
Uma pintura de Volpi comercializada por R$ 1 milh�o; uma tela de Di Cavalcanti vendida por R$ 550 mil. Compradores estrangeiros da Turquia, �ndia, Austr�lia, Estados Unidos. Apesar da crise mundial acarretada pela pandemia do novo coronav�rus, o mercado de arte segue em frente, com percal�os, como tudo, mas tamb�m se readequando �s demandas do momento.
Maior feira do g�nero no pa�s, a SP-Arte d� in�cio, nesta quarta-feira (9/6), � sua terceira experi�ncia virtual nestes 15 meses de crise sanit�ria. At� domingo (13/6), 115 expositores – galerias de arte e design brasileiras e estrangeiras – participam da chamada SP-Arte Viewing Room, vers�o on-line da feira.
Tamb�m ao longo desta semana, mas somente na cidade de S�o Paulo, galerias abrir�o suas portas para visitas presenciais com artistas e curadores, com agendamento pr�vio e p�blico restrito.
''A verdade � a seguinte: quem tem dinheiro resolveu gastar em casa. E a queda dos juros ajudou o mercado. Hoje, � melhor ter dinheiro investido em obra de arte do que em aplica��o que rende 5% ao ano''
Rodrigo Ratton, galerista

OTIMISMO
A expectativa, neste momento, � que a SP-Arte volte ao formato convencional no segundo semestre – em 2020, a feira presencial n�o ocorreu. J� adiada duas vezes, o per�odo que est� sendo previsto agora para a 17ª edi��o � de 18 a 22 de agosto. Mas n�o no Pavilh�o da Bienal, tradicional sede do evento, e sim na Arca, um galp�o na Vila Leopoldina, na capital paulista.“Estamos monitorando constantemente o calend�rio de vacina��o no pa�s. Cogitamos novos adiamentos, mas estamos trabalhando com otimismo e com a possibilidade do evento f�sico no segundo semestre, desde que seja uma data segura para todos”, afirma Fernanda Feitosa, diretora e fundadora da SP-Arte.
O modelo que est� sendo apresentado nesta semana nasceu em agosto de 2020, quando ocorreu o primeiro Viewing Room. Em novembro, houve outro, menor, dedicado exclusivamente � fotografia.
“Tivemos na primeira edi��o 100 mil visitantes �nicos, que, somados aos visitantes da feira de fotografia, chegaram a 150 mil. Evidentemente, seria imposs�vel levar 100 mil pessoas para o Pavilh�o da Bienal (em cinco dias de feira). Ou seja, o digital nos permitiu um salto enorme no alcance da divulga��o. E trouxe pessoas do mercado internacional que, at� ent�o, n�o passava de poucos estrangeiros”, comenta Fernanda. De acordo com ela, a porcentagem de 4% de compradores estrangeiros cresceu para 15% no formato virtual.
Obrigat�rio durante a crise sanit�ria, o formato digital permanecer� no cen�rio p�s-pandemia – a feira ter� um modelo h�brido. “O mercado de arte era um setor que estava atrasado, n�o usava as ferramentas digitais como a moda e a gastronomia. Ainda est�vamos vinculados ao modelo tradicional, j� que � natural vivenciar a arte atrav�s do contato pessoal, em museus, feiras e galerias. Isso nunca vai acabar. Mas houve um grande aprendizado. As galerias aprenderam a trabalhar com outras ferramentas, redes sociais, numa linguagem mais simples e direta.”
De acordo com Fernanda, c�digos j� utilizados por determinados mercados foram incorporados ao meio da arte. “Convidamos as galerias a colocar os pre�os das obras, o que sempre foi uma barreira e era algo praticado em outros segmentos.” Segundo ela, 50% dos trabalhos vendidos custam at� R$ 20 mil, “uma faixa acess�vel, que corresponde ao artista que est� entrando no mercado”.
