Buscando retratar a multiplicidade de uma cultura pouco conhecida no Brasil, a 2ª Mostra de Cinema �rabe Feminino exibe uma sele��o de 40 filmes dirigidos por mulheres em pa�ses como Egito, L�bano, Palestina, Sud�o e Marrocos, entre outros.
A programa��o, gratuita, tem in�cio nesta quarta-feira (19/5) e se estende at� 27 de junho pr�ximo, incluindo mesas-redondas e debates com a presen�a de mais de 20 convidados internacionais, al�m de uma masterclass oferecida pela diretora palestina Larissa Sansour. A maioria das obras ficar� dispon�vel ao p�blico durante uma semana, no site www.cinemaarabefeminino.com.
A curadoria do evento – assinada pelas brasileiras Analu Bambirra e Carol Almeida e pela eg�pcia Alia Ayman – assistiu a mais de 80 filmes da cinematografia �rabe feminina para selecionar os t�tulos do ciclo. Contrapor o estere�tipo do mundo ar�be como ex�tico e distante, muitas vezes presente no olhar ocidental, foi um dos objetivos da curadoria.
“Existe essa ideia de que a mulher �rabe � submissa, s� sofre, e n�o tem direito nenhum. Esse festival mostra que, apenas em sua programa��o, existem mais de 40 mulheres (�rabes) que dirigem filmes. As mulheres (�rabes) podem e est�o fazendo filmes, trazendo a sua subjetividade e as suas hist�rias”, afirma Analu Bambirra, que � formada em cinema e audiovisual pelo Uni-BH.
Segundo ela, as obras dialogam com a cinematografia brasileira em tem�ticas sociais, pol�ticas e de ativismo feminino. “Ver ali a nossa realidade, coisas que fazem parte da gente, traz uma conex�o com outros pa�ses do Sul global, que passaram por processos similares de coloniza��o. Essa aproxima��o � algo muito importante para discutirmos nossas pr�prias viv�ncias”, diz.
"Existe essa ideia de que a mulher �rabe � submissa, s� sofre, e n�o tem direito nenhum. Esse festival mostra que, apenas em sua programa��o, existem mais de 40 mulheres (�rabes) que dirigem filmes. As mulheres (�rabes) podem e est�o fazendo filmes, trazendo a sua subjetividade e as suas hist�rias"
Analu Bambirra, curadora
IDENTIFICA��O
Analu Bambirra participou da curadoria da 1ª Mostra de Cinema �rabe Feminino, realizada de forma presencial no CCBB-RJ, em 2019, e notou a identifica��o do p�blico com os filmes. “As pessoas me procuravam depois das sess�es para comentar como os filmes conversavam com a realidade delas”, conta.
Entre os 40 filmes dispon�veis na segunda edi��o do evento, 27 s�o in�ditos no Brasil. � o caso de “Escrit�rio de espera” (2017), “Barb�s” (2019) e “Port�o de Ceuta” (2019), da diretora marroquina Randa Maroufi, que opera no limite entre o document�rio e a fic��o, segundo comenta Analu.
"O trabalho dela est� neste questionamento sobre at� onde vai o real e o ensaiado; se s�o pessoas reais ou atores (na tela)”, diz a curadora. O debate pr�-gravado com Randa Maroufi vai ao ar em 16 de junho pr�ximo, �s 13h.
Entre curtas, m�dias e longas-metragens de fic��o e document�rios, a programa��o da mostra apresenta um amplo panorama e algumas especificidades da cinematografia ar�be. “A gente percebeu que muitos desses filmes procuram uma forma de exist�ncia poss�vel e resist�ncia na vida. Pode ser com a esperan�a e uma utopia de um futuro ou de um presente melhor”, aponta a curadora mineira, ressaltando a diferen�a em rela��o ao cinema produzido em Hollywood (EUA).
“Nem todos os filmes seguem uma narrativa hollywoodiana com tr�s atos. A gente tentou abra�ar diversas formas de se fazerem filmes, muitas delas independentes, n�o dentro de uma ind�stria t�o grande quanto Hollywood. Tem filmes mais ensa�sticos, pol�ticos, po�ticos e tem tamb�m aqueles com uma fic��o mais cl�ssica, ent�o o p�blico pode esperar um pouco disso, mas n�o s�.”
A cineasta palestina Larissa Sansour, que se dedica ao g�nero da fic��o cient�fica, � um dos destaques da mostra. Analu diz que a diretora faz uso de elementos t�picos do g�nero para criticar pol�ticas e abordar quest�es relacionadas � sua terra natal. “� um pouco familiar e estranho para quem est� acostumado com Hollywood, por exemplo.”
Kubrick
Em “Um �xodo espacial" (2008), Larissa Sansour adapta um trecho de “2001: Uma odisseia no espa�o” (1968), de Stanley Kubrick, para o contexto pol�tico do Oriente M�dio. Esse e outros tr�s filmes da diretora ser�o exibidos: "In Vitro" (2019), "No futuro, eles comiam da melhor porcelana" (2015) e "Patrim�nio nacional" (2012).
A cineasta comanda a masterclass “Um futuro anterior” no pr�ximo dia 25, abordando as mudan�as de significados em contextos art�sticos da fic��o cient�fica e o enquadramento do discurso pol�tico nessa proposta.
Mulheres palestinas s�o o foco de dois filmes presentes na 2ª Mostra de Cinema �rabe Feminino. O document�rio “O protesto silencioso: Jerusal�m 1929”, de Mahasen Nasser Eldin, retrata um movimento pol�tico feminista no contexto da revolta de Buraq, enquanto “Mulheres palestinas”, da cineasta Jocelyne Saab, d� voz �s v�timas frequentemente esquecidas na guerra entre Israel e Palestina.
A mesa-redonda “Palestinidades: Corpo e territ�rio”, no pr�ximo dia 28, � outro destaque na programa��o. A inten��o � provocar, a partir de uma perspectiva hist�rica, uma reflex�o sobre a experi�ncia subjetiva do conflito no territ�rio palestino, tendo como foco o corpo feminino. Participam do debate as palestinas Mahasen Nasser Eldin (cineasta; “O protesto silencioso”), Riham Isaac (artista perform�tica e professora) e Dina Matar (professora e pesquisadora).
Na opini�o de Analu Bambirra, a escalada no conflito israelo-palestino, com os ataques � Faixa de Gaza nas �ltimas semanas, torna o debate ainda mais relevante. “� uma forma de ouvi-los (os palestinos), porque o que nos chega � principalmente o lado de Israel.”
Para completar a imers�o na cultura �rabe, a 2ª Mostra de Cinema �rabe Feminino preparou uma playlist no Spotify com a trilha sonora dos filmes que participam do festival (com exce��o daqueles com trilha original).
2ª Mostra de Cinema �rabe Feminino, do Centro Cultural Banco do Brasil
Desta quarta (19/5) a 27 de junho, no site www.cinemaarabefeminino.com. Acesso gratuito. Playlist:
https://cutt.ly/qbM3lLC
*Estagi�rio sob supervis�o da editora Silvana Arantes