O ex-Letuce Lucas Vasconcellos lan�a �lbum com a participa��o de Letrux

O cen�rio buc�lico, entre as montanhas e a natureza virgem, fez o artista aprofundar sua rela��o com sons mais org�nicos, o que resultou no rec�m-lan�ado �lbum "Teoria da terra plena".

"Eu tive a intui��o de ir para um lugar mais calmo, silencioso e introspectivo. Hoje, todo mundo est� querendo um lugar assim. Nele, o sil�ncio e a calma funcionam como uma esp�cie de isolamento”, diz Lucas. 

“E eu acho que isso me trouxe paz para fazer um disco como esse, que fala do meu momento presente. A experi�ncia de morar aqui traz essa sensa��o de viver somente no presente.”

O novo �lbum, quarto de uma discografia marcada pela presen�a de elementos eletr�nicos, mostra Lucas Vasconcellos �s voltas com instrumentos ac�sticos. Com exce��o de "Forest and TV on demand" e "Fuma�a dos carros", as outras oito faixas foram compostas e produzidas de uma maneira que destaca a presen�a de viol�o e piano, movimento que o m�sico fez ap�s se saturar da produ��o com sintetizadores.

 

'Quando eu comecei a produzir os textos, percebi que n�o precisava tergiversar ou metaforizar muito as coisas. Achei mais interessante ser 'sincer�o'. A minha vida � simples e eu n�o estou com tantos questionamentos sobre a exist�ncia, talvez porque eu esteja mais maduro'

Lucas Vasconcellos, cantor, compositor e instrumentista

"Eu me encontrei de novo com esses instrumentos que ou�o desde antes de nascer. Sou de uma fam�lia de m�sicos, minha m�e era professora de piano. Quando eu toco, sinto um conforto delicioso. Ent�o, foi natural que a onda eletr�nica e experimentalista desse lugar a um jogo mais profundo na minha m�sica", explica.

Ele conta que come�ou a explorar a m�sica eletr�nica por curiosidade, e o mesmo aconteceu com a ac�stica. "Se a produ��o musical � curiosa, � interessante, eu vou querer brincar com ela. � como se eu n�o tivesse sa�do da inf�ncia, e os instrumentos fossem os meus brinquedos. Eu me sinto infantil, no melhor sentido."

Lucas tamb�m compreende que um instrumento como o viol�o carrega hist�ria. "Tem uma m�gica ancestral nele", diz. "Penso que algo parecido com ele pode ter sido tocado h� 2 mil anos. Uma corda esticada produzindo uma vibra��o sonora � muito bonito e vai existir para sempre."

Apesar da calmaria que as m�sicas do disco inspiram, as letras s�o bastante diretas. Faixas como "As coisas s�o assim", "Eu vou sequestrar voc�" e "Vamos tacar fogo nas coisas" – a �ltima com participa��o de Uyara Torrente, d’A Banda Mais Bonita da Cidade –, revelam como o artista tem enxergado a vida de maneira mais simples.

 

"Quando eu comecei a produzir os textos, percebi que n�o precisava tergiversar ou metaforizar muito as coisas. Achei mais interessante ser 'sincer�o'. A minha vida � simples e eu n�o estou com tantos questionamentos sobre a exist�ncia, talvez porque eu esteja mais maduro", afirma ele, que tem 41 anos.

"As quest�es que me atordoavam est�o mais apaziguadas. Ent�o, � natural que meu texto pare�a mais anal�tico. Estou mais interessado na observa��o das coisas. N�o � mais uma m�sica estomacal, que atinge o f�gado das pessoas. Hoje, eu fa�o m�sica pulmonar e card�aca", diz.

Apesar de ter nascido no isolamento que Lucas Vasconcellos escolheu para si mesmo, "Teoria da terra plena" foi constru�do a muitas m�os. Entre os colaboradores est�o Bruno Di Lullo, Emygdio Costa, Thomas Harres, Gabriel Barbosa, Felipe Duriez e Vinicius Nisi. O m�sico tamb�m destaca a import�ncia de Eveline Maria, sua produtora e respons�vel pela dire��o art�stica do trabalho.

Let�cia Novaes, a Letrux, com quem Lucas dividiu o duo Letuce entre 2008 e 2017, assina com ele a faixa "Falem", cuja letra versa sobre as fofocas que inundam as redes sociais – e das quais os dois j� foram v�timas.

Lucas explica que o t�tulo do �lbum � uma alus�o, sim, ao terraplanismo e a outras teorias conspiracionistas que ganharam for�a nos �ltimos anos. "� um pouco de humor em cima disso. A minha vida aqui na serra � cheia de natureza e beleza f�sica. Consigo conviver com a natureza de forma bonita. Fico decepcionado com a humanidade, que precisa inventar uma nova 'ci�ncia' para falar sobre o que j� � perfeito e funcional", afirma.

Segundo ele, a 'terra plena', em contraponto a 'plana', � "o lugar onde eu queria estar, fora desse mundo negacionista, de gente que odeia a ci�ncia e, consequentemente, a arte".

A capa do �lbum, assinada por Pedro Garcia, reproduz a foto que ilustra "All things must pass" (1970), de George Harrison. "Acho esse disco muito especial pelo jeito como foi composto e pela �poca em que foi feito e lan�ado", comenta Lucas.

"Tudo isso n�o � t�o importante quanto o fato de o meu psicanalista ter me dado esse disco de presente h� uns 20 anos", conta. "Ele me deu e disse: 'Cara, a� dentro tem coisas muito importantes que voc� precisa saber'. E eu achei isso o maior barato. Quando o Pedro [Garcia] veio aqui para a gente fazer a capa, ouvimos esse disco e ele disse: '� isso a�. Tem que ser assim. A �nica diferen�a � que os an�es v�o ser os seus cachorros'."

M�sico da cena independente carioca, Lucas Vasconcellos est� na lida desde 2000, quando fundou a banda Binario, extinta oito anos depois. Integrou o duo Letuce por quase uma d�cada e mant�m carreira solo desde 2014, ano em que lan�ou o �lbum "Falo de cora��o". Os discos "Adotar cachorros" (2015) e "Silenciosamente" (2016) tamb�m comp�em sua discografia.

Entre 2015 e 2018 ele dividiu o palco com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonf� na turn� em comemora��o aos 30 anos da Legi�o Urbana.

Em 2020, antes do in�cio da pandemia, "Teoria da terra plena" j� estava pronto para ser lan�ado. Naquela �poca, o adiamento foi feito na esperan�a de que 2021 traria o retorno dos shows presenciais. O artista considera "muito triste" n�o poder apresentar o disco ao vivo para o p�blico. Apesar disso, ele tem se agarrado � m�sica para sobreviver.

"Minha criatividade est� rolando do mesmo jeito e, se eu parar, vai ser pior para mim e para a minha sensa��o como m�sico. O grande amor da minha vida � a minha profiss�o. Se eu fico dando um tempo at� esse cretino resolver comprar a vacina para todo mundo, a minha vida acaba", afirma.

Ele observa que "estamos em um momento de completa incerteza. Uma das poucas certezas � que as m�sicas est�o a� para ser ouvidas e divulgadas. Isso n�o vai morrer. Se o v�rus deixasse todo mundo surdo, a coisa seria muito diferente. Mas n�o � isso. Se ainda existe m�sica, ouvido e cora��o, eu t� a� para entrar".

.Lucas Vasconcellos

.Independente

.Dispon�vel nas plataformas digitais