Agora, com as vendas grandes, como os de Volpi e Di Cavalcanti j� citados, a internet, diz Fernanda, “provou que o digital n�o � s� para artistas desconhecidos ou jovens, � tamb�m vi�vel para nomes cl�ssicos”.
''O mercado de arte era um setor que estava atrasado, n�o usava as ferramentas digitais como a moda e a gastronomia. Ainda est�vamos vinculados ao modelo tradicional, j� que � natural vivenciar a arte atrav�s do contato pessoal, em museus, feiras e galerias. Isso nunca vai acabar. Mas houve um grande aprendizado. As galerias aprenderam a trabalhar com outras ferramentas, redes sociais, numa linguagem mais simples e direta''
Fernanda Feitosa, diretora da SP-Arte

MINEIROS
Cinco galerias de Belo Horizonte participam desta edi��o da SP-Arte Viewing Room: Alva, AM, Murilo Castro, Rodrigo Ratton e Sandra & M�rcio. Cada participante da feira tem o direito de apresentar at� 20 trabalhos.Em nova sede – desde mar�o deixou a Savassi e mudou-se para o Santa L�cia, que est� se tornando um polo de arte e decora��o –, Murilo Castro vai apresentar um n�cleo de obras que leva o nome de “Mapas”. S�o trabalhos de seis artistas que tratam de quest�es territoriais.
De Anna Bella Geiger ser� apresentada a s�rie “Equa��es vari�veis” (1978), que “tenta resolver os problemas do mundo adicionando, subtraindo e dividindo continentes e pa�ses”, diz o galerista.
J� as obras de Camille Kachani, Christus N�brega, Marcos Coelho Benjamim e James Kudo tratam de quest�es como fronteiras, imigra��o, pol�tica, poder e fam�lia. Murilo Castro, que participa da SP-Arte desde a sua cria��o, em 2004, afirma que se surpreendeu com o resultado da primeira edi��o on-line da feira.
“A modalidade on-line mostrou-se efetiva, trazendo novos clientes e rela��es para a galeria. E h� a quest�o geracional. A gera��o mais nova � on-line, busca um volume de informa��es completo no digital. Agora, uma coisa n�o substitui a outra”, diz o galerista. O com�rcio de arte, nos primeiros meses da pandemia, foi “um verdadeiro horror”.
“A partir de agosto, setembro, as vendas cresceram concretamente. E este semestre tem se mostrado muito bom, as coisas est�o normais. Inclusive, o pre�o de alguns artistas, que v�o ficando mais raros, subiu.” Na opini�o de Castro, o bom momento � decorrente n�o s� da explora��o do meio digital. “O aumento das reformas nas casas alavancou o mercado de arte como um todo.”
Atuando no mercado de arte h� 35 anos, mas h� tr�s com a galeria que leva seu nome, na Savassi, Rodrigo Ratton s� participou, at� agora, da SP-Arte digital de 2020. “Para mim foi �timo, pois participei s� por participar e tive boas vendas, mais do que esperava. Al�m disso, fiz muitos contatos”, diz ele. Todos fora de Belo Horizonte. “O mercado � bom no Rio e em S�o Paulo.”
Ratton observa que o mercado que menos sofreu foi o de obras mais caras – o que significa trabalhos comercializados a partir de R$ 100 mil. “A verdade � a seguinte: quem tem dinheiro resolveu gastar em casa. E a queda dos juros ajudou o mercado. Hoje, � melhor ter dinheiro investido em obra de arte do que em aplica��o que rende 5% ao ano.”
No evento virtual, ele vai apresentar obras de Lorenzato, sua especialidade, de artistas populares, como Maria Lira Marques (Vale do Jequitinhonha), Jos� Bezerra (Vale do Catimbau), al�m de nomes da arte contempor�nea de Belo Horizonte, como Froiid e Desali.
SP-ARTE VIEWING ROOM
Desta quarta (9/6) a domingo (13/6) no www.sp-arte.com