Tarsila � tema de produ��o internacional com estreia prevista para 2022
Vencedora do Oscar, a atriz francesa Marion Cotillard est� cotada para interpretar a pintora brasileira no longa que ser� dirigido por Daniela Thomas
01/05/2021 04:00
-
atualizado 30/04/2021 20:01
compartilhe
Inteligente e sofisticada, Tarsila do Amaral contestou os privil�gios da elite em que nasceu. Sua obra destaca as contradi��es do Brasil (foto: Moma/Cole��o Pedro Correa do Lago/divulga��o
)
Figura central do Modernismo brasileiro, a pintora paulista Tarsila do Amaral (1886-1973), autora de “Abaporu” (1928), a ic�nica tela que resume as propostas do movimento, ter� sua vida filmada pela cineasta Daniela Thomas em coprodu��o assinada pelo brasileiro Cl�udio Kahns, da Tatu Filmes, e o ingl�s Simon Egan, da Bedlam Productions, ganhador de um Oscar com “O discurso do rei”, dirigido por Tom Hooper e produzido por ele em 2011.
Apesar de Kahns e Egan terem produzido v�rios document�rios, o filme, ainda sem t�tulo definitivo, ser� uma obra ficcional e deve estar pronto em 2022, a tempo de comemorar o centen�rio da Semana de Arte Moderna.
Alguns nomes circulam entre os prov�veis int�rpretes dos protagonistas da hist�ria da pintora, a mais cara do Brasil – h� dois anos, o Museu de Arte Moderna de Nova York pagou US$ 20 milh�es por sua tela “A lua”, de 1928.
Tarsila pode ser interpretada pela francesa Marion Cotillard, vencedora do Oscar em 2008 por sua atua��o em “Piaf – Um hino ao amor”, de Olivier Dahan, no papel da cantora �dith Piaf (1915-1963). A atriz, ali�s, tem muito em comum com Tarsila: une a eleg�ncia das grandes grifes (usa Dior e Chanel) com a milit�ncia pol�tica (apoiou o cacique Raoni na luta contra a constru��o da usina de Belo Monte e ajuda o Greenpeace).
Vencedora do Oscar pelo papel de �dith Piaf, a francesa Marion Cotillard tem em comum com Tarsila o engajamento em causas sociais (foto: Europa Filmes/divulga��o)
BANCARROTA
Egan e Kahns n�o confirmaram o contrato, mas o ingl�s acha que a atriz seria escolha acertada. A liga��o de Tarsila com a cultura francesa foi intensa desde a inf�ncia, quando o pai fazendeiro contratou uma preceptora belga para lhe dar aulas – isso muito antes de a fam�lia ir � bancarrota.
Paris foi o ber�o da modernidade de Tarsila, aluna do pintor L�ger. Ela se vestia com o melhor estilista franc�s dos anos 1920, Paul Poiret (1879-1944), patrono das artes, de quem era amiga. Poiret costumava expor obras dos protegidos em seu ateli� de costura – era muito ligado a Brancusi, Matisse e Delaunay.
O segundo marido da pintora, Oswald de Andrade, mentor da Semana de 22 ao lado do escritor M�rio de Andrade, poder� ser vivido por Wagner Moura, se depender da vontade de Cl�udio Kahns. “O elenco ainda n�o est� fechado”, diz o produtor. Ele e o colega ingl�s Simon Egan pensam em atores com apelo popular.
Kahns n�o pretende que o filme sobre Tarsila seja herm�tico e vanguardista como “O homem do pau-brasil” (1982), de Joaquim Pedro de Andrade, abordagem intelectual e n�o linear da vida de Oswald de Andrade. Ali, Tarsila � reduzida a artista milion�ria em busca de aventura que partiu com o dramaturgo para Paris.
Simon Egan � casado com uma brasileira e tem duas filhas – uma delas, Lara, quebrou a estatueta do Oscar do pai. O produtor quer evitar estere�tipos, at� mesmo porque Tarsila, depois da fal�ncia dos pais e do casamento com Oswald, conheceu um m�dico comunista, o psiquiatra Os�rio C�sar, e se converteu ao realismo socialista.
“Tarsila era mulher sofisticada, elegante, muito al�m de seu tempo, genuinamente empenhada em encontrar na pintura elementos para traduzir suas contradi��es e retratar o Brasil”, afirma.
De fato, quando estava em Paris pintando “A caipirinha” (1923), arrematada num leil�o em dezembro por R$ 57,5 milh�es, ela escreveu aos pais comunicando a cria��o de uma pintura com reminisc�ncias de sua inf�ncia na fazenda. Em resumo: queria ser de novo a “caipirinha” da prov�ncia, n�o mais a socialite que desfilava Poiret.
"Queremos acentuar a liga��o de Tarsila com o pa�s, mostr�-la como pioneira
da revolu��o feminista no Brasil"
n Simon Egan, produtor
MATA VIRGEM
Vale lembrar que, em novembro de 1923, M�rio de Andrade pediu a Tarsila que voltasse ao Brasil: “Abandona o Gris (o pintor cubista espanhol Juan Gris) e o Lhote (Andr� Lhote, seu professor), empres�rios de criticismo decr�pito e estetas decadentistas, vem para a mata virgem, onde n�o h� arte negra”.
De acordo com Simon Egan, “� certo que, por aquela �poca, a arte negra n�o era mais mist�rio para Tarsila, pois cubistas como Picasso haviam redescoberto a arte africana primitiva”. Por�m, o produtor observa: “Isso n�o quer dizer que Tarsila tenha sido influenciada por eles para criar sua pintura antropof�gica, inspirada por Oswald.”
O produtor ingl�s afirma que a brasileira � exemplo de originalidade na arte latina. “Ela n�o pode ser comparada a nenhum outro artista latino, nem mesmo a Frida Kahlo, que tamb�m era politicamente engajada.”
O filme ser� rodado na Fran�a, informa Kahns. Por�m, como o roteiro vai privilegiar a rela��o de Tarsila com o n�cleo modernista – Oswald, M�rio de Andrade, Anita Malfatti e o poeta Menotti del Picchia –, a maior parte das filmagens ocorrer� no Brasil.
“Queremos acentuar a liga��o de Tarsila com o pa�s, mostr�-la como pioneira da revolu��o feminista no Brasil, mulher privilegiada que nasceu rica e decidiu se voltar contra as conven��es da sociedade tradicionalista e conservadora”, acentua Simon Egan.
A Inglaterra, reconhece o produtor, foi ber�o de muitas mulheres emancipadas, de Millicent Fawcett a Virginia Woolf, mas nenhuma compar�vel ao revolucion�rio apetite antropof�gico de Tarsila. “Ela criou o pr�prio movimento, n�o foi atr�s de ningu�m”, resume o produtor ingl�s.
OSCAR
Sem esconder a inten��o de agregar mais um Oscar � sua cole��o, Egan diz que o filme sobre Tarsila � dirigido especialmente ao p�blico estrangeiro. “Queremos contar a hist�ria, que pouca gente fora do Brasil conhece, sobre a pintora presente em grandes acervos”, diz, referindo-se ao MoMA, em Nova York, e a Hermitage, em S�o Petersburgo, na R�ssia, entre outros museus.
Simon Egan e Cla�dio Kahns investir�o US$ 5 milh�es no filme. Kahns diz que a parte brasileira da produ��o custar� US$ 3 milh�es. O longa ser� rodado no Brasil, na Fran�a e na B�lgica – ou Hungria, dependendo das negocia��es em Cannes. (Ag�ncia Estado)