
Em “Por entre janelas”, a pandemia � o cen�rio da trama vivida em Belo Horizonte por personagens de gera��es e classes sociais diferentes. O romance marca a estreia da estudante de ci�ncias da computa��o Clarisse Scofield, de 21 anos, na literatura. A jovem Ana e o idoso Osmar, protagonistas do livro, enfrentam solid�o, t�dio e problemas financeiros, em meio a desespero e desencanto.
Clarisse Scofield tentou – e n�o conseguiu – publicar seu livro em v�rias editoras. Depois de muitos n�os, a mineira aceitou a proposta da Chiado Books, de Portugal, conhecida por valorizar novos talentos.
REF�GIO Estudante da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Clarisse sempre gostou de literatura e ci�ncias exatas. Revela que uma foi o ref�gio da outra enquanto procurava conciliar est�gio, faculdade e a escrita de seu livro.
“Costumo brincar com os meninos da minha sala: meu cora��o � tanta poesia, ainda bem que coloquei as ci�ncias exatas na minha cabe�a. Sinto que as duas �reas se equilibram de alguma forma”, diz. “A criatividade necess�ria para solucionar um problema de programa��o � a mesma que a gente usa para escrever uma hist�ria”, garante.
Em “Por entre janelas”, a pandemia � o ponto em comum entre duas fam�lias radicalmente diferentes. Garota humilde, Ana terminou a escola, precisa trabalhar para ajudar os pais e consegue emprego na casa de Osmar. Aquele homem idoso vive solitariamente em sua enorme mans�o, na �rea nobre de Belo Horizonte. Filhas e neta est�o distantes, restando a Osmar o sil�ncio e as mem�rias do passado.
O ano � 2020, a quarentena surpreende ricos e pobres, obrigando todos a dividir ang�stias entre quatro paredes. A trama gira em torno do velho senhor e sua jovem empregada, mas n�o s� deles.
“� uma hist�ria que se passa na pandemia, mas esse n�o � o foco. O tempo inteiro, h� o contraponto entre as duas fam�lias. Em certo momento, ambas come�am a se questionar sobre o sentido da vida, da fam�lia e da amizade”, adianta a autora.
A falta de comunica��o e o distanciamento entre familiares, problemas acentuados pelo drama da COVID-19 nos �ltimos 14 meses, tamb�m marcam a trama de “Por entre janelas”. De um lado, jovens se questionam sobre o sentido de existir; de outro, adultos enfrentam desafios de uma exist�ncia que pode ter sido em v�o.
O encontro de duas gera��es – representadas pelo patr�o e a jovem empregada – se d� nas sutilezas do cotidiano. “Demorou para a menina entender o que ele apontava. Foi quando ela viu. Finalmente ela viu. Ela viu o que ele tanto apontava. E ficou olhando detalhe por detalhe daquele epis�dio que era, de fato, muito curioso. Ela sorriu. Passou alguns minutos observando, assim como Osmar, que passava os dias ali sem se cansar. Ent�o, ela quebrou o sil�ncio dizendo: “S�o muitas vidas, seu Osmar”. “Por entre janelas, Ana. Muitas vidas por entre janelas”, escreve Clarisse Scofield.
A autora acredita que o p�blico vai se identificar com os personagens e seus dramas. A proposta dela ao leitor � de que o romance sirva � reflex�o, n�o seja lido apenas como passatempo. “Quero que as pessoas se enxerguem n�o apenas na situa��o da pandemia ou dos conflitos familiares, mas tamb�m nas a��es de cada um dos personagens”, afirma

“POR ENTRE JANELAS”
De Clarisse Scofield
Romance
Editora Chiado
R$ 36
no site www.clarissescofield.com e
no Instagram (@clarissescofield).
“Contando com o pai e a m�e, eram sete. Duas meninas e tr�s meninos: Maria e Ana, EJorge, Felipe e Ant�nio. A casa era pequena: Os meninos apertados em um quarto as meninas no outro. Guarda-roupa n�o tinha, cada um guardava seus “trecos” em um saco de pano que a tia tinha costurado de presente.”
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“No fim, Osmar se perguntava que tipo de fam�lia ele e a mulher tinham criado. Encarou Giovana por alguns instantes, ela nem ao menos reparou, e Osmar s� conseguia ver, por tr�s do elegante vestido, a vida est�ril que levava a jovem.”
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“– Bem, como j� deve saber, eu n�o precisava d'oc� aqui, mas como minha filha � muito insistente, acho que n�o tive muita op��o. Perdoe-me se a ofendo, n�o � nada com a senhorita, n�o. � s� que estou bem sozinho, e tem a C�lia que trabalha aqui tamb�m, que c� ainda n�o conheceu.
A menina viu aqueles olhos fundos e negros de novo naquele senhor que a havia assustado outro dia, de voz grossa e pele vivida.
– Senhor, desculpa, mas pelo que entendi � bom que tenha companhia (...)”