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Estado de Minas LITERATURA

Biografia que decifra Alexander Hamilton inspirou musical e filme

Livro de Ron Chernow revelou um pol�tico americano muito al�m do retrato na nota de US$ 10


27/02/2021 04:00 - atualizado 27/02/2021 09:32

Leslie Odom Jr. e Lin-Manuel Miranda em
Leslie Odom Jr. e Lin-Manuel Miranda em "Hamilton", inspirado na biografia do pol�tico americano. Longa concorre a melhor filme e melhor ator (Miranda), na categoria musical ou com�dia, no Globo de Ouro deste domingo (foto: Disney /divulga��o)

A hist�ria j� se tornou folcl�rica na Broadway: o ator, rapper e compositor Lin-Manuel Miranda estava de f�rias em julho de 2008, depois do sucesso de seu musical “In the Heights”, quando come�ou a ler uma biografia de Alexander Hamilton (1755-1804), um dos fundadores da pol�tica americana, al�m de ter sido o primeiro-secret�rio do Tesouro da hist�ria dos EUA. Antes mesmo de terminar o segundo cap�tulo do livro, com mais de 800 p�ginas, Miranda come�ou a pensar na vida de Hamilton como uma s�rie de can��es de hip-hop.

Amigos comuns o apresentaram ao autor do livro, Ron Chernow, e, j� no ano seguinte, Miranda criara o que viria a ser o n�mero de abertura de “Hamilton” que, desde sua estreia, em 2015, se tornou um dos mais lucrativos musicais da Broadway, faturando US$ 400 milh�es apenas na bilheteria. E sua vers�o filmada concorre em duas categorias no Globo de Ouro, cuja cerim�nia ocorre neste domingo (28/2): melhor filme e melhor ator (Miranda), ambos na categoria de musical ou com�dia.

"Na primeira vez em que me encontrei com Lin-Manuel Miranda, em 2008, ele me disse que a vida de Hamilton era 'uma narrativa cl�ssica do hip-hop' e eu n�o tinha ideia do que ele estava falando", contou Chernow. Sua biografia, lan�ada em 2004, chega agora �s livrarias brasileiras e foi respons�vel pelo descobrimento (especialmente nos EUA) de uma importante figura pol�tica que, para muitos, n�o passava da imagem ostentada na nota americana de US$ 10.

“Alexander Hamilton” (Editora Intr�nseca) � fruto de um meticuloso trabalho de pesquisa, que amenizou a figura do pol�tico, apontado por muitos historiadores como um homem arrogante e a servi�o dos aristocratas de sua �poca. Nascido e criado no Caribe, Hamilton presenciou o horror da mis�ria e da fome at� chegar aos Estados Unidos, onde ascendeu de forma espetacular gra�as ao seu talento para assuntos econ�micos e pol�ticos.

Logo se tornou o bra�o direito de George Washington (1732-1799), considerado um dos pais fundadores dos Estados Unidos e seu primeiro presidente. Como primeiro-secret�rio do Tesouro, Hamilton foi decisivo na cria��o de dois bancos centrais e de diversos sistemas de impostos que deram robustez � economia americana.

Pregava o livre-com�rcio em um mercado dominado por grandes senhores de terra. Figura carism�tica, exercia ainda forte atra��o entre as mulheres, o que o tornou protagonista do primeiro esc�ndalo sexual da pol�tica americana ao ter um caso extraconjugal. Finalmente, foi morto em um duelo com o vice-presidente Aaron Burr, seu advers�rio pol�tico de d�cadas. Tinha apenas 49 anos.

Sobre o assunto, Chernow respondeu por e-mail �s seguintes quest�es.

Ron Chernow, autor de
Ron Chernow, autor de "Alexander Hamilton", foi respons�vel pela "redescoberta" do pol�tico norte-americano (foto: Intr�nseca/REPRODU��O)


Antes de seu livro, a maioria das pessoas sabia duas coisas sobre Alexander Hamilton: ele est� na nota de US$ 10 nos Estados Unidos e morreu em um duelo com o vice-presidente Aaron Burr. Que impress�o as pessoas teriam de Hamilton agora?
Quando comecei a escrever o livro, em 1998, Hamilton estava desaparecendo na obscuridade. Ele era considerado um pai fundador de segundo n�vel, em grande parte esquecido ou mal compreendido. Mas pensei que suas contribui��es para a saga de funda��o da Am�rica – vencer a Guerra da Independ�ncia, criar uma Constitui��o e forjar o governo federal – foram t�o monumentais quanto as de qualquer outro fundador. E sua hist�ria pessoal era claramente a mais dram�tica e improv�vel do que qualquer uma delas.

