
Quem ouvir “Pelesp�rito”, �lbum de Z�lia Duncan que acaba de chegar �s plataformas digitais, seguindo a ordem de m�sicas proposta pela autora – algo mais raro de ocorrer atualmente, pois o ouvinte agora percorre caminhos sinuosos e n�o em linha reta –, vai perceber que h� nele um roteiro idealizado pela cantora e compositora fluminense.
Esse itiner�rio, pensado e escrito em parceria com o poeta e m�sico pernambucano Juliano Holanda, tem a ver com o que Z�lia queria expressar, mesmo que de maneira natural – ela se diz avessa � ideia de uma mensagem preestabelecida –, em um disco totalmente de m�sicas in�ditas feito durante a pandemia, um dos per�odos mais sombrios para a humanidade, e em especial para o Brasil.
CURA Como a faixa que abre o �lbum e o batiza indica, h� a preocupa��o em entender o que se sente, por�m sem esquecer daquilo que o outro possa estar vivendo. � se curar para ajudar o pr�ximo. Por fim, buscar uma sa�da como mostra a faixa “Vai melhorar”, que n�o por acaso encerra o disco e suaviza certo ar de tristeza que ele traz.
Ouvi-lo na ordem revela as fases comuns a todos nesta quarentena que parece n�o ter fim: o se sentir estranho (“Pelesp�rito”), mirar os olhos para o belo quando se precisa ver o mundo da janela (“Eu moro l�”), encarar “300 asnos” (“Nas horas cruas”), amar simplesmente (“Nossas coisinhas”), encontrar a alegria dentro da tristeza (“Raio de n�on”) e buscar sa�das (“Onde � que isso vai dar?”).
Uma can��o forte desse novo disco � “Voc� rainha”, que aborda a viol�ncia contra a mulher.
“Dedico-a �s mulheres que ficaram em casa com seus algozes ou foram v�timas de feminic�dio, uma das doen�as do Brasil”, diz a cantora e compositora. “N�s, mulheres, conhecemos as assediadas. Somos as que sofrem essa viol�ncia, sou essas mulheres. Todas n�s somos essas mulheres.”
De acordo com Z�lia, sua letra prop�e uma virada. “Quando a mulher se sente um animal, uma f�mea que se protege e protege suas crias, ela se torna a rainha de sua vida.”
Uma surpresa � “Tudo por nada”, que remete ao sertanejo, algo que ela ainda n�o tinha explorado. “Nela h� um pouco do sert�o nordestino e da m�sica pantaneira. � a brasilidade que tamb�m aparece em 'Eu moro l�', que � mais samba-reggae, com o viol�o que o Webster Santos, baiano danado, tocou”, comenta.
FOLK A pegada folk continua. Em 1994, quando chamou a aten��o do pa�s com a m�sica “Catedral”, sempre lhe perguntavam sobre seu estilo. “Inventei que era pop folk brasileiro. Nisso tem o viol�o de a�o, uma afinidade com o meu primeiro parceiro, o Christiaan Oyens, e tamb�m agora com o Juliano. A espinha desse disco sou eu e meu viol�o. Foi muito natural que os arranjos ficassem com a levada que muito me caracteriza”, observa.
“Pelesp�rito” chega no momento em que Z�lia crava 40 anos de carreira – considerando-se apenas a fonogr�fica, s�o tr�s d�cadas desde o lan�amento de “Outra luz”, quando assinava com o nome de Z�lia Cristina.
“Tenho muito orgulho de comemorar com um �lbum de m�sicas in�ditas. Isso n�o � f�cil. Em um mundo no qual todos querem tudo mastigado, � importante manter esse frescor”, diz Z�lia, que j� soma 15 �lbuns lan�ados.
Outra data importante s�o os 20 anos do �lbum “Sortimento”, o que tem “Alma”, um de seus grandes sucessos. O lan�amento atual e o que faz anivers�rio est�o previstos para sair em vinil, em breve. (Estad�o Conte�do)

“PELESP�RITO”
De Z�lia Duncan
Duncan Discos/Universal Music
15 faixas
Dispon�vel nas
plataformas digitais