
"Escrevi o livro como um voto de esperan�a. Olhei de perto para todos os lugares em que a f�nix da liberdade ressuscita, e isso acontece quando menos se espera. O obscurantismo � uma resposta brutal e violenta ao crescimento da liberdade, uma rea��o de medo. Por isso o obscurantismo homof�bico, contra as mulheres, a ci�ncia, o movimento negro. � contra todos os movimentos da sociedade que vinham se afirmando"
Rosiska Darcy de Oliveira, escritora
Rosiska Darcy de Oliveira colocou um ponto final no livro “Liberdade” no �ltimo dia de 2019. Mal sabia que poucos meses mais tarde estariam ela, e todo o mundo, confinados em decorr�ncia de um v�rus. Mas a s�rie de ensaios que comp�em o rec�m-lan�ado “Liberdade” (Rocco) n�o tem rela��o direta com o ato cotidiano de ir e vir.
“� um ato de resist�ncia”, afirma a jornalista e escritora carioca de 76 anos (77, no pr�ximo dia 27), ocupante da cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras. Refer�ncia na luta pelos direitos da mulher no Brasil, � figura atuante nos movimentos feministas e pela volta da democracia – passou a d�cada de 1970 exilada na Su��a e s� retornou ao pa�s no in�cio dos anos 1980, com a anistia.
“Escrevi o livro como um voto de esperan�a. Olhei de perto para todos os lugares em que a f�nix da liberdade ressuscita, e isso acontece quando menos se espera. O obscurantismo � uma resposta brutal e violenta ao crescimento da liberdade, uma rea��o de medo. Por isso o obscurantismo homof�bico, contra as mulheres, a ci�ncia, o movimento negro. � contra todos os movimentos da sociedade que vinham se afirmando”, diz.
O volume re�ne oito ensaios sobre o tema, a partir do vi�s do corpo, do nascimento da vida, da literatura (por meio da obra de Clarice Lispector), do mito (na figura de Ant�gona).
A autora exemplifica: “As fases da vida – nascer, amar, envelhecer, morrer – n�o s�o mais como eram antigamente. Hoje, se voc� quer dar � luz, voc� d�. Se n�o, n�o d�. Se voc� quer, mas n�o pode, h� caminhos para isso, como a fecunda��o in vitro e toda a gera��o assistida. E os casais homoafetivos t�m filhos atrav�s do �tero de outras mulheres. Enfim, � uma gama infinita de possibilidades de nascer. No amar a mesma coisa, e no envelhecer tamb�m. O envelhecimento sempre foi o olhar do jovem sobre as pessoas idosas, j� que os idosos n�o se sentem idosos. Hoje, n�o se deixam mais constituir pelo olhar da juventude. A minha maneira de envelhecer � muito diferente do que foi a da minha m�e”, diz Rosiska.
DIREITO
De acordo com ela, o ato de morrer, atualmente na agenda de debates, engloba v�rias quest�es. “Viver � um direito, mas n�o um dever. As pessoas t�m o direito, num dado momento de dor insuport�vel, seja f�sica ou moral, de escolher (como e quando morrer). O direito de escolha � outro nome da liberdade. Evidentemente, isso muda de acordo com cada sociedade. Assusta os que t�m medo primeiro de si mesmos e tamb�m os que odeiam a liberdade dos outros. O autoritarismo n�o aceita a liberdade, pois ele tem a sua verdade com v mai�sculo, e ela tem que valer para todo mundo.”
Rosiska dedicou o cap�tulo “Clarice: atr�s do pensamento” � autora, porque ela � o exemplo da liberdade na escrita liter�ria. “Ela me influenciou muito na maneira de pensar a literatura atrav�s de uma frase do livro ‘�gua viva’ (1973), em que diz que ‘g�nero (liter�rio) n�o me pega mais’. O escritor escreve o que quer no estilo que quiser e quem alcan�ou melhor isso foi Clarice, que, al�m de ser um g�nio, escreveu v�rios g�neros.”
Se Clarice � uma refer�ncia como autora, o mito grego Ant�gona o � como personagem. “� um s�mbolo para as mulheres, pois afirmou sua vontade contra a vontade de um rei e um homem. � um personagem altamente inspirador e, toda vez em que algu�m se encontra em alguma situa��o de repress�o, a Ant�gona � reescrita. N�o por acaso, foi, juntamente com ‘Hamlet’, o texto mais reescrito da hist�ria da literatura.”
O livro “Liberdade” sai no ano em que se completam as tr�s d�cadas da primeira edi��o da obra mais conhecida da autora, “O elogio da diferen�a: o feminino urgente” (1991). “A grande diferen�a (entre o tempo passado e o atual) � que, no momento em que escrevi ‘O elogio da diferen�a’, eu escrevia sobre o movimento de mulheres. Hoje, o que temos s�o as mulheres em movimento. O que era minorit�rio virou um movimento de sociedade”, avalia a escritora.
“LIBERDADE”
Rosiska Darcy de Oliveira
Rocco (224 p�gs.)
R$ 54,90 (livro) e
R$ 29,90 (e-book)