Por que ele sempre foi retratado como um esnobe feroz, o fantoche dos plutocratas?
Ao implementar seu programa financeiro no in�cio do governo federal, Hamilton trabalhou duro para que a classe mercantil comprasse d�vidas do governo – n�o porque ele quisesse enriquec�-los, mas para que transferissem sua lealdade dos Estados para o novo governo federal. Seus motivos para fazer isso foram mal compreendidos e os estere�tipos hist�ricos, uma vez estabelecidos, podem ser muito dif�ceis de mudar.

Thomas Jefferson, que foi o terceiro presidente americano e principal autor da Declara��o de Independ�ncia, e Hamilton despontam como os personagens mais fascinantes da biografia. Um era antagonista pol�tico do outro. � poss�vel dizer que a Am�rica seria diferente se n�o fosse por esse antagonismo?
O antagonismo pessoal e profissional entre Hamilton e Jefferson, que se originou dentro do gabinete de George Washington, ajudou a definir muitos dos conflitos cl�ssicos da pol�tica americana: Estado versus poder federal; uma interpreta��o estrita versus uma interpreta��o liberal da Constitui��o; Legislativo versus poder Executivo; uma economia agr�cola versus uma economia industrial. Tanto Hamilton quanto Jefferson definiram brilhantemente suas posi��es e seus escritos continuaram a informar e enriquecer nossa compreens�o desses conflitos.

Hamilton acreditava fortemente em um governo central, enquanto Jefferson apostava nos direitos dos Estados. Os Estados Unidos de hoje se parecem mais com Jefferson ou Hamilton?
Definitivamente, acho que os Estados Unidos de hoje se parecem muito mais com a vis�o de Hamilton do que com a de Jefferson. Jefferson previu um pa�s baseado na agricultura e pequenas cidades. Em contraste, Hamilton tinha uma vis�o muito mais ampla de uma economia que incluiria a agricultura tradicional, mas tamb�m apresentaria bancos, f�bricas, bolsas de valores e grandes cidades. Se os dois homens ganhassem a vida hoje, Jefferson ficaria chocado, n�o Hamilton. Ele olharia com conhecimento de causa para Jefferson e diria: "Eu te avisei".

A sexualidade de Hamilton �, algumas vezes, questionada. Como voc� o define sexualmente falando?
No livro, especulo que, no in�cio da idade adulta, na �poca de sua ardente amizade com John Laurens, Hamilton pode ter sido bissexual. � um pouco dif�cil definir isso porque os homens, �s vezes, escreviam em um estilo muito mais floreado uns para os outros do que hoje em dia. Mais tarde, n�o h� indica��o de que Hamilton tivesse qualquer interesse rom�ntico por homens, enquanto sua atra��o por mulheres era amplamente aparente para muitas pessoas.

O que voc� pensou quando Lin-Manuel Miranda disse que a hist�ria de Hamilton era uma narrativa cl�ssica do hip-hop? Talvez porque Hamilton fosse um homem incans�vel?
Na primeira vez que me encontrei com Lin-Manuel Miranda, em 2008 ele me disse que a vida de Hamilton era "uma narrativa cl�ssica do hip-hop" e eu n�o tinha ideia do que ele estava falando. Ele n�o estava exatamente testando meu conhecimento. Com o tempo, percebi que a m�sica hip-hop funcionou espetacularmente bem para a vida de Hamilton porque ele � apresentado no show como uma personalidade intensa e motivada e isso se encaixa no ritmo pulsante da m�sica. Uma grande inspira��o de Lin-Manuel, que sabia quando estava mudando a hist�ria e sempre teve uma raz�o convincente para tal licen�a dram�tica.

Na sua opini�o, por que o espet�culo se tornou um fen�meno?
Os americanos tendem a ignorar a pr�pria hist�ria – talvez isso se aplique a todos os pa�ses – e os fundadores em particular pareciam estar distantes, um grupo mofado de velhos com cabelo empoado e sapatos com fivela. O musical sacode a poeira dessas figuras e as apresenta com seu fogo e paix�o originais. Usando um som e uma sensibilidade contempor�neos, o espet�culo oferece uma ponte pela qual o p�blico pode cruzar para um passado distante que antes poderia ter sido inacess�vel para eles. � uma sensa��o extremamente emocionante. (Estad�o Conte�do)”
(foto: Intrínseca/REPRODUÇÃO)
(foto: Intr�nseca/REPRODU��O)

“ALEXANDER HAMILTON”
• De Ron Chernow
• Tradu��o Donaldson M. G. e Renata Guerra
• Editora Intr�nseca
• 896 p�ginas
• Pre�o sugerido: R$ 69,90
 


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