Sebasti�o Salgado faz um apelo ao mundo em 'Amaz�nia', sua nova exposi��o
Por sete anos, o fot�grafo mineiro registrou a floresta, os ind�genas e os biomas da regi�o. Com suas 200 imagens, ele luta para frear o desmatamento
Rio Ja�, no Amazonas (foto: Fotos: Sebasti�o Salgado/philharmoniedeparis.fr/reprodu��o)
"A Amaz�nia � a pr�-hist�ria da humanidade, o para�so na Terra"
Celebrar o que ainda resta para conseguir proteg�-lo. � com essa inten��o que o fot�grafo brasileiro Sebasti�o Salgado apresenta, em Paris, a mostra “Amaz�nia”, fruto de sua viagem de sete anos pelas entranhas da maior floresta tropical do mundo.
Aberta desde quinta-feira (20/5) na Filarm�nica de Paris, a mostra nasceu com voca��o internacional. Vai viajar para Londres, Roma, S�o Paulo e Rio de Janeiro, entre outras cidades, da mesma forma que seu grande trabalho anterior, “G�nesis”, deu a volta ao mundo para mostrar os lugares mais bonitos e remotos do planeta.
Arquip�lago fluvial de Mariu�, no Rio Negro, Amazonas
PANDEMIA
“Amaz�nia” �, sem d�vida, o trabalho mais pessoal e reivindicativo do mineiro de 77 anos, fot�grafo reconhecido mundialmente. Inicialmente, ele tinha a inten��o de convidar para a inaugura��o lideran�as ind�genas com o objetivo de fazer ouvir essas vozes contra a destrui��o de seu h�bitat e das consequ�ncias disso para o planeta. Salgado espera faz�-lo assim que a pandemia permitir.
Entrar na exposi��o � empurrar uma porta para a floresta tropical, ingressando numa jornada de fotografias em preto e branco que caminham na penumbra, como uma expedi��o na selva.
A viagem � acompanhada pela trilha, composta especialmente para a mostra pelo franc�s Jean-Michel Jarre, um dos pioneiros da m�sica eletr�nica.
Desde as primeiras vistas a�reas, acompanhando o Ex�rcito em miss�es na Amaz�nia brasileira, Salgado transforma a natureza exuberante em arte cuja for�a reside numa est�tica imaculada.
O fot�grafo lembra que o ecossistema, que ocupa quase um ter�o do continente sul-americano e engloba nove pa�ses, principalmente o Brasil, � a soma de elementos.
A come�ar pela �gua, com o Amazonas e seus afluentes, que serpenteiam por milhares de quil�metros, os verdadeiros “rios voadores” – enormes torrentes de vapor que se formam sobre a floresta –, e as chuvas torrenciais, que parecem capazes de encharcar o observador das fotografias do brasileiro.
“A Amaz�nia � a pr�-hist�ria da humanidade, o para�so na Terra”, afirmou Salgado ao apresentar � imprensa a exposi��o com a qual pretende “despertar consci�ncias”.
Depois do exuberante, chega-se ao cora��o da selva: Salgado mostra os 10 grupos ind�genas com os quais conviveu durante sua jornada de sete anos, al�m de outras viagens pontuais, a �ltima em fevereiro de 2021.
Ind�genas ianom�mis, marubos, iauanau�s – o fot�grafo os convida para seu “estudo” entre as �rvores: um len�ol branco pendurado ao fundo e um pl�stico no ch�o pronto para ser enrolado ap�s a irrup��o da chuva. Alguns se vestem para a ocasi�o, pintando o corpo e usando cocar de penas.
Salgado espera que eles tomem a iniciativa, da mesma forma que s� chegou a essas comunidades depois de obter sua autoriza��o e no dia que determinaram, gra�as � media��o da Funda��o Nacional do �ndio (Funai).
Ind�genas da etnia Ashaninka, no Acre
M�SICA
As 200 fotografias da exposi��o, imaginada e montada pela mulher do fot�grafo, L�lia Wanick Salgado, s�o acompanhadas pela m�sica de Jarre, que tamb�m fez uso dos arquivos sonoros da Amaz�nia guardados no Museu de Etnografia de Genebra.
“Nem Salgado nem eu quer�amos m�sica ambiente ou exclusivamente �tnica. A floresta � muito barulhenta, tem sons independentes, n�o � como uma orquestra”, explica o compositor. Ainda assim, “� harmoniosa para o ouvido humano”, observa.
“A exposi��o poderia ter sido fruto de um documentarista, mas � obra de um artista. Salgado nos convida a um passeio m�stico, � disso que precisamos agora que come�amos a sair dessa pandemia”, conclui Jarre. (AFP)
Entrevista
SEBASTI�O SALGADO FOT�GRAFO
"Queremos que as pessoas que forem ver a exposi��o tomem ci�ncia do que � a Amaz�nia. N�o � s� uma grande plan�cie com grandes rios no centro"
Aos 77 anos, Sebasti�o Salgado poderia dar a impress�o de fragilidade por tr�s da m�scara. Mas quando toma a palavra, o lend�rio fot�grafo demonstra vitalidade louv�vel, seja para defender a Amaz�nia ou para criticar aqueles que acusa de destru�-la.
“Todos temos que lutar” e “ajudar os movimentos de resist�ncia brasileiros” a frear o desmatamento, afirma, denunciando o governo Jair Bolsonaro por tentar “se apropriar dos territ�rios ind�genas e dos parques nacionais” para desenvolver novas extens�es agr�colas. Ele avisa: sua luta por meio da fotografia est� longe de acabar.
“Juntos conseguiremos frear a destrui��o”
Qual � o objetivo de “Amaz�nia”, a sua nova exposi��o?
Queremos que as pessoas que forem ver a exposi��o tomem ci�ncia do que � a Amaz�nia. N�o � s� uma grande plan�cie com grandes rios no centro. Tamb�m � a montanha, um sistema de �gua, os 'rios voadores', que chegam a quase todas as regi�es do mundo, e as comunidades ind�genas. Portanto, � uma tentativa de apresentar a Amaz�nia.
A exposi��o, em cartaz em Paris, tamb�m chama a aten��o para as amea�as que pesam sobre esse ecossistema, come�ando pelo desmatamento.
A grande esperan�a � que juntos conseguiremos frear a destrui��o dos biomas amaz�nicos, que conseguiremos proteg�-los, e proteger tamb�m as comunidades ind�genas. N�o s� para preserv�-los, mas porque precisamos deles para o planeta. A Amaz�nia garante uma grande distribui��o de umidade no planeta (...), al�m de sequestrar o carbono gra�as a esses milh�es de �rvores que se ocupam de transform�-lo e liberar o oxig�nio que respiramos.
Na recente c�pula sobre o clima, o presidente Jair Bolsonaro se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal no Brasil em 2030, depois do dr�stico aumento observado desde sua chegada ao poder, em janeiro de 2019. O senhor acredita que isso � poss�vel?
O governo de Bolsonaro conta uma mentira atr�s da outra. D� a impress�o de que resolve os problemas, mas mente para continuar destruindo. Depois de fazer essa declara��o no grande encontro organizado pelo presidente dos Estados Unidos (Joe Biden), no mesmo m�s houve a maior destrui��o da floresta amaz�nica, pouco depois da sua promessa: 580,55 quil�metros quadrados foram desmatados na Amaz�nia brasileira em abril, n�vel recorde para esse m�s, segundo dados oficiais.
