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Estado de Minas LITERATURA

Professor de hist�ria mineiro lan�a guia para compreender a vida de Jesus

'Jesus - Um breve roteiro hist�rico para curiosos' tem formato de perguntas e respostas sobre aspectos que intrigam crist�os e f�s de hist�ria


08/03/2021 04:00 - atualizado 08/03/2021 07:09

O professor de história Alex Bohrer com seu livro recém-lançado sobre Jesus, na sacristia da Matriz Nossa Senhora de Nazaré, em Ouro Preto(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
O professor de hist�ria Alex Bohrer com seu livro rec�m-lan�ado sobre Jesus, na sacristia da Matriz Nossa Senhora de Nazar�, em Ouro Preto (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Ouro Preto – Na sacristia da Matriz Nossa Senhora de Nazar�, no hist�rico distrito de Cachoeira do Campo, em Ouro Preto, na Regi�o Central do estado, a imagem de Nosso Senhor dos Passos, com a veste roxa, � s�mbolo da quaresma e da semana santa que se aproxima. � sob a pe�a sacra do s�culo 18 com cabelo natural, olhos de vidro, dentes e l�ngua, e inspirado pela atmosfera religiosa da terra natal, que o professor de hist�ria da arte e escritor Alex Fernandes Bohrer fala sobre seu livro rec�m-lan�ado “Jesus – Um breve roteiro hist�rico para curiosos” (editora Chiado Books). 

Na orelha da obra, quase como complemento do t�tulo, ele adicionou: "O incr�vel caminho de Jesus – do homem comum ao Deus dos crist�os – � o tema desse breve roteiro indagativo, escrito para agradar n�o somente aos estudiosos, mas especialmente aos curiosos sobre esse tema fascinante".

E p�e fascinante nisso, pois � imposs�vel ficar indiferente � hist�ria do Messias, o Filho de Deus para os crist�os, que, quase 2 mil anos ap�s sua morte em Jerusal�m, Israel, ainda leva o ser humano a sentimentos extremos, antag�nicos, apaixonados. Nesses tempos sombrios, em que a Campanha da Fraternidade, este ano ecum�nica, prega o di�logo e causa arrepios nos ultraconservadores, vale destacar a palavra do autor: "Jesus n�o era cat�lico ou protestante.  Ele era judeu – um campon�s que viveu no primeiro s�culo, numa possess�o long�nqua do Imp�rio Romano".

E ressalta: "Nunca houve outro personagem com tamanho impacto religioso, cultural ou pol�tico. Incont�veis homens e mulheres morreram por defend�-lo ou critic�-lo. Na��es nasceram e morreram sob sua sombra. Esse � um tema complexo, de suma import�ncia para entender nossa trajet�ria como civiliza��o. Ali�s, contamos a hist�ria em antes e depois do nascimento de Jesus. N�o � incr�vel pautar nosso tempo tendo por base o nascimento de um campon�s pobre, e n�o de um pol�tico, imperador ou general?"

''Mas, pense comigo, imaginemos sua vida curta e simples: n�o � um milagre estupendo que um carpinteiro pobre tenha se transformado no vulto mais importante da humanidade?''

Alex Fernandes Bohrer, autor de Jesus - Um breve roteiro hist�rico para curiosos'


DESPERTAR

Bohrer conta que sempre se interessou pelas religi�es monote�stas (cristianismo, islamismo e juda�smo), com o tema presente nas suas pesquisas sobre iconografia crist� e hist�ria da arte.

"O cristianismo surgiu num per�odo conturbado, marcado por mudan�as profundas. A pequena Palestina, espremida entre grandes imp�rios, viu nascer v�rios profetas e messias, por�m, por algum motivo, Jesus, chamado pelos seus contempor�neos de Nazareno, n�o foi esquecido como os outros. Sua mensagem, especialmente transmitida por Paulo de Tarso (depois S�o Paulo), iria, tr�s s�culos depois de sua morte, reverberar na oficializa��o do cristianismo. N�o sei se eles sabiam, mas isso mudaria completamente o mundo. E, l�gico, processos culturais de longo alcance interessam muito aos historiadores."

