como desaparecida em 1º de fevereiro de 2013, seu corpo s� � descoberto 19 dias mais tarde. O caso viralizou quando a pol�cia de Los Angeles, sem pistas, divulgou o v�deo de quatro minutos da jovem no elevador do hotel, o �ltimo registro dela com vida. 

Assista ao trailer:

Desenvolvimento da s�rie parte de premissa errada 

Esse � o plano geral da miniss�rie. A maneira como Berlinger a desenvolve � que � o problema. Ele entrevistou personagens cruciais, como os detetives que investigaram o caso, o legista, a gerente-geral do hotel, o funcion�rio que encontrou o corpo. Mas deu maior �nfase aos autodenominados “detetives da internet”, na verdade pessoas sem muita ocupa��o que passam seus dias criando teorias da conspira��o e as divulgando nas redes sociais.

Foto de Elisa Lam divulgada pela polícia de Los Angeles na época do desaparecimento(foto: LAPD/Divulgação)
Foto de Elisa Lam divulgada pela pol�cia de Los Angeles na �poca do desaparecimento (foto: LAPD/Divulga��o)
A morte de Elisa Lam, ainda que tr�gica, foi simples. N�o � o caso de cont�-la aqui, mas qualquer busca na internet traz todos os detalhes da hist�ria. A quest�o � que a s�rie, para tentar criar suspense, forja situa��es que n�o existem. Pior: d� voz a quem n�o devia, pois s�o v�rios depoimentos (alguns tirados de blogs e do YouTube) dos tais “detetives” de meia-pataca que s� fizeram atrapalhar a investiga��o e confundir o p�blico.

N�o se ouviu nem sequer um amigo ou familiar de Elisa Lam. As �nicas imagens dos pais e da irm� dela vieram de uma coletiva de imprensa (em que n�o falaram nada) logo que o desaparecimento foi anunciado. N�o se ouviram as duas colegas de quarto que se estranharam com ela. 

Por outro lado, volta e meia se v� um casal de turistas brit�nicos falando nada de relevante sobre o per�odo que ficaram hospedados no hotel (na mesma �poca de Elisa). Ou ent�o dois youtubers que passaram dias e noites “respirando” Elisa Lam simplesmente porque n�o tinham nada de produtivo para fazer. Ou a psic�loga que nada mais disse al�m do �bvio a partir do blog da estudante.

A inten��o da s�rie � “desconstruir a mitologia e os mist�rios” de um crime. Pois a premissa j� est� errada, pois n�o houve crime nenhum na morte da universit�ria.

Atirando para todos os lados – num momento fala de doen�a mental, no outro sobre abusos na internet –, indo e vindo no tempo, vai cozinhando o espectador ao longo de quatro epis�dios. A hist�ria, se bem realizada, poderia ter gerado um longa-metragem. E s�.

CENA DO CRIME – MIST�RIO E MORTE NO HOTEL CECIL
Miniss�rie em quatro epis�dios. Dispon�vel na Netflix


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