
O’Neal, que nunca refletiu sobre o que os assassinatos dos l�deres do movimento pelos direitos civis Martin Luther King (1929-1968) e Malcolm X (1925-1965) representaram, resolve pegar o caminho aparentemente mais f�cil. No entanto, ele descobrir�, tarde demais, que esse seria o mais dif�cil.
“Judas e o Messias Negro”, longa-metragem do escritor e roteirista Shaka King que estreia nesta quinta-feira (25/02) nos cines Diamond e Ponteio, em Belo Horizonte, parte de uma hist�ria particular para apresentar um panorama mais amplo sobre esse contexto hist�rico. O foco, aqui, est� na atua��o dos Panteras Negras na Chicago do final dos anos 1960. Seus dois protagonistas s�o personagens reais.
O Judas do t�tulo � O’Neal, que, aos 17 anos, passa a ser informante do FBI, no acordo para se livrar da pris�o. Entra para os Panteras Negras e, em uma r�pida ascens�o, se torna o chefe da seguran�a do grupo naquela cidade. O Messias � Fred Hampton, o l�der dos Panteras, igualmente jovem. O papel � de Daniel Kaluuya, equivocadamente indicado a melhor ator coadjuvante no Globo de Ouro, uma vez que seu protagonismo na trama � patente.
Ainda que sejam os dois os personagens centrais, o filme n�o � contado unicamente por meio de suas hist�rias individuais. Na verdade, a trama os coloca em uma narrativa maior, que versa sobre o poder. E n�o s� o negro, mas tamb�m o branco.
Assista ao trailer:
TENS�O
Cidade com forte hist�rico de tens�o racial – � s� lembrar do confronto durante a Conven��o Nacional Democrata, em 1968, que resultou na pris�o de manifestantes, tema do longa “Os 7 de Chicago”, que tem cinco indica��es ao Globo de Ouro, a ser realizado no pr�ximo domingo (28/02) – ela estava na mira de observa��o do FBI.
Para J. Edgar Hoover (Martin Sheen, em pequena participa��o), a figura de Hampton representa uma grave amea�a ao status quo. Os porcos, como os policiais s�o chamados pelos Panteras Negras, s�o o maior alvo da organiza��o revolucion�ria marxista e antirracista, que defendia o direito ao porte de armas e de resistir de maneira violenta � brutalidade policial.
Com uma aura de pregador e fortes discursos pautados nas falas de Luther King, Hampton, rec�m-chegado � casa dos 20 anos, personificava o Messias. Ao passar � frente da organiza��o, ele n�o est� pensando somente na rea��o � for�a policial. � nas a��es que sua figura se engrandece, seja alimentando crian�as de comunidades pobres, fornecendo atendimento m�dico, ou servindo como um elo entre outros grupos.
FIM PRECOCE
Hampton encabe�ou a Coaliz�o Arco-�ris, que incluiu ativistas porto-riquenhos e brancos empobrecidos que migraram do Sul dos EUA para tentar melhorar de vida. Tinha ainda consci�ncia de que morreria jovem. N�o � preciso ir muito longe para saber que sua trajet�ria estar� longe de ser bem-sucedida.Em seus momentos mais �ntimos, acompanhamos seu relacionamento com Deborah Johnson (Dominique Fishback), uma militante que vai tirar o personagem do pedestal, garantindo uma humanidade maior a ele.
Ainda que seja o personagem de Hampton – que Kaluuya trata com o devido magnetismo – que direcione todas as aten��es da narrativa, a alma do filme deveria estar na figura de Bill O’Neal. No entanto, LaKeith Stanfield aproveita pouco seus momentos para brilhar.
Afinal, como deveria se sentir um jovem negro e pobre que sobe na hierarquia da organiza��o, entende as a��es que est�o sendo realizadas e, mesmo assim, continua dia ap�s dia entregando seus colegas?
O conflito � apresentado de forma quase rasteira. Os encontros de O’Neal com o agente Mitchell (que tenta convencer o informante de que os Panteras Negras n�o eram muito diferentes da Ku Klux Klan) s�o uma sucess�o de conversas curtas regadas a charuto e u�sque, que n�o aprofundam o drama do personagem.
Claro, olhando sob um vi�s pragm�tico, O’Neal era jovem demais, sozinho demais, sem nenhuma consci�ncia de classe. E queria, acima de tudo, sobreviver, independentemente das consequ�ncias. Um mau aproveitamento do personagem n�o traz a dimens�o de como foi, para aquele homem, perder sua alma.
“JUDAS E O MESSIAS NEGRO”
• O filme estreia nesta quinta (25/2), na sala 2 do Diamond Mall (diariamente, 16h10 e 19h20, exceto nos domingos, com sess�es �s 15h30 e �s 18h30) e na sala 1 do P�tio Savassi (diariamente, 15h50 e 18h50).