Os s�culos se passaram e h� muitos pontos envoltos em mist�rios, ati�ando a curiosidade. O que ainda n�o se sabe sobre a hist�ria do Messias? Bohrer responde: "Tudo relativo ao Jesus hist�rico est� envolto em mist�rio. Os documentos s�o escassos, apesar de a arqueologia moderna ter iluminado o contexto cultural do primeiro s�culo. Ainda h� muitas coisas que n�o desvendamos, apesar do senso comum �s vezes dizer o contr�rio".

O historiador exemplifica: "N�o compreendemos at� hoje como era exatamente a crucfiica��o, apesar de ter sido largamente usada pelos romanos. Somente duas ossadas de crucificados foram encontradas com pregos presos nos calcanhares. Por meio delas, intu�mos que o prego devia traspassar os calcanhares e n�o o peito dos p�s, como em geral � representado. Contudo, nada mais sabemos, nem mesmo a posi��o exata das m�os. Por que n�o temos mais esqueletos para elucidar esse pormenor? Provavelmente porque os corpos eram deixados ao ar livre, para apodrecer e se perder. Poucos tiveram a sorte de um enterro digno. Segundo o Novo Testamento, Jesus foi uma dessas exce��es". 

Ele cita outro enigma sobre Jesus: "De onde ele tirou as ideias que dariam fei��o ao cristianismo? Ele teve alguma forma��o intelectual? Apesar de muitos defenderem que ele pertenceu ao movimento ess�nio, um grupo religioso sect�rio assentado na regi�o do Mar Morto, a verdade � que n�o compreendemos ao certo o que ocorreu, ainda que seja n�tida a semelhan�a entre ensinamentos ess�nios e algumas falas de Jesus".

O mais instigante ao escrever est� na descoberta, acredita o autor tamb�m dos livros “Ouro Preto, um certo olhar” e “O discurso da imagem”. "Mesmo que possamos achar que saibamos algo sobre determinado assunto, a pesquisa nos abre portas inesperadas. Uma das coisas que mais me surpreenderam nessa tem�tica foi o papel desempenhado pelas mulheres no cristianismo primitivo (t�pico de um dos cap�tulos). Apesar de a estrutura eclesi�stica ter se consolidado em carreiras masculinas, nem sempre foi assim.

Claramente, a mensagem de um novo mundo, onde se podia ser feliz, atraiu pobres e mulheres (duas classes subalternas no Imp�rio Romano). Algumas mulheres patrocinaram viagens mission�rias, como as de Paulo de Tarso, pregador fundamental. Sabemos que o pr�prio Jesus esteve cercado de mulheres, como a famosa Maria Madalena, e pelo menos uma mulher foi chamada de ‘ap�stolo’, J�nia, amiga de Paulo. N�o � fascinante?"

Bohrer diz haver inumer�veis fontes sobre o Jesus religioso, mas poucos documentos sobre o Jesus hist�rico. "Sobre o contexto religioso, no Novo Testamento temos, al�m dos quatro evangelhos, os Atos dos Ap�stolos e diversas cartas. Fora da ‘B�blia’, temos os chamados evangelhos ap�crifos. Alguns desses ap�crifos s�o pol�micos e muito antigos, como o ‘Evangelho de Tom�’. Existem tamb�m registros de historiadores da �poca, como Fl�vio Josefo e T�cito, e ainda os manuscritos encontrados em 1947, no Mar Morto, que lan�aram luz sobre o pensamento religioso da �poca de Jesus. Al�m disso, v�rios locais descritos no Novo Testamento foram encontrados em escava��es arqueol�gicas, como o famoso Tanque de Betesda."

A arqueologia tamb�m lan�ou luz sobre alguns personagens b�blicos, afirma, como P�ncio Pilatos e Caif�s, o sumo sacerdote que ajudou no julgamento de Jesus (em 1990, foi encontrado um ossu�rio com seus restos). "E n�o podemos esquecer das muitas gera��es de estudiosos, exegetas, tradutores etc., que tentaram desvendar o Jesus hist�rico."

Para o autor, a ideia � que o livro atraia n�o s� pesquisadores, mas pessoas curiosas sobre esse tema. “Ele foi escrito numa linguagem direta e acess�vel. Em cada cap�tulo, fa�o uma pergunta tem�tica. S�o 25 perguntas ao todo, como: Jesus existiu? Como foi sua inf�ncia? Como foi a crucifica��o? Ele foi um profeta ou um revolucion�rio? Qual o papel das mulheres no in�cio do cristianismo? Qual era a apar�ncia de Jesus? Quem eram os ap�stolos?. Portanto, a ideia � que o livro sirva como uma esp�cie de guia hist�rico, conduzindo o leitor aos grandes eixos do cristianismo primitivo.”

