
Arismar conta que entrou no Est�dio 185, em S�o Paulo, e gravou sozinho todas as m�sicas do repert�rio. S�o can��es autorais e, para execut�-las, ele se revezou entre o piano, o baixo ac�stico e o el�trico, o viol�o de sete cordas, a guitarra e a bateria.
Os epis�dios contam com a apresenta��o do jornalista e cr�tico musical Carlos Bozzo J�nior, para quem Arismar conta seus “causos”, entremeados pelas can��es. “� um roteiro de minhas hist�rias, ilustrado por minhas m�sicas”, descreve o instrumentista.
Os encontros com outros artistas, os pr�mios e as condi��es de produ��o de suas m�sicas s�o temas tratados nas conversas. Mais recentemente, o m�sico tem se dedicado a projetos que mesclam linguagens diversas, como poesia, teatro e artes pl�sticas � sua �rea de maior interesse, que � a m�sica.
A s�rie “Gri� dos sons” foi aprovada pelo programa federal de incentivo � cultura via ren�ncia fiscal. “Confesso que n�o esperava (a aprova��o), mas conseguimos. Minha mulher, Eni Cunha, foi quem fez o roteiro. Desde que estamos juntos, ela me acompanha em todos os projetos e � tamb�m a minha produtora.”

Cada epis�dio apresenta de quatro a seis m�sicas, sempre intercaladas pelo bate-papo com o apresentador. A dura��o �, em m�dia, de 1h10min. As sete apresenta��es j� foram gravadas.
“Conto muitas hist�rias engra�adas, mas n�o pensem que vou dar um spoiler aqui, prefiro que voc�s assistam � s�rie, que ficou muito legal. Mas posso dizer que menciono muitos palcos do mundo nos quais pisei. Ali�s, tenho o maior respeito pelos palcos, pois � l� que a gente cria. Falo tamb�m do tempo da m�sica, que n�o tem nada a ver com o do rel�gio, o cronol�gico. O tempo da m�sica � outra ideia."
O artista iniciou a carreira musical na adolesc�ncia. “Comecei ainda moleque, tocando viol�o em casa, rodas e festas. Por volta dos 14, 15 anos � que passei a aprender a tocar bateria. J� o baixo apareceu mais tarde. Aos 16 anos, j� tocava profissionalmente nas noites paulistas. Comecei nos anos 1970, tocando no Bai�ca, que era um restaurante muito legal em Sampa, frequentado por grandes nomes da m�sica, como Johnny Alf (1929-2010), Amilton Godoy e C�sar Camargo Mariano, entre outros. O local ficava lotado de segunda a segunda.”

INFLU�NCIAS
Arismar foi tocar no Bai�ca a convite do irm�o Paulo Roberto, que era pianista, compositor e arranjador e j� se apresentava l�. Na s�rie “Gri� de sons”, o artista menciona outras pessoas que o influenciaram.“Cito o Sab�, irm�o do Luiz Chaves (1931-2007), baixista que tocava no Zimbo Trio. Foi ele quem me levou para o baixo. Um grande instrumentista que toca em qualquer tipo de baixo. Ele tocava nos grupos Som Tr�s, com C�sar Camargo Pinheiro (piano) e o baterista Ant�nio ‘Toninho’ Pinheiro Filho (1938-2004) e Farroupilha. Tamb�m acompanhou os cantores Wilson Simonal (1938-2000) e Dick Farney (1921-1987). Al�m disso, conto como foi composta determinada m�sica e sobre qual instrumento estava tocando na hora em que a compus”, diz.
O epis�dio inicial se chama “D’onde” e traz cinco m�sicas. “Fa�o ao piano ‘Aracy’, que est� no CD ‘Roupa de corda’, 'Acirandado', tamb�m ao piano, do �lbum ‘Esta��o Brasil’, e ‘Jogo novo’, do mesmo disco, mas ao viol�o. Em seguida, a in�dita ‘Solo pra Loyola’, na qual toco baixo ac�stico, e ‘Tidinho’, do CD ‘Foto de sat�lite’, na qual toco guitarra”, descreve.
Nesse cap�tulo, Arismar relata suas aventuras na cidade de Santos, litoral paulista, durante a adolesc�ncia, nos anos 1960. “Vou narrando as minhas hist�rias, lembrando do assovio do meu av�, que me ajudou a fazer improvisos desde cedo, das rodas de choro e samba e das cantorias realizadas no quintal da casa dele, na Vila Belmiro. Falo tamb�m do amor de meus pais, Aristides e Maria.”
� tamb�m no epis�dio desta segunda (29/3) que o multi-instrumentista lembra de quando ganhou o primeiro viol�o (aos 11 anos j� sabia toc�-lo) e das r�dios que gostava de ouvir, Cacique e Atl�ntica.
