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Estado de Minas LITERATURA

Fundador da Cia das Letras conta em livro como lida com a depress�o

Em 'O ar que me falta1, o editor Luiz Schwarcz repassa seus traumas familiares e revela como lida com a depress�o e a bipolaridade


06/03/2021 04:00 - atualizado 05/03/2021 21:57

Tudo corria bem, a fam�lia se divertia em uma pista de esqui nos Alpes, quando veio a m� surpresa: uma ang�stia tomou conta de sua respira��o e de seu olhar, travando a garganta no momento em que mais precisava do ar. 

"Chegar ao cume naquela manh�, com os pulm�es contra�dos e sem ar, com um n� seco inexplic�vel na garganta, foi um choque, uma revers�o completa do que eu imaginara ou sonhara por meses", escreve Luiz Schwarcz logo no primeiro cap�tulo de “O ar que me falta”, livro que acaba de lan�ar.

Schwarcz � um dos maiores editores da hist�ria do mercado brasileiro, fundador (em 1986) e CEO da Companhia das Letras, trajet�ria iniciada na bem-sucedida passagem pela editora Brasiliense, uma refer�ncia na vida cultural nacional nas d�cadas de 1970 e 1980. 

Schwarcz � tamb�m um homem que sofre de depress�o e bipolaridade h� muitos anos, desde pequeno, e o livro � um testemunho corajoso e honesto sobre sua luta.

A decis�o de escrever “O ar que me falta” (t�tulo inspirado em um dos sintomas dos momentos depressivos) nasceu justamente naquele momento nos Alpes e, de uma certa forma, englobou o projeto que Schwarcz alimentava havia anos: escrever sobre a hist�ria de seu pai, Andr�, cuja trajet�ria foi marcada por um decisivo acontecimento. 

Nascido na Hungria, ele estava em um trem que tamb�m transportava seu pai, L�ios, e outros judeus para um campo de exterm�nio, durante a 2ª Guerra Mundial, quando, em um determinado momento, L�ios (Luiz, em h�ngaro) conseguiu que Andr� sa�sse do vag�o. "Foge, meu filho, foge."

SOBREVIV�NCIA

O gesto que garantiu sua sobreviv�ncia tamb�m se tornou um supl�cio para Andr�, que sofreu em sil�ncio o resto da vida, entre agradecido ao pai e culpado por n�o t�-lo ajudado. A dor, de alguma forma, foi assumida por Luiz Schwarcz que, filho �nico, buscou garantir a felicidade do pai e libert�-lo do sil�ncio por n�o expurgar a culpa que o aprisionava. Fracassou.

"Minha maior heran�a foi a responsabilidade sobre meus pais", diz Luiz, cuja inf�ncia e adolesc�ncia foram marcadas pela inseguran�a e o peso da mem�ria. Com isso, desenvolveu uma depress�o bipolar que demorou para ser corretamente diagnosticada e cuja medica��o errada resultava em crises de melancolia alternadas com momentos de plena f�ria.

Para completar, a dificuldade da m�e, Mirta, em novamente engravidar (foram 10 abortos involunt�rios ao longo dos anos), agravada pela infidelidade do pai, obrigou-a a passar muitos momentos convalescendo na cama, per�odo em que o solit�rio Luiz lhe fazia companhia e, como aproveitava o tempo para devorar livros, aos poucos desenvolveu sua futura e bem-sucedida voca��o editorial.

C�LERA

Escrito com uma linguagem direta (influ�ncia de um de seus grandes incentivadores, o m�dico Drauzio Varella), o livro � francamente aberto, com Luiz n�o escondendo fatos que muitos prefeririam guardar no �ntimo, como o despertar da sexualidade com prostitutas e as rea��es col�ricas provocadas pela bipolaridade, que, embora leve, resulta em alguns momentos de descontrole. 

S�o com esses, ali�s, que o editor conquista definitivamente a cumplicidade do leitor, momentos cruciais como quando gritou com uma funcion�ria da Companhia das Letras e, pior, quando se envolveu numa briga a socos, durante a Festa Liter�ria de Paraty ( Flip) de 2019.

"Claramente, perdi o controle e, nesses momentos, sinto um profundo arrependimento", conta ele, que, rea��o imediata, se desculpou com a funcion�ria e todos os demais empregados da editora e, no caso da Flip, divulgou uma carta aberta em que revelava ser um homem com depress�o.

Ao longo da vida, Luiz passou 13 anos fazendo psican�lise e tomando antidepressivos e estabilizadores de humor. Se a crian�a se fechava no sil�ncio, o adolescente alienava-se no sono da tarde. Mas houve tamb�m momentos felizes, como as viagens que fez com a av� Mici ou a consagra��o na escola como goleiro – mais tarde, na sinagoga, se destacou, como o pai, pela voz afinada nos cantos e pelo poder de lideran�a, qualidade que lhe deu uma confian�a at� desenfreada para se destacar como editor, na Brasiliense e na Companhia das Letras. 

CICATRIZES

O mercado editorial mundial logo se impressionou com o talento do jovem brasileiro de cabelo enrolado e �culos � Harold Lloyd, nada suspeitando de que, intimamente, se tratava de um homem que escondia profundas cicatrizes na alma.

Vit�rias e fracassos que Luiz Schwarcz descreve sem autocompaix�o, buscando enfrentar uma doen�a psiqui�trica assim descrita pelo escritor Andrew Solomon, tamb�m com hist�rico de depress�o: "Quando ela chega, degrada o eu da pessoa e finalmente eclipsa sua capacidade de dar ou receber afei��o. � a solid�o dentro de n�s que se torna manifesta, e destr�i n�o apenas a conex�o com os outros, mas tamb�m a capacidade de estar apaziguadamente apenas consigo mesmo".

Tamb�m escritor e ainda psiquiatra, o portugu�s Ant�nio Lobo Antunes acredita, por outro lado, que a depress�o � um ponto de partida da luta pela vida. No caso de Schwarcz, a publica��o de um livro sem restri��es, em que ele capturou e exp�s suas mais ocultas sombras, � um sinal de vit�ria. (Ag�ncia Estado)

“O AR QUE ME FALTA”
• Luiz Schwarcz
• Companhia das Letras (200 p�gs.)
• R$ 59,90 e R$ 39,90 (e-book)


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