“Jesus – Um breve roteiro hist�rico para curiosos”
• Alex Fernandes Bohrer
• Editora Chiado Books (254 p�gs.)
• R$ 60

''Acho que Jesus e seus seguidores tinham consci�ncia de que aquela mensagem radical iria despertar disputas. Em v�rios trechos dos evangelhos, o pr�prio Jesus parece fazer esse alerta. E isso � curioso, posto que um dos fundamentos da prega��o original � o amor ao pr�ximo e o pacifismo. Entretanto, acho que estava bem claro, j� em sua �poca, que isso atrairia seguidores, e, tamb�m, perseguidores''

Alex Fernandes Bohrer, autor de Jesus - Um breve roteiro hist�rico para curiosos'



PERGUNTAS RESPONDIDAS

Confira aspectos esclarecidos pelo livro 
em torno da vida e da figura de Jesus Cristo

De onde vem a imagem, muito representada pela iconografia crist�, de Jesus nascendo numa gruta, se Lucas (evangelista) diz que foi numa manjedoura?
“A cena da gruta surgiu na tradi��o crist� antiga, sendo citada por escritores como Or�genes e Justino – diziam, ent�o, que a manjedoura estava dentro de uma caverna. Sabemos que, j� no alvorecer do s�culo 2, uma cavidade rochosa situada nos arredores de Bel�m era alvo de muitas visitas, o que pode ter levado o imperador Adriano a construir ali uma est�tua de Ad�nis. Esse monumento foi destru�do em 326 por Helena, m�e de Constantino (imperador), e no local se ergueu a famosa Igreja da Natividade, foco de peregrina��es at� hoje."

Teria Jesus nascido em 25 de dezembro?
"� muito prov�vel que n�o – a n�o ser que se trate de uma grande coincid�ncia. Durante s�culos, o dia natal�cio foi alvo de controv�rsias. Agostinho, um dos antigos doutores da Igreja, afirmava que Jesus nasceu em 7 de janeiro. Mais recentemente, foi sugerido o m�s de setembro, tendo em vista algumas narrativas da concep��o de Jo�o Batista. A verdade � que os evangelhos n�o se preocupam com o dia exato, o que � explic�vel pelo descaso habitual dos judeus com anivers�rios. O importante, por outro lado, era frisar a data da morte de uma pessoa – por exemplo, sabemos com muito mais precis�o quando Jesus foi executado."

Cristo era o sobrenome de Jesus?
"Cristo n�o era o sobrenome de Jesus, e Jesus era um nome comum no primeiro s�culo, como Judas, Sim�o, Jos� e Maria. Em portugu�s, vem do grego I�sous, que por sua vez se origina da palavra hebraica Yehoshua ou, por corruptela, Josu�. Essa alcunha aparece algumas vezes no  Antigo Testamento e deve significar algo como 'Jeov� ou Jav� � a salva��o'. Cristo, por sua vez, vem do grego khrist�s, tradu��o da palavra hebraica mashiah (messias), sendo que ambas podem ser traduzidas por 'ungido' ou 'escolhido'. Jesus Cristo, portanto, � o mesmo que Jesus, o ungido, ou Jesus, o escolhido.”

Se a Palestina era territ�rio romano, por que o povo dali tinha um rei, Herodes, o Grande?
"Quando conquistadas pelos romanos, algumas �reas n�o viravam uma prov�ncia administrativa de imediato. Permitia-se em alguns lugares a exist�ncia de reis locais subordinados. Um deles foi justamente Herodes, cognominado o Grande. Ele era um rei de origem idumeia, portanto, de uma regi�o cujos habitantes, desde os tempos das conquistas feitas por Jo�o Hircano, tinham sido judaizadas. Jo�o Hircano era filho de Sim�o Macabeu e foi um sumo sacerdote que governou o novo reino asmoneu da Palestina.”

Fonte: “Jesus – Um breve roteiro hist�rico para curiosos” 


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