“Na vitrola, ouvia basicamente, fado, jazz e salsa. Falo tamb�m da fanfarra do col�gio, dos meus primeiros cach�s. No segundo, j� tocando bateria, na TV Excelsior. Os casos s�o divertidos e vou lembrando do meu emprego em uma livraria, na qual trabalhei dos 14 aos 17 anos, sempre sintonizado na R�dio Eldorado, ouvindo Cartola (1908-1980), Bituca e Z� K�ti (1921-1999), al�m dos grandes pianistas da �poca. Falo tamb�m dos ensaios com os trios e grupos de jazz e de como fui aumentando e diversificando o meu repert�rio.”
O segundo epis�dio ganhou o nome de “Chegan�a” e inclui seis m�sicas. “Entre outros assuntos, falo da S�o Paulo dos anos 1970, lembrando fatos de quando eu tinha 16 anos”, conta. O terceiro, “Ao criar livre”, traz quatro m�sicas e abarca as mem�rias do m�sico na S�o Paulo dos anos 1980. “Foi quando comecei a tocar baixo e acompanhei v�rias feras pelos palcos do mundo.”
“M�sica pela m�sica” � o t�tulo do quarto epis�dio, com quatro m�sicas e relatos de quando o instrumentista tocou com artistas consagrados, como Hermeto Paschoal, Sebasti�o Tapaj�s, Eduardo Gudin, Amilson Godoy, Jane Duboc e Luiz E�a (1936-1992). “Lembro-me tamb�m de quando comecei a fazer jingles publicit�rios.”
PARCERIA
O quinto dia de shows, “Sobrevindas”, tem quatro composi��es e remonta aos anos 1990, com cita��es � sua parceria com a gravadora Maritcaca. “Falo da cria��o autoral e do lan�amento de meus CDs, al�m de v�rios shows, alguns deles com Jo�o Donato, Suely Costa e Raul de Souza.”O epis�dio de n�mero seis, “Mundo afora”, tem quatro m�sicas e um papo centrado na produ��o paulista, nas oficinas de cria��o e nas turn�s pelo exterior. O encerramento, com “Pra onde o vento me levar”, tem seis m�sicas e assuntos mais gerais, como o Brasil, a natureza e as caracter�sticas dos estados que visitou.
Sobre a escolha do nome “Gri� dos sons” para a s�rie, ele cita o significado do termo gri�, origin�rio da �frica, como sendo o que mais o atraiu. “� o cara mais velho da tribo, que vira o contador de hist�rias. Ele fala de colheita, planta��o, do dia a dia, se o dia est� bom para cantar, de como est� a terra para o plantio. � aquele que tem sabedoria. Gostei desse nome.”
Nos 50 anos de carreira, Arismar do Esp�rito Santo lan�ou 14 CDs, sendo nove de composi��es autorais e cinco de parcerias, fazendo duos com Leo Amuedo, Toninho Horta, Edsel Gomes e Jane Duboc. O primeiro �lbum solo, em formato LP, se chamava “Arismar do Esp�rito Santo” e foi lan�ado em 1993. Em 2003, foi relan�ado em CD, mas com o nome de “Arismar do Esp�rito Santo: 10 anos”.
Em janeiro passado, o artista lan�ou seu 15º �lbum, “Cataia: da folha ao ch�”, o primeiro no qual n�o toca baixo. O �lbum, que est� nas plataformas digitais, traz 14 composi��es autorais e contou com as participa��es de Glauco Solter (baixo) e Mauro Martins (bateria). Esse �lbum foi gravado ao vivo, em 2019, nos est�dios da Gramofone +, em Curitiba.
Durante a grava��o, o m�sico se alternou entre o piano ac�stico e o viol�o, com solos vocais, acompanhado de Solter e Martins. Ele explica que Cataia � uma planta nativa da mata atl�ntica, em especial do Vale do Ribeira, litoral Sul paulista, cuja folha serve para uso medicinal e tamb�m para o preparo de uma cacha�a, conhecida como ‘u�sque cai�ara’.
Pai dos tamb�m m�sicos Thiago Esp�rito Santo (contrabaixista) e Bia Goes (cantora), Arismar j� ministrou masterclasses em universidades no pa�s e no exterior. Ele editou em 2012 o livro “Caderno Acre” (Pr�mio Funarte de M�sica), que � o resultado de um trabalho de cria��o musical e oficinas ministradas naquele estado. Lan�ou tamb�m “Alegria nos dedos” (Ed. Passarim, 2014), songbook no qual cada uma das partituras vem acompanhada por an�lises e textos de m�sicos, como L�a Freire, Amilson Godoy, Toninho Horta, Heraldo do Monte, Gabriel Grossi e Fil� Machado, entre outros.
“GRI� DOS SONS”
Shows de Arismar do Esp�rito Santo em comemora��o aos seus 50 anos de carreira. Desta segunda (29/3) a domingo (4/4), sempre �s 19h, em seu canal no